A banda Minta & The Brook Trout editou em meados de Abril um novo disco de originais, Demolition Derby. Neste novo álbum, o grupo de Francisca Cortesão, Mariana Ricardo, Margarida Campelo e Tomás Sousa revela mais um belíssimo conjunto de canções onde a melancolia indie-pop alcança o seu ponto de rebuçado. O novo trabalho será apresentado ao vivo no Porto (11 de Julho, no CCOP) e em Lisboa (13, no Maria Matos).
Em Abril de 2011 ficámos a conhecer Joana Guerra: “Heartcrash”, voz e violoncelo num elevador antigo, um vídeo d’A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria. Dez anos depois, a 8 de Junho, vemos a mesma Joana Guerra a apresentar a sua música original ao Grande Auditório da Culturgest, uma das salas de espectáculos mais emblemáticas da capital. Ao longo destes dez anos a violoncelista, cantora, compositora e improvisadora veio construindo uma carreira sólida, aberta a parcerias e colaborações que contribuíram decisivamente para o seu enriquecimento musical.
Em 2013 Joana Guerra inaugurou a sua discografia com o disco Gralha, trabalho a solo onde tocava violoncelo e cantava, além da assinar a autoria de todas as composições. Seguiu-se Cavalos Vapor, em 2016, outro trabalho quase solo (participações pontuais de Gil Dionísio e Alix Sarrouy). Pelo meio explorou a improvisação livre, com o trio Bande à Part, com Carlos Godinho (percussão) e Ricardo Ribeiro (clarinetes), que editou o disco Caixa-Prego (2014). E em duo com Gil Dionísio (violino) publicou o disco Alarming Kids (2019). Em 2017 participou numa residência artística dirigida pela contrabaixista Joelle Léndre, figura gigante da música improvisada europeia, acompanhada por mais quatro instrumentistas portuguesas (Susana Santos Silva, Maria do Mar, Maria Radich e Angelica Salvi). Daqui resultou o surgimento, em 2019, do sexteto Lantana, um grupo exclusivamente feminino dedicado à improvisação – além de Guerra, estão aqui Maria do Mar, Maria Radich, Helena Espvall, Anna Piosik e Carla Santana.
No fim de 2020 chegou Chão Vermelho, um trabalho maturado, onde a voz e violoncelo de Guerra se fazem acompanhar por parceiros de outros projectos: Maria do Mar (das Lantana, no violino) e Carlos Godinho (dos Bande à Part, na percussão e objectos). Foi o material deste álbum que foi apresentado ao vivo no palco da Culturgest: ao centro, o violoncelo de Guerra desenha o eixo das canções, no pizzicato ou no arco; o violino de Maria do Mar sublinha os motivos do violoncelo; e a percussão de Carlos Godinho funciona como contraponto, subtil mas subversiva, provocante. Violoncelo, violino e percussão constroem atmosferas melancólicas, sobre as quais a voz (que canta, alternadamente, em português, inglês e francês) acrescenta substância.
Nos diálogos entre os instrumentos há insinuação e confronto, a música vive em estado de tensão. A música ganha formas diversas, alternando momentos de religiosidade, raiva animal, dor, sacrifício, celebração ou transe. Sempre surpreendente, Joana Guerra vem desenvolvendo um percurso rico e diversificado, onde não abdica de trabalhar a exploração criativa das formas musicais, desde aquele início com “Heartcrash” até à actual dolência de Chão Vermelho. Na noite desta terça-feira a Culturgest assistiu à consagração o seu talento.
O festival JiGG – Jazz im Goethe-Garten está de volta. O festival de jazz europeu promovido pelo Goethe-Institut irá apresentar um total de cinco concertos entre os dias 7 e 16 de julho. Com programação de Rui Neves, o festival vai apresentar: Paisiel (Julius Gabriel & João Pais Filipe, dia 7); Woody Black 4 (dia 8); Weird Box (dia 14); Schnellertollermeier (dia 15); e Carlos Bica com Daniel Erdmann e DJ IllVibe (dia 16). Os concertos decorrem sempre às 19h00, no Jardim do Goethe-Institut, em Lisboa.
ACTUALIZAÇÃO – 1 de Julho
“CANCELAMENTO DO JIGG – JAZZ IM GOETHE-GARTEN
O Goethe-Institut Portugal, a Embaixada da Áustria, a Embaixada da Suíça e o Instituto Italiano de Cultura de Lisboa anunciam o cancelamento daquela que seria a 16.ª edição do JiGG – Jazz im Goethe-Garten, de 7 a 16 de julho de 2021.
A decisão surge por recomendação da Direção-Geral da Saúde face ao agravamento da situação pandémica e ao aumento de novos casos de covid-19 em todo o país, com particular incidência na região de Lisboa e Vale do Tejo.
A organização lamenta o incómodo causado e agradece em particular aos patrocinadores (Merck, Energetus e Associação de São Bartolomeu dos Alemães em Lisboa), aos parceiros media (Antena 2, rádio SBSR e Agenda Cultural de Lisboa) e, em especial, às bandas convidadas e ao público sempre fiel do JiGG – Jazz im Goethe-Garten. Deixa também expresso o seu desejo de retomar o festival em julho de 2022, como habitual, no jardim do Goethe-Institut, em Lisboa.”
A música ao vivo está de regresso e vem aí mais uma edição do MIA – Encontro de Música Improvisada de Atouguia da Baleia. De 18 a 20 de Junho a Atouguia da Baleia acolhe concertos, workshops, jam sessions, uma conferência (por Rui Eduardo Paes) e um filme (Caos e Afinidade, documentário de Pedro Gonçalves), reunindo a nata da improvisação nacional e alguns convidados internacionais. Aqui fica o programa completo.
18 Junho | Sexta-feira
15h00 | Auditório da Sociedade Filarmónica
“Joker” – Workshop com Nuno Rebelo
18h00 | Auditório da Sociedade Filarmónica
Jam-session / Apresentação dos participantes do workshop
21h30 | Igreja S. José
João Pedro Viegas – clarinete baixo, PT
Miguel Falcão – contrabaixo, PT
Alvaro Rosso – contrabaixo, UY
François Mellan – tuba, FR
19 Junho | Sábado
15h00 | Auditório da Sociedade Filarmónica
5TO1
Maria Radich – voz, PT
Maria do Mar – violino, PT
Fernando Simões – trombone, PT
Paulo Pimentel – piano, PT
Mário Rua – bateria, PT
16h00 | Auditório da Sociedade Filarmónica
Elisabetta Lanfredini – voz, IT
Niels Mestre – guitarra, FR
Manuel Guimarães – piano, PT
Jonathan Aardestrup – contrabaixo, DK
17h00 | Auditório da Sociedade Filarmónica
“Caos e Afinidade” – Filme-documentário de Pedro Gonçalves
Paredes de Coura vai acolher um “Ciclo de Polinização”, evento que decorre ao longo de nove fins-de-semana, de Junho a Outubro, dedicados à música jazz, tradicional e clássica. O primeiro fim-de-semana do ciclo, de 11 a 13 de junho, será dedicado ao jazz, com concertos de João Martins (a apresentar Hundred Milliseconds, dia 11), André B. Silva (com The Guit Kune Do, dia 12) e Nuno Campos (TaCatarinaTen, dia 13) – todos discos do Carimbo Porta-Jazz. Neste primeiro fim-de-semana acontecerá também a oficina de jazz “Locomotiva”, assegurada pela Porta-Jazz. Este ciclo de concertos e atividades culturais é uma iniciativa do Município de Paredes de Coura, em parceria com a Associação Cultural LANDRA e a Associação Porta-Jazz. A programação desde ciclo pode ser consultada online.
A nova editora aveirense VIC NIC, recentemente lançada, vai publicar dois novos discos. Depois de ter apresentado Zona Autónoma Improvisada de Hugo Branco e Transmissions from the Secret Cinema, Vol.1 (compilação), o projecto editorial ligado à VIC // Aveiro Arts House apresenta agora a compilação New Chronologies of Sound, uma colecção de peças sonoras baseadas em “field recordings”, tendo como eixo uma reflexão sobre a escuta e a percepção do tempo durante a pandemia. Este disco conta com a participação de músicos como Matthew Herbert, AGF ou Lawrence English e foi seleccionado para a rubrica “New & Notable” do Bandcamp, será lançado oficialmente a 9 de Julho e estará em pré-venda a partir de 12 de Junho. Seguir-se-á a edição de um disco de originais do músico argentino Santi Lesca, Mente Viviente (entre a electrónica, a world music e a música para cinema). Este disco tem lançamento marcado para 25 de Junho.
As Notas Azuis de Rui Miguel Abreu vão ganhar vida na discoteca Lux Frágil, em Lisboa. O programa de rádio dedicado ao jazz vai transformar-se numa noite regular mensal de música ao vivo, com propostas de novo jazz que atravessa fronteiras. A primeira edição das Noites Azuis terá lugar no dia 11 de Junho, sexta, às 20h00, com concerto de Mazarin e DJ set de Rui Miguel Abreu. Os Mazarin são um quarteto – Vicente Booth (guitarra), João Spencer (baixo), Léo Vrillaud (teclas) e João Romão (bateria) – e trabalham um jazz que namora com outras geografias estéticas.
A editora Robalo, que já assegurava uma programação semanal de jazz no PENHA SCO (na Penha de França, em Lisboa), vai levar música à Galeria MONO (também em Lisboa). Das propostas Robalo fazem parte RED Trio, Vasco Pimentel Trio, Fushi, Bode Wilson, Fish Wool e Perselí. Destaque ainda para uma curiosa homenagem à música de Annette Peacock, com Leonor Arnaut, Margarida Campelo, João Carreiro, João Hasselberg e João Lopes Pereira. Aqui fica o programa completo.
PENHA SCO
2 Junho, 19h30 – RED Trio
(Rodrigo Pinheiro / Hernâni Faustino / Gabriel Ferrandini
9 Junho, 19h30 – FreeFall, A Música de Annette Peacock
Leonor Arnaut / Margarida Campelo / João Carreiro / João Hasselberg / João Lopes Pereira
Acaba de nascer um novo site dedicado à música improvisada. A página Improvisadoras, com existência em forma de site e página Facebook), nasceu da iniciativa de Sofia Rajado e tem o objectivo de dar visibilidade às mulheres que trabalham nas áreas do jazz e da música improvisada. Em entrevista, a autora apresenta o seu projecto.
Como surgiu a ideia para o Improvisadoras? Qual o objectivo deste projecto?
Gosto muito de música em geral e particularmente de jazz e música improvisada. Tive formação musical clássica desde muito cedo e durante alguns anos, mas houve um momento em que senti um certo cansaço e afastei-me. Coincidentemente, foi nesse período que comecei a escutar mais música, de diferentes géneros e origens. Vivia em Coimbra, havia os Encontros Internacionais de Jazz, organizados pelo Jazz ao Centro, fui a um concerto do Louis Sclavis com o Michel Portal, e tive vontade de descobrir essa música. Aí escutei concertos muito bons e, por influência de alguns amigos, interessei-me, procurei e a pesquisei mais. Um tempo depois mudei-me para Lisboa e comecei a ir aos concertos no CCB, Jazz às Quintas, organizado pela Trem Azul. De certa forma, foi um gosto que foi crescendo, embora tenha havido momentos que não tenha conseguido acompanhar tanto a “cena musical”. A par deste gosto pela música, também me interesso muito por política, na sua verdadeira essência, acompanho movimentos feministas, leio pensadoras sobre o tema, etc. Por isso, há um tempo comecei a juntar os dois mundos e a dar-me conta com mais clareza da invisibilidade das mulheres na música. Comecei a pensar sobre a quantidade de concertos que tinha ido, e que muito poucas, ou praticamente nenhumas vezes, assisti a mulheres a tocar. Não que eu não o procurasse, mas simplesmente porque elas não existiam. Cada vez que via e vejo a programação de um festival, fico sempre um bocado indignada. Quando leio uma crítica. São homens a falar de homens. Acho que foi uma indignação que foi crescendo, algo interno que me impeliu para criar um blog, para escrever sobre mulheres no jazz e na música improvisada e divulgar o trabalho delas. Para escrever sobre música também sob o olhar de uma mulher. Por esse motivo criei recentemente o blog Improvisadoras e também uma página no Facebook.
Na cena musical nacional assistimos a uma grande desigualdade de género, particularmente no jazz e música improvisada. O que poderemos fazer para tentar corrigir esta diferença?
As reflexões que faço são de alguém que está fora do meio, no sentido da sua criação artística, e que apenas participa como público atento. Alguns passos começam a ser dados. A criação da página no Facebook Mulheres no Jazz, bem como publicações de artigos sobre o tema, nomeadamente o que saiu no Rimas e Batidas da Rita Matias dos Santos, são um exemplo. Este tipo de iniciativas é muito importante, mas não podemos ficar por aqui, precisamos de mais. Acho que se deve partir para a prática e criar espaços de encontro e de diálogo entre mulheres, onde possam falar sobre as dificuldades e possíveis soluções. Nesta fase, seria interessante criar momentos de improviso entre mulheres, talvez a construção de jam sessions só com mulheres. A organização de debates em escolas de música sobre este tema também seria importante. Acima de tudo, criar uma onda de encontros entre mulheres, para que possam partilhar experiências, ideias. Acho que dessa reflexão conjunta, muito mais rica, poderão surgir respostas muito interessantes sobre o que fazer. Um outro aspecto que também considero importante e fundamental é entender que neste debate os homens não são “inimigos”, são também uma peça importante para a mudança e muitas vezes será necessário um diálogo mais “educativo” com eles.
Recentemente nasceu em Portugal o grupo Lantana, um sexteto que reúne improvisadoras com diferentes backgrounds. A trompetista Susana Santos Silva editou recentemente o disco Hearth, com um quarteto exclusivamente feminino. Estes exemplos de mulheres com mais visibilidade podem levar a que outras instrumentistas sigam estes caminhos?
Fiquei muito contente com o surgimento de Lantana, é um passo muito importante. Espero não cometer nenhum erro, mas penso que é o primeiro grupo, em Portugal, só com mulheres neste género de música, a improvisada. São heroínas. Assim como elas, a Susana Santos Silva. No caso da Susana, é impressionante, porque ela surgiu num momento muito mais difícil para as mulheres instrumentistas. Lembro-me de ser adolescente e já a ver a tocar na Orquestra de Jazz de Matosinhos, um meio altamente masculino. Mas, repare-se, para avançar, para construir o seu percurso também como compositora, saiu de Portugal. Se tivesse cá ficado, provavelmente não teria chegado onde chegou ou teria tido muito mais dificuldades/barreiras pelo caminho. A visibilidade destas mulheres é muito importante para outras poderem avançar. No fundo, elas estão a abrir caminho. Será também importante que em próximos festivais a decorrer em Portugal e que costumam contar com a presença de músicos internacionais, sejam convidadas mulheres de outros países.
Além de dar visibilidade a projectos de mulheres, este projecto poderá levar a outro tipo de concretizações? O que poderemos esperar no futuro?
Para já é apenas um blog de divulgação da música delas. Também um espaço para reflexão. Eu tenho um trabalho que nada tem a ver com música, isto acaba por ser um “hobby”. Também para mim, como mulher, mãe, é difícil conseguir conciliar tudo. Mas o tempo o dirá, vários caminhos poderão ser possíveis.
Como o resto do mundo, também o Moers festival, um dos maiores festivais do mundo dedicados ao jazz e à música improvisada, também se adaptou aos novos tempos. A edição 2021 do festival alemão contou com um programa rico e vasto que, sendo naturalmente focado no digital, teve também público presencial (com lotação limitada). Pela edição 2021 do festival passou um total de 229 músicos, incluindo nomes consagrados como Joe McPhee, Jamaaladeen Tacuma, John Scofield, Joëlle Léandre, Lubomyr Melnyk, Brad Mehldau, Sylvie Courvoisier e Julien Desprez, entre outros. Mais uma vez o festival de Moers mostrou a riqueza e diversidade do jazz contemporâneo.