João Mortágua apresenta “Dentro da Janela”

[Fotografia: Márcia Lessa]

João Mortágua é um versátil saxofonista e compositor que tem marcado a cena jazz nacional desde que se estreou como líder, com o disco Janela (Porta-Jazz, 2014). Numa pequena entrevista, o saxofonista e compositor fala sobre o seu último disco, Dentro da Janela (editado em Março deste ano) e os projectos em que se encontro envolvido.

Em 2014 editaste a primeiro disco do projecto Janela, gravado em quarteto. Agora para esta nova Janela transformaste o grupo em quinteto, com a adição de um saxofone. Porquê esta mudança? Sentes que há uma clara evolução entre este disco e o anterior? 
O quinteto Dentro da Janela surgiu como uma evolução natural do original quarteto, aliado à transformação do conceito por detrás da música (escrita e improvisada). A nova Janela abandonou em parte a ideia de canção, em busca de algo mais próximo da narrativa, partindo bem mais da variedade rítmica e do contraponto; nesse sentido, revelou-se pertinente e “necessária” a introdução de um novo instrumento melódico, que devido ao meu apreço pela combinação de dois saxofones, acabou por ser o tenor do Zé Pedro Coelho, que é um músico que há muito admiro.

O que diferencia o Janela dos teus outros grupos como líder (Mirrors e Axes)?
Ao contrário de Axes, em que decidi explorar de forma concreta a textura acústica de quatro saxofones e duas baterias (embora com pontuais processamentos eletrónicos), há em Janela a firmada presença da guitarra com efeitos, ao peculiar jeito de Miguel Moreira. Por outro lado, as ideias musicais baseiam-se frequentemente em riffs de baixo e bateria que se vão transmutando ao longo dos solos, estando bem presente essa procura de diferentes caminhos, um pouco ao jeito da música progressiva; há ainda uma notória variedade nesses ritmos e ambientes. Nesse sentido, e até pela própria formação, há algumas semelhanças com a música de Mirrors, embora nesse grupo explore mais as vertentes do stoner rock e do space pop.

Durante o processo de composição para este disco quais foram os elementos que mais valorizaste?
Dei primazia à narrativa, isto é, à sequência das partes, bem como ao contraponto rítmico, para além de tentar mais que nunca extrair de cada elemento do grupo as suas melhores caraterísticas.

Começaste recentemente a explorar um projecto a solo, chamado Holi, onde exploras saxofones e electrónicas. Como se encontra este projecto? Planeias fazer mais apresentações ao vivo e gravar?
Holi é um projeto no qual estou muito empenhado, e com o qual quero definitivamente ir mais longe. Estou em fase de busca e experimentação, mas é certo que em 2020 haverá novas apresentações e, quem sabe, a seu tempo, uma gravação, provavelmente em vídeo.

Além destes, em que outros projectos estás actualmente envolvido ou tens planos para os próximos tempos?
De momento, estou também a desenvolver dois duos, Kintsugi (com Luís Figueiredo) e Steu (com Diogo Alexandre). O trio Bica/Santos/Mortágua continua em atividade e verá este ano o seu álbum editado. Serão também lançados os álbuns do trio de Filipe Teixeira, dos quartetos de Hugo Raro e de Alexandre Coelho, e dos quintetos de Paulo Santo e de Gonçalo Moreira, bem como o segundo álbum dos Centauri de André Fernandes e o álbum de estreia dos Racing Mackerels de Nuno Ferreira. Tenho também tocado com Men-Tor de Nelson Cascais, que é um tributo ao saudoso Jorge Reis. Além disso, serão editados os álbuns de estreia dos meus novos grupos Mazam (com Carlos Azevedo, Miguel Ângelo e Mário Costa) e Math Trio (com Diogo Dinis e Pedro Vasconcelos), bem como o esperado segundo álbum de Axes.

Círculo de Jazz leva grandes nomes nacionais a Setúbal

Amado / Toscano / Faustino / Lencastre [Fotografia: Cláudio Rêgo]

O novo ano vai arrancar com mais um festival de jazz. Em Janeiro realiza-se a 9º edição do Circulo de Jazz Fest, que vai levar a Setúbal nomes grandes da cena jazz nacional, como Mário Laginha Trio, Carlos Bica & Azul, Mário Delgado & Carlos Barretto. O festival organizado pela Câmara Municipal realiza-se entre os dias 17 e 25 de Janeiro de 2020 e apresenta  concertos no Fórum Municipal Luísa Todi, no Auditório Municipal Charlot e na Sociedade Musical Capricho Setubalense. Além dos músicos já referidos, o programa inclui jovens valores nacionais, como André Rosinha, Desidério Lázaro e The Rite of Trio. No programa destaca-se ainda o quarteto que junta Rodrigo Amado, Ricardo Toscano, Hernâni Faustino e João Lencastre. Aqui fica o programa completo do festival.

17 Jan, 21h30: Mário Laginha Trio (Fórum Municipal Luísa Todi)

17 Jan, 23h00: Amado / Toscano / Faustino / Lencastre (Sociedade Musical Capricho Setubalense)

18 Jan, 21h30: The Rite of Trio (Fórum Municipal Luísa Todi)

18 Jan, 22h30: André Rosinha Trio (Fórum Municipal Luísa Todi)

19 Jan, 16h00: Big Band Junior (Fórum Municipal Luísa Todi)

24 Jan, 21h30: Carlos Barretto e Mário Delgado (Auditório Municipal Cinema Charlot)

24 Jan, 23h00: Desidério Lázaro (Auditório Municipal Cinema Charlot)

25 Jan, 21h30: Carlos Bica & Azul (Auditório Municipal Charlot)

Entrevista: José Lencastre Nau Quartet

Com um terceiro álbum, agora saído com carimbo Clean Feed, gravado ao vivo em Moscovo, o Nau Quartet soma e segue num percurso que tem de tão curto quanto de assinalável, tendo chamado a atenção da crítica internacional e do público amante da música improvisada e do jazz criativo que se espalha pelo mundo. Estivemos à conversa com José Lencastre, o líder saxofonista, para saber mais sobre este projecto. Continue reading “Entrevista: José Lencastre Nau Quartet”

Disco: “Solo” de Bernardo Sassetti

Bernardo Sassetti
Solo
(Casa Bernardo Sassetti, 2019)

O impacto de Bernardo Sassetti na cena do jazz português – e na música portuguesa em geral – é incomensurável. Pianista e compositor, Sassetti contribuiu decisivamente para definir o cânone da música portuguesa contemporânea, particularmente com os seus discos editados na primeira década do século XXI. O pianista iniciou a sua discografia ainda nos anos ’90, mas é na década de ’00 que cristaliza a sua música, ao editar os trabalhos artisticamente mais relevantes:  Nocturno (2002), Indigo (2004), Alice (2005), Unreal: Sidewalk Cartoon (2006) e Motion (2010); além de colaborações memoráveis com Mário Laginha, Will Holshouser e Carlos do Carmo, entre outros.

A música de Sassetti foi definida por um magnífica sensibilidade interpretativa, combinando uma preciosa atenção à melodia ao mesmo tempo que embarca em sublimes explorações dentro da cada tema, resultando frequentemente numa ambiência cinematográfica (e são várias as ligações da sua música ao cinema). A sua morte, em 2012, deixou um vazio enorme, interrompeu cruelmente um percurso que prometia ainda mais, e confirmou o estatuto de lenda.

Em 2019 a música de Sassetti continua viva. Por iniciativa da Casa Bernardo Sassetti, instituição fundada após a sua morte para promover o seu legado, a música de Sassetti tem sido revista e reinterpretada por músicos da nova geração do jazz português (Ricardo Toscano e Bruno Pernadas já o fizeram) e este ano foram editados dois trabalhos que se servem do seu repertório para apresentar homenagens originais: The Wake of an Artist – Tribute to Bernardo Sassetti pelo Alberto Conde Iberian Roots Trio e Big Band Júnior Abraça Sassetti pela Big Band Júnior.

Este disco Solo, agora publicado pela Casa Bernardo Sasseti, reúne um conjunto de gravações que o pianista efectuou no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, no ano de 2005. Na altura corria a crença de que o piano do teatro tinha características únicas e Sassetti foi aos Açores gravar a sua música, composições novas e antigas, na companhia do produto Nelson Carvalho.

Os temas aqui apresentados seguem na linha daquilo que lhe conhecemos, sem particular novidade, navegando entre a tradição portuguesa e a atmosfera do cinema, sempre trabalhados com detalhe, delicadeza e sofisticação. Além dos temas da sua pena, há ainda uma revisão da composição “After the Rain” de John Coltrane, que Sassetti refaz explorando a sua carga dramática – e que encaixa de forma perfeita no alinhamento do disco.

Conforme anunciou a directora artística da Casa, Inês Laginha, este disco é apenas o primeiro de nove álbuns inéditos, que serão editados nos próximos anos. A memória de Sassetti não se apaga, mas estas gravações relembram-nos a beleza intemporal da sua música. Venham os próximos!

Luís Barrigas apresenta novo disco “Indra”

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O pianista Luís Barrigas acaba de editar um novo disco, Indra. Gravado em trio com João Custódio (contrabaixo) e Jorge Moniz (bateria), este novo disco será apresentado ao vivo no Hot Clube em Lisboa nos dias 11 e 12 de Dezembro e na Casa da Cultural de Setúbal no dia 14 de Dezembro. Numa pequena entrevista, o pianista apresenta-nos este novo álbum.

Quais foram as primeiras influências no piano?
Não é fácil responder de forma concreta a essa pergunta, uma vez que comecei a ter aulas de teclado com cinco anos num órgão de dois teclados e pedal, a fazer baixos com os pés. Nessa altura, os ídolos eram as bandas de pop e rock que se ouviam lá em casa e que ia aprendendo com o meu irmão mais velho o nome de alguns pianistas/teclistas, no caso dos Pink Floyd (Richard Wright), que ainda hoje é um nome presente. O piano aparece como forma de estudo por volta do início da adolescência. Aí comecei a ter interesse também no jazz e curiosamente lembro-me de ser mais influenciado pelos portugueses, que faziam parte do jazz que ouvia na altura. Em meados dos anos 90 recebi um CD do André Sarbib que ouvi bastante, Coisas da Noite, assim como a música do António Pinho Vargas e, a dada altura, o Mário Laginha e o Bernardo Sassetti, que recordo ouvir num concerto do Carlos Barreto em Azeitão. Em ’98 comprei um disco do Keith Jarrett em trio, Concert 1996, e mudou muita coisa na minha visão do piano, assim como o disco do Chick Corea, Now He Sings, Now He Sobs. Continue reading “Luís Barrigas apresenta novo disco “Indra””

Alfredo Costa Monteiro apresenta performance sonora no TBA

Depois de se ter apresentado a solo no Semibreve 2018, Alfredo Costa Monteiro apresenta uma performance sonora no TBA – Teatro do Bairro Alto, em Lisboa. Músico natural do Porto, a residir em Barcelona desde 1992, Costa Monteiro vem a Lisboa apresentar Anéis de Fogo, uma peça eletroacústica que oscila entre a improvisação e a composição, o controlo e o acaso. Costa Monteiro apresenta-se ao vivo no dia 19 de dezembro, às 19h00. Os bilhetes têm o preço de 12€ (5€ para menores de 25 anos).