Com um terceiro álbum, agora saído com carimbo Clean Feed, gravado ao vivo em Moscovo, o Nau Quartet soma e segue num percurso que tem de tão curto quanto de assinalável, tendo chamado a atenção da crítica internacional e do público amante da música improvisada e do jazz criativo que se espalha pelo mundo. Estivemos à conversa com José Lencastre, o líder saxofonista, para saber mais sobre este projecto.
Como nasceu o Nau Quartet? E porquê este nome?
Este grupo surgiu em Dezembro de 2015. Na altura morava no Brasil e vim a Lisboa passar o Natal e o Ano Novo. Tinha saudades de tocar música improvisada e marquei um concerto no Desterro com o Hernâni, o Rodrigo e o meu irmão. Não tinha ainda o nome. Gostámos os quatro da forma como esse concerto correu e quando voltei para Portugal no Verão de 2016 começámos a fazer umas sessões no estúdio Timbuktu, onde os dois primeiros discos foram depois gravados. O nome surgiu como forma de tentar verbalizar aquilo que procuramos fazer na música improvisada: o descobrimento do agora, a intuição de encontrar a cada momento o que tocar. Pensei em Now (agora ) e Nau (embarcação utilizada pelos portugueses na época em que se aventuravam mar adentro ao encontro de outras culturas – período geralmente designado como Descobrimentos ) e assim nasceu o Nau Quartet.
Porque decidiste formar um quarteto com estes músicos?
São pessoas de quem muito gosto e admiro a nível musical e também humano. Para mim é fundamental ter uma boa relação pessoal com os músicos com quem partilho o palco.
Tens um passado ligado a músicas muito diversas (funk, rock, jazz), o João tem estado ligado ao jazz, o Rodrigo e o Hernâni têm trabalhado exclusivamente na improvisação livre. Consideraste alguma vez que esta combinação de elementos poderia ser arriscada?
Na verdade tinha o “feeling” de que iria ser uma boa experiência. Embora o risco esteja sempre presente neste género de música, e ainda bem que assim é, pressentia que, quando nos juntássemos para tocar, algo iria fluir de forma natural. Felizmente, continuamos a evoluir na forma como o quarteto soa enquanto grupo. Sinto que temos um som característico quando nos juntamos para tocar, mas sou regularmente surpreendido com os novos caminhos que se nos apresentam de cada vez que fazemos um concerto ou sessão.
O Nau Quartet trabalha uma música de improvisação livre, sem composições. Que características definiram desde o primeiro momento para este grupo?
As características deste grupo têm-se vindo a definir desde o primeiro momento e não porque as tivéssemos falado entre nós. Nunca temos qualquer intenção predefinida em relação ao que vamos tocar. Tentamos reagir ao que se vai desenrolando musicalmente. Uma característica partilhada por todos é ouvir sempre o que está acontecer e o que os outros estão a tocar, ou não, e a partir daí contribuirmos de forma pessoal, sempre na tentativa de dar aquilo que a música pede no próprio momento. (…)
Entrevista completa no site Jazz.pt.