Disco: “Boundaries” de Manuel Linhares

Manuel Linhares
“Boundaries”
(Edição de autor, 2019)

No universo do jazz internacional, e consequentemente também no jazz português, são inúmeras as vozes femininas, mas o número de cantores homens é diminuto. Em Portugal Kiko Pereira foi uma das honrosas excepções, antes de surgir o fenómeno Salvador Sobral. E agora Manuel Linhares vem reclamar o seu lugar, como uma nova voz masculina do jazz português.

Manuel Linhares nasceu na Horta em 1983 e vive no Porto desde muito novo. Começou os estudos musicais na Escola de Jazz do Porto, concluiu a licenciatura em Canto Jazz na ESMAE e estudou no Taller de Músics em Barcelona e no Jazz Institute of Berlin. Entre outros, Linhares estudou com Rebecca Martin, Becca Stevens e Gretchen Parlato e participou em workshops de Bobby McFerrin e Meredith Monk. Entre vários projectos e colaborações, destaca-se a sua participação no festival Angrajazz, integrando a Orquestra Angrajazz dirigida por Claus Nymark e Pedro Moreira.

Em Setembro de 2013 Manuel Linhares apresentou o seu primeiro álbum de originais, “Traces of Cities”. Nesse disco afirmava-se desde logo a vontade de deixar uma marca autoral, sendo a totalidade das composições da sua autoria, com letras em português e inglês. Nesse disco inaugural Linhares contou com o apoio de Xosé Miguelez (saxofone), Paulo Barros (piano), José Carlos Barbosa, (contrabaixo) e Filipe Monteiro na bateria), além do convidado Rui Teixeira (saxofone).

Agora chega o segundo álbum, “Boundaries”, e Linhares mantém o mesmo registo. Volta a confirmar-se a marca autoral e todas as composições são, novamente, da sua autoria, novamente cantadas em inglês e português. Neste disco a voz de Manuel Linhares tem novamente a companhia de Paulo Barros no piano e José Carlos Barbosa no contrabaixo e muda o baterista, que neste disco é João Cunha.

A música apresentada em “Boundaries” é um jazz de natureza clássica, próximo da pop. A voz exibe qualidade técnica e segurança, secundada pelo apoio instrumental irrepreensível. Linhares usa sobretudo o canto tradicional, mas serve-se também do canto sem palavras, com contenção. Há temas apelativos, como “Whatever we call home” ou “Empty tears”, que convidam a audições repetidas. Com este novo disco, Manuel Linhares apresenta argumentos sólidos para reclamar um lugar ao sol no panorama jazz português.