Entrevista: João Mortágua

[Fotografia: Márcia Lessa]

Natural de Estarreja, João Mortágua conseguiu afirmar-se como um dos mais notáveis saxofonistas da cena jazz nacional. Músico ligado à Porta-Jazz, teve a sua estreia discográfica com “Janela”, em 2014. Desde então vem explorando o jazz de diferentes perspectivas: editou em 2017 dois discos, “Mirrors” e “Axes”, e apresentou recentemente o seu projecto a solo, “Holi”. Na qualidade de “sideman” colabora com músicos como Carlos Bica, André Fernandes e Bruno Pernadas, entre outros. Em 2017 recebeu a distinção de “Músico do Ano” nos Prémios RTP / Festa do Jazz, mas promete não ficar por aqui.

Como começaste a tocar? Como chegaste ao saxofone?
Em Estarreja havia uma escola de música na Casa do Pessoal da CIRES, que foi a minha porta de entrada na música, quando tinha 7 anos. O meu professor tinha uma orquestra numa freguesia limítrofe, a Orquestra do Clube Cultural e Desportivo de Veiros, e foi aí que iniciei a prática colectiva. Ao mesmo tempo estava também a aprender piano e o primeiro instrumento em que ingressei no conservatório foi precisamente o piano, aos 9 anos de idade. No ano seguinte, foi o saxofone. Depois fiz um exame de acumulação e consegui levar os dois em paralelo, sendo que o piano foi até ao quinto grau e o saxofone até ao oitavo, até ao final. Isto foi tudo no Conservatório de Aveiro, entre os 9 e os 17 anos: foi lá que tive os meus estudos, foi lá que comecei a ter os primeiros contactos com o jazz. Tinha um professor super-aberto, João Figueiredo, que tinha estudado em Amesterdão e havia sido aluno de uma figura mítica de Estarreja que teve uma morte trágica, o saxofonista Fernando Valente. O João mostrava-me discos de jazz, sobretudo a partir dos meus 14 anos, altura em que percebeu que eu estava realmente interessado em jazz. Sempre me abriu as portas, de certa forma deu-me as minhas primeiras aulas de jazz.

Consegues identificar alguns momentos mais importantes nessa aprendizagem?
Aos 15 anos comecei a tocar, num bar na praia da Torreira e, “sem saber ler nem escrever”, ia experimentar os “standards”… Momento importante foi um “workshop” com a Orquestra Juvenil do Centro, conduzido por Paulo Perfeito. Aos 17 tive aulas privadas com Pedro Barreiros, e essa foi a minha preparação para o que se seguiria. Vim para Lisboa a fim de estudar Ciências da Comunicação e fui também para a escola do Hot. Esse foi o ano mais inspirador, porque tive aulas com Jorge Reis. Foi nessa altura que passei o primeiro recibo verde, que tive o primeiro “gig” pago, com um quinteto de saxofones no Hot Clube. Fiz um semestre do curso de Comunicação na Nova e estava no Hot ao mesmo tempo; foi aí que percebi que ia ser músico. E depois fui parar à ESMAE, para fazer a licenciatura de jazz, que na altura era a única. Na ESMAE, o professor que mais me marcou foi Nuno Ferreira.

Que outras experiências foram importantes para a tua formação?
Estive dois verões no Siena Jazz, em Itália. Fui na edição de 2010 e depois deram-me uma bolsa para ir também no ano seguinte. Foi aí que estive com os gajos que mais me marcaram, George Garzone, Miguel Zenón, Avishai Cohen… Mais recentemente, fui a um “workshop” de Jorge Rossy, no Begues Jazz Camp, na zona de Girona. E também houve os “workshops” do Guimarães Jazz, onde estive com John Ellis, Marcus Strickland, Orrin Evans, entre outros.

Entrevista completa no site Jazz.pt:
jazz.pt/entrevista/2018/06/23/ritmo-e-contraponto