Com um percurso único, Sei Miguel é um dos mais originais músicos da cena nacional e O Carro de Fogo de Sei Miguel será a sua empreitada musical mais ambiciosa. Ao palco da Galeria ZDB, no dia 27 de janeiro, Sei Miguel levou a formação consolidada do Carro de Fogo, a mesma que gravou o disco homónimo (edição Clean Feed, 2019).
Eurico Costa Trio COPAL (Carimbo Porta-Jazz, 2021)
O Carimbo Porta-Jazz teve em 2021 mais um ano riquíssimo em edições, com destaque para os discos de Susana Santos Silva, Coreto, Miguel Ângelo e Vessel Trio. Fechando o pacote de discos de ’21, editado já a meio de dezembro, chega-nos este “COPAL”, gravado por um trio liderado pelo guitarrista Eurico Costa. (…)
Com a saída do Rui Eduardo Paes como editor da Jazz.pt, fui convidado pela direção do JACC a assumir a coordenação editorial do projeto, em parceria com o António Branco e o Gonçalo Falcão. Agradeço o apoio do Rui, ao longo de todos estes anos de trabalho, e aproveito para enviar votos de sucesso para os seus próximos projetos. Esta mudança vai, naturalmente, implicar mudanças na dinâmica e regularidade deste site. Convido, a quem ainda não o faça, a seguir a jazz.pt:
O norte-americano LeRoi Jones (1934-2014) foi um importante crítico de música, poeta, dramaturgo e activista político; em 1965, após o assassinato de Malcom X, mudou de nome para Amiri Baraka. Crítico atento ao novo jazz que emergia nos EUA, acompanhou de perto o nascimento e crescimento do free jazz e foi também performer em declamação/spoken word, tendo gravado e atuado ao vivo com músicos da cena free – a sua colaboração no disco de estreia do New York Art Quartet, a declamar o poema “Black Dada Nihilismus”, é histórica.
O livro Black Music, editado originalmente em 1967, reúne um conjunto de textos (ensaios, críticas, reportagens) que documentava a música jazz daquele momento, um jazz vivo que crescia nos clubes e que tinha exposição em discos que, com o passar dos anos, se tornaram históricos. Com textos publicados originalmente entre 1959 e 1967, o livro faz um retrato cristalizado de uma época em que a música florescia e era possível assistir ao seu crescimento.
Baraka assiste e documenta a evolução e afirmação de músicos como Wayne Shorter, Thelonious Monk, Ornette Coleman, Don Cherry, Cecil Taylor, Archie Shepp, Dennis Charles, Albert Ayler, Sun Ra, Bobby Bradford e Sunny Murray. E, particularmente, John Coltrane, que para além dos próprios textos sobre a sua música, está sempre presente, como estrela maior do firmamento – até a dedicatória vai para Trane: “A John Coltrane, o espírito mais pesado”. Essa música tornou-se cânone e, hoje em dia, ao lermos estes ensaios sentimos que estamos a fazer uma viagem no tempo.
Esta primeira edição portuguesa, Música Negra, pela Orfeu Negro, tem tradução de João Berhan, conta com um prefácio da autoria de Kalaf Epalanga e ilustrações de Francisco Vidal. O livro é complementado com uma seleção de discos relevantes do free jazz daquela altura – “Uma breve discografia da nova música” – e uma entrevista a Amiri Baraka, de 2009, onde fala sobre alguns destes ensaios. Mais de cinquenta anos depois, esta música não é “nova”, mas continua fascinante e preciosa. Este livro, que só peca por chegar tarde, é uma obra fundamental para os amantes de jazz.
Compositor e improvisador, José Valente tem desenvolvido o seu trabalho à volta da viola d’arco. No seu mais recente projeto, Trégua, Valente encetou uma colaboração inédita, em parceria com uma orquestra filarmónica. Numa pequena entrevista, José Valente apresenta este trabalho.
Fui convidado a participar na votação anual do site El Intruso, que reúne as escolhas de críticos de jazz e música improvisada de diversos países. Destaque-se a presença de diversos músicos portugueses, especialmente Pedro Melo Alves’ Omniae Large Ensemble (Grupo revelação) e Sara Serpa (Voz Feminina), vencedores das suas categorias.
Participaram na votação: Karl Ackermann, Paul Acquaro, David R. Adler, Esteban Arizpe Castañeda, Hrayr Attarian, Roberto Barahona, Franpi Barriaux, Enrico Bettinello, Henning Bolte, Mike Borella, Antonio Branco, Stuart Broomer, Bill Brownlee, Pete Butchers, Luca Canini, Nuno Catarino, Troy Collins, Nazim Comunale, James Cook, Mark Corroto, Francis Davis, Raul da Gama, Aldo Del Noce, Jos Demol, Zlatan Dimitrijevic, Laurence Donohue-Greene, Nicolas Dourlhès, Alain Drouot, Pierre Dulieu, John Eyles, Phil Freeman, Filipe Freitas, Vitalijus Gailius, Stef Gijssels, Kurt Gottschalk, Ludovico Granvassu, George Grella, Alberto Gutiérrez, James Hale, Eyal Hareuveni, Andrey Henkin, Tom Hull, Will Layman, Kevin Lynch, Howard Mandel, Hiroyuki Masuko, Giuseppe Mavilla, Dan McClenaghan, Paul Medrano, Ralph A. Miriello, M. Christopher Monsen, Marcelo Morales, Michael G. Nastos, Nicola Negri, Tim Niland, Ysi Ortega, Marco Paolucci, Sergio Piccirilli, John Pietaro, Enrico Romero, John Sharpe, Sergio Spampinato, Sammy Stein, Mark Sullivan, Pedro Tavares, Abraham Vázquez, Fabricio Vieira, Begoña Villalobos, Luca Vitali, Ken Waxman, Jerome Wilson.
Aqui estão os resultados:
Músico do ano: Wadada Leo Smith Músico revelação: Linda Fredriksson Grupo do ano: Irreversible Entanglements Grupo revelação: Pedro Melo Alves Omniae Large Ensemble Álbum do ano: 12 Comp (ZIM) 2017 de Anthony Braxton (Firehouse 12)
Votações completas e listas individuais: elintruso.com
Vera Morais & Hristo Goleminov (Fotografia: Mínima)
A Associação Porta-Jazz acaba de anunciar a edição 2022 do seu festival. O festival portuense vai voltar a ter como palco central o Teatro Rivoli, realizando-se nos dias 4, 5 e 6 de fevereiro. O 12.º Festival Porta-Jazz vai contar com atuações de Coreto, Manuel Linhares (a apresentar Suspenso), Vera Morais & Hristo Goleminov, Ensemble Robalo Porta-Jazz, Joana Raquel & Miguel Meirinhos (a apresentar Ninhos), Puzzle 3, Demian Cabaud, Hugo Raro, Wiz, Daniel Sousa (encomenda do festival), Miguel Ângelo, Alfred Vogel e António Loureiro (com Conexão). O festival vai ainda contar com jam sessions.
A editora Robalo continua a programar o seu ciclo de jazz no Penha sco, em Lisboa, durante o mês de janeiro. No dia 12 actua o quarteto Magma (Zé Cruz na guitarra, Gonçalo Marques no trompete, André Rosinha no contrabaixo e João Pereira na bateria); o pianista Tiago Sousa tocano dia 19 (solo de piano); e a dupla Mariana Dionísio (voz) e Clara Saleiro (flautas) apresenta-se ao vivo no dia 26. O Penha sco fica situado na Rua Neves Ferreira, na Penha de França, em Lisboa; os concertos do ciclo Robalo acontecem sempre às quartas, às 19h30.
Beatriz Pessoa e Pedro Branco (Fotografia: Maria Bicker)
A programação de música vai continuar em força durante o mês de janeiro na Galeria ZDB. No dia 13 a violinista Maria da Rocha apresenta-se a solo, apresentando o trabalho nolastingname, disco editado pela Holuzam no final de 2021 (recordemos esta entrevista à Jazz.pt em 2018); com primeira parte de Funcionário. O baterista, compositor e improvisador Pedro Melo Alves vai levar à ZDB o ciclo Conundrum, onde se lança em duo com músicos com quem nunca tenha actuado antes: o primeiro encontro acontece a 14 de janeiro, com o acordeonista João Barradas (seguem-se Rafael Toral a 4 de março e Carlos Barretto a 6 de maio). No dia 20 o guitarrista Noberto Lobo apresenta-se a solo; O Carro de Fogo de Sei Miguel atua no dia 27; e a dupla TRIZ, de Beatriz Pessoa (voz) e Pedro Branco (guitarra), estreia-se ao vivo no dia 28. Estes são só alguns destaques do programa da ZDB.
Há quinze/vinte anos, a produção discográfica nacional, nos campos do jazz e da música improvisada, totalizaria uns 20/30 discos por ano. Hoje em dia os processos de gravação e edição estão mais democratizados. Nos últimos anos os músicos portugueses têm trabalhado de forma incansável, desenvolvendo múltiplos projetos, explorando diferentes estéticas, trabalhando em diversas direções; os nomes consagrados continuam a mostrar trabalho, as novas gerações apresentam-se em busca do seu espaço. Em 2021, um ano que continuou a ser marcado pela pandemia – e ainda pelas limitações nos espetáculos de música ao vivo – a edição discográfica não parou, continuou em força. A editora Clean Feed, que já conquistou o mundo, continua a publicar de forma imparável e neste ano de 2021, celebrando 20 anos de atividade, teve especial foco na produção portuguesa; a Porta-Jazz continua consolidar o seu catálogo, com mais uma grande fornada de discos; a Robalo, a JACC e a Nischo continuaram a lançar discos importantes; duas novas editoras, a Roda Music e a Phonogram Unit, afirmaram-se com discos marcantes; e outras edições, através de outras labels e edições de autor, complementaram o ramalhete, contribuindo para as várias dezenas de discos publicados neste ano. Num país geograficamente pequeno, esta quantidade de discos editados é reflexo da criatividade que tem marcado a cena nacional. Esta lista aqui apresentada destaca apenas uma parte dos álbuns editados em Portugal, resulta de uma escolha pessoal de Nuno Catarino e tem o objetivo de refletir a diversidade e originalidade do jazz e da música improvisada nacionais.