Luís Barrigas apresenta novo disco “Indra”

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O pianista Luís Barrigas acaba de editar um novo disco, Indra. Gravado em trio com João Custódio (contrabaixo) e Jorge Moniz (bateria), este novo disco será apresentado ao vivo no Hot Clube em Lisboa nos dias 11 e 12 de Dezembro e na Casa da Cultural de Setúbal no dia 14 de Dezembro. Numa pequena entrevista, o pianista apresenta-nos este novo álbum.

Quais foram as primeiras influências no piano?
Não é fácil responder de forma concreta a essa pergunta, uma vez que comecei a ter aulas de teclado com cinco anos num órgão de dois teclados e pedal, a fazer baixos com os pés. Nessa altura, os ídolos eram as bandas de pop e rock que se ouviam lá em casa e que ia aprendendo com o meu irmão mais velho o nome de alguns pianistas/teclistas, no caso dos Pink Floyd (Richard Wright), que ainda hoje é um nome presente. O piano aparece como forma de estudo por volta do início da adolescência. Aí comecei a ter interesse também no jazz e curiosamente lembro-me de ser mais influenciado pelos portugueses, que faziam parte do jazz que ouvia na altura. Em meados dos anos 90 recebi um CD do André Sarbib que ouvi bastante, Coisas da Noite, assim como a música do António Pinho Vargas e, a dada altura, o Mário Laginha e o Bernardo Sassetti, que recordo ouvir num concerto do Carlos Barreto em Azeitão. Em ’98 comprei um disco do Keith Jarrett em trio, Concert 1996, e mudou muita coisa na minha visão do piano, assim como o disco do Chick Corea, Now He Sings, Now He Sobs.

Porque escolheste formar este trio, com João Custódio e Jorge Moniz?
Este trio surge de forma natural. A dada altura, em 2018, andávamos a fazer sessões juntos no meu sótão de casa, uma vez que moramos relativamente perto uns dos outros. De repente comecei a escrever música e fomos experimentando semana a semana. Quando demos por ela decidiu-se que faria sentido gravar música. Por outro lado, temos uma boa empatia e um forte laço humano. Apesar de a maioria da música ser escrita por mim, este trio é um grupo dos três, e isso é muito importante.

Que características pretendes transmitir com este trio?
Este trio tem música que reflecte o local em que me situo na música neste momento, assim como dos restantes elementos, falando um pouco por eles. Mas também reflecte a minha visão da vida actual. Este trio reflecte a minha paixão pela música erudita de inícios do século XX até aos dias de hoje. Existe uma certa simplicidade em alguns temas com certas características minimalistas, outros temas procuram e reflectem traços de atonalidade, a importância de todos os sons. E alguns encontramos a paixão pela harmonia politonal .

Acabas de editar o disco Indra, gravado em trio. Porque este título?
Indra é o Deus dos Céus no Hinduísmo, está intimamente ligado à natureza e está também associado ao fluxo dos rios e das águas. Sinto que para mim, actualmente, é importante estabelecer uma maior ligação com a natureza numa época de tanta rapidez de informação em que estamos tão rapidamente ligados uns aos outros mas tão distantes. Com este trio e esta música procuramos esta ligação. Uma ligação ancestral pelo som.

No processo de composição para este disco quais foram os elementos que mais valorizaste?
A procura de um som de grupo foi um deles, depois o uso da repetição de elementos rítmicos , e ciclos, sejam eles harmónicos rítmicos ou de forma. Em vários temas pode ser encontrada uma estrutura de 32 compassos, que existe em muitas canções de jazz.

Este novo Indra é o teu terceiro disco, depois de 2:30 e Songs with and without words. Como vês este percurso, sentes uma evolução?
Bem, não é fácil fazermos um balanço de nós próprios, mas posso responder que sim. Sinto evolução entre estes três discos. Inevitavelmente têm espaços comuns mas vão evoluindo por diferentes caminhos que pretendo explorar. E, na verdade, espero continuar a encontrar novos percursos, novos desafios e novos sons.

Projectos para os próximos tempos?
O Indra trio terá um novo disco para 2020, está na calha um disco novo com a Beatriz Nunes e irá sair um disco gravado com o Paulo Ribeiro, um cantautor português, para 2020. Tenho também a ideia de fazer um trabalho a solo com música tradicional portuguesa e coro, em que a improvisação marcará presença. Por último, gostava de poder colaborar com mais músicos a como sideman, aberto a novas experiências, estando também disponível para escrever música e arranjos para outros artistas.