O Astronauta Desaparecido, projecto dos irmãos Rui Eduardo Paes e Carlos Paes, vai regressar aos concertos. Após a recente reedição do disco “Sound & Fury”, o Astronauta vai apresentar-se ao vivo com um concerto no dia 14 de Outubro. O concerto realiza-se no Encontrão A Besta, às 19h00, na Estudantina de S. Domingos de Rana, onde irão tocar duas outras bandas do colectivo A Besta, Bleandante (17h00) e Gásmo (18h00). Será uma oportunidade rara para conhecer ao vivo um OVNI da história da música experimental portuguesa.
O Hot Clube de Portugal acaba de apresentar a programação para o mês de Outubro de 2018. Pela Praça da Alegria vão passar músicos e projectos como Andy Sheppard Quartet, Bode Wilson, José Salgueiro (Transporte Colectivo), Espen Eriksen Trio e Bernardo Moreira (Entre Paredes). A programação inclui ainda três noites dedicadas ao jazz da Extremadura, com concertos de Mili Vizcaíno Quintet, Iván Sanjuán 4tet e Javier Alcantara. Aqui fica o programa completo.
A cantora Marta Hugon é uma das grandes vozes do jazz português. Iniciou a sua discografia com o álbum “Tender Trap”, em 2005, tendo editado seguidamente os discos “Story Teller” (2008), “A Different Time” (2011) e “Bittersweet” (2016) – onde se incluiu uma inesperada parceria com Samuel Úria, no tema “Insane“. Já este ano a cantora apresentou-se com um novo projecto, Elas e o Jazz, trio de jazz vocal com Joana Machado e Mariana Norton, onde se reinventam temas do cancioneiro jazzístico tradicional e da Broadway com refinadas harmonias vocais. Três discos de jazz? Estas são as suas escolhas.
Brad Mehldau Trio “Places” (Warner, 2000)
“Gosto de todos os discos de Mehldau. Adoro o que faz às canções que vai buscar fora do jazz. Mas este disco é todo feito de originais, na sua maioria escritos enquanto andava na estrada com Jordi Rossy e Larry Grenadier. Places é um disco sublime sobre a procura do sublime na vida e na música. Uma espécie de geografia da própria memória dos lugares por que Mehldau passou, que tem como fio condutor o desejo de recuperar e tornar próximo aquilo que o tempo tornou distante. É um sentimento com o qual me identifico e a sua música consegue torná-lo tangível.”
Keith Jarrett “The melody at night with you”
(ECM, 1999)
“Algumas das mais belas versões de standards de jazz que conheço estão neste disco. É um disco de referência, daqueles que me fizeram apaixonar por esta música. Há uma grande intimidade e ao mesmo tempo uma espécie de exaltação nesta gravação. O som é maravilhoso, próximo e quente, como se estivéssemos na sala com Jarrett e o seu piano. A sua interpretação de “I loves you Porgy” faz-me sempre chorar. Os discos, como os livros, estão muitas vezes associados a fases da nossa vida e este está diretamente ligado à altura em que comecei a estudar jazz. Volto muitas vezes a ele.”
Andy Bey “American Song”
(Savoy, 2004)
“Descobri o Andy Bey há muito tempo num concerto no North Sea Jazz Festival, num auditório pequenino. Era uma voz linda de barítono, profunda, cheia da história dos seus quase 70 anos, naquela altura. Foi um lindo concerto, com ele muito tímido e talvez até um pouco magoado com alguma falta de reconhecimento do público. Bey sempre cantou mas teve uma espécie de ressurgimento musical no final dos anos 90. Este “American Song” acabou por ser nomeado para um Grammy. Inspirei-me na sua interpretação para gravar o “River Man” e o “Never let me go” do meu segundo disco.”
O guitarrista madeirense André Santos vai apresentar o seu novo projecto “Mutrama” ao vivo no Teatro São Luiz, em Lisboa. Neste projecto o guitarrista revisita a música tradicional madeirense, acompanhado por vários talentos da cena jazz portuguesa, onde se destacam músicos convidados como Salvador Sobral e Maria João. O concerto realiza-se no dia 4 de Outubro no São Luiz e os bilhetes estão disponíveis em www.bol.pt ou na bilheteira do teatro. O disco já está disponível para escuta online.
Pouco depois da edição de uma gravação inédita de John Coltrane, saiu agora o anúncio de que vem aí música nova de outro gigante, Eric Dolphy. A editora Resonance vai editar “Musical Prophet: The Expanded 1963 New York Studio Sessions”, álbum que reúne material gravado após a saída de Dolphy da Prestige Records e pouco antes de gravar o genial “Out To Lunch!”. Este novo álbum reúne dois discos previamente editados – “Conversations” e “Iron Man” – e um terceiro disco com material inédito, gravações de estúdio alternativas nunca antes editadas (“alternate takes”). Nestas gravações Dolphy tem a companhia de músicos como Sonny Simmons, Woody Shaw, Richard Davis e Bobby Hutcherson. A 23 de Novembro vai sair a edição em triplo-vinil, a 25 de Janeiro será editado o CD (triplo).
O festival Guimarães Jazz acaba de apresentar a programação da sua 27ª edição, que se realiza ente os dias 8 e 17 de Novembro. Mais uma vez o festival minhoto apresenta um cartaz de luxo, onde não faltam grandes nomes internacionais. Por Guimarães vão passar músicos como Dave Holland (com o quarteto Aziza), Steven Bernstein, Avishai Cohen (o trompetista) e Dave Douglas (num supergrupo com Jon Irabagon, Mary Halvorson, Rafiq Bhatia, Bill Laswell e Ches Smith). O festival encerra com a actuação da Mingus Big Band, ensemble que celebra a música do lendário Charles Mingus e reúne nomes como Wayne Escoffery, Robin Eubanks ou Jack Walrath. Aqui fica o programa completo de concertos.
8 Nov, 21h30: Aziza (Dave Holland, Chris Potter, Kevin Eubanks e Eric Harland)
9 Nov, 21h30: Marquis Hill Blacktet
10 Nov, 18h30: Pablo Held Trio
10 Nov, 21h30: Steven Bernstein’s Millennial Territory Orchestra
11 Nov, 17h00: Big Band e Ensemble de Cordas ESMAE (dirigida por Matt Ulery)
11 Nov, 21h30: Projeto Guimarães Jazz / Porta-Jazz (João Grilo, Simon Olderskog Albertsen, Christian Meaas Svendsen, José Soares + vídeo de Miguel C. Tavares)
12 Nov, 21h30: David Helbock’s Random/Control
David Helbock, piano, eletrónicas, percussão
13 Nov, 21h30: João Barradas’ Own Thoughts From Abroad (com Greg Osby)
14 Nov, 21h30: Orquestra de Guimarães com Léa Freire Quarteto “Cartas Brasileiras”
15 Nov, 21h30: Dave Douglas’ Uplift (com Jon Irabagon, Mary Halvorson, Rafiq Bhatia, Bill Laswell e Ches Smith)
16 Nov, 21h30: Avishai Cohen Quartet
17 Nov, 18H30: Matt Ulery’s Delicate Charms
17 Nov, 21H30: The Mingus Big Band
Depois do Verão no Palácio de Cristal, a programação Porta-Jazz volta em Outubro com os concertos semanais, os já habituais Sábados Porta-Jazz. Neste mês actuam Desidério Lázaro (6 Out), Diogo Vida (13 Out). André Fernandes’ Centauri (20 Out) e Paulo Gomes Trio (27 Out). A Porta-Jazz promove ainda uma oficina e concerto de François Moutin e Kavita Shah (19 Out) e uma série de conversas, “Jazz Sem Tretas”, sobre o movimento jazz do Porto (às quintas-feiras). Acaba também de ser anunciado o lançamento de um novo disco do Carimbo Porta-Jazz, um curioso duo de contrabaixos de Demian Cabaud e Torbjorn Zetterberg. O disco “A Terra é de Quem a Trabalha” será apresentado ao vivo no Auditório da FEUP – Faculdade de Engenharia do Porto (3 Out).
A Conferência Europeia de Jazz, uma iniciativa promovida anualmente pela Europe Jazz Network, realizou-se este ano em Lisboa. O evento decorreu entre os dias 13 e 15 de Setembro e apresentou-se como uma excelente oportunidade para dar visibilidade ao jazz português, particularmente à nova geração de músicos que se tem afirmado nos últimos anos. A conferência começou por abrir candidaturas para “showcases” de músicos nacionais, tendo sido selecionados os projectos Impermanence de Susana Santos Silva, Bode Wilson, Axes de João Mortágua, Pedro Melo Alves’ Omniae Ensemble, Quarteto Beatriz Nunes e TGB. Estes músicos apresentaram-se ao vivo no Centro Cultural de Belém, incluídos no programa oficial do evento.
O concerto de inauguração, que teve lugar no CCB, apresentou a Orquestra Jazz de Matosinhos, a nossa big-band estrela, acompanhada por quatro músicos convidados, quatro reconhecidos talentos da cena nacional: Maria João, João Paulo Esteves da Silva, João Mortágua e João Barradas. O CCB acolheu ainda os concertos de Espen Eriksen Trio com Andy Sheppard e Bugge Wesseltoft’s New Conception of Jazz. Além destes, a conferência associou-se a um programa lateral de concertos interessante, onde se juntaram músicos originais de estéticas diversas, como Mário Costa (a apresentar o disco “Oxy Patina” no Capitólio), Eduardo Cardinho Trio, LUME, Rodrigo Amado Trio e André Fernandes’ Centauri (na Ler Devagar), além de outros espectáculos no Hot Clube de Portugal e no OutJazz.
Um dos painéis que mais prometia, e que acabou por se confirmar bastante interessante, era focado no tema “o jazz português no contexto europeu”. A mesa reuniu Rui Eduardo Paes (critico, editor da Jazz.pt e programador), Pedro Cravinho (investigador), Beatriz Nunes (cantora), Pedro Guedes (director da Orquestra Jazz de Matosinhos) e Pedro Costa (Clean Feed). Além de um enquadramento histórico, foram abordadas as dificuldades de internacionalização dos músicos nacionais. Contudo, o debate acabou por ficar mais aceso surgiu já perto do final, afastando-se da direcção inicial (o contexto europeu) e lançando um questionamento interno: Portugal é ou não é um país que integra bem os imigrantes, particularmente os das ex-colónias? Então porque motivo não há músicos de jazz negros em Portugal? Mais do que apresentar respostas, este painel levantou questões que estavam escondidas debaixo do tapete, importantes para a auto-crítica. E só depois de conseguirmos olhar para dentro, e de nos conhecermos melhor, poderemos ambicionar chegar mais longe.
Outro dos momentos mais interessantes da conferência foi a divulgação de um manifesto sobre o equilíbrio de género no jazz e na música criativa, com o objectivo de promover a programação de mais mulheres nos festivais. O manifesto surge na sequência da carta-aberta “We Have Voice” e num momento em que o feminismo voltou a fazer cada vez mais sentido. Este manifesto é de uma enorme actualidade e encontrou na audiência da conferência o público certo, uma vez que a Europe Jazz Network engloba quase todos os festivais e salas dedicadas a programar jazz. Foi também o local perfeito para o apelo do jornalista irlandês Ian Patterson, do site All About Jazz, que sugeriu a aposta em programações com propostas mais arriscadas. No âmbito da conferência foi ainda apresentado o livro “The History of European Jazz – The Music, Musicians and Audiences in Context”, sobre a história do jazz europeu e com capítulos dedicados às cenas nacionais, onde se inclui um capítulo sobre o jazz em Portugal.
A organização esteve óptima, à partida podemos concluir que a iniciativa resultou num sucesso. Contudo, só no futuro poderemos saber se esta oportunidade foi realmente bem aproveitada. Os músicos portugueses conseguiram mostrar-se para que a sua música seja levada para novas latitudes? Foram aproveitadas redes de contactos e networking? Os festivais e as salas estão abertos a apostar em programações mais inclusivas? E os programadores estarão abertos a promover propostas musicais mais arriscadas? Só o futuro o poderá confirmar, mas ficou aberta a oportunidade para a mudança.
Acaba de ser anunciada a programação da Culturgest para a nova temporada. Sob a direcção de Mark Deputter e com Pedro Santos como programador de música, a nova Culturgest vai apresentar entre Outubro de 2018 a Fevereiro de 2019 mais de 60 espetáculos (dança, teatro, concertos, exposições, performances, debates, conferências e cinema). O jazz continua a marcar presença no programa e um dos maiores destaques é a parceria do trompetista Peter Evans com a Orquestra Jazz de Matosinhos (28 Novembro). A Culturgest vai ainda acolher concertos de Tim Hecker (4 Outubro), James Holden (7 Novembro), Midori Takada (15 Novembro), Mouse On Mars (5 Dezembro) e Montanhas Azuis (15 Fevereiro).