European Jazz Conference 2017 [Fotografia: Tina Ramujkic]
A Conferência Europeia de Jazz vai realizar-se este ano em Lisboa. A conferência decorre entre os dias 13 e 16 de Setembro e será co-organizada pelo Europe Jazz Network, Associação Sons da Lusofonia e Centro Cultural de Belém. A quinta edição da European Jazz Conference vai ter como palco o CCB e vai acolher debates, workshops, visitas culturais, um concerto de gala e actuações de bandas portuguesas. Acaba de abrir o concurso para os showcases de músicos portugueses, podendo ser enviadas candidaturas até 12 de Março – mais informação aqui.
No dia 2 de Fevereiro o novo Trio de Sei Miguel estreia-se no Damas. Esta nova formação junta o trompetista e compositor com Fala Mariam (trombone) e Bruno Silva (guitarra eléctrica). Antecipando a actuação, Bruno Silva conta: “Vamos tocar material que nunca foi trabalhado neste formato. É um campo praticamente inédito quer para nós – eu e Fala – quer para o Sei, que trabalha quase sempre num espaço onde a percussão é preponderante. Nesse sentido, o trabalho tem sido tão gratificante e enriquecedor como sempre, com uma curva extra de expectativa. Vai ser bonito.” Na mesma noite há também uma performance de António Poppe, que vai ler poesia.
O pianista Filipe Melo vai regressar ao cinema. Também músico de jazz e autor de BD, Melo regressa à realização com a curta-metragem “Sleepwalk“, uma adaptação ao cinema de um conto de BD que integra o livro “Comer/Beber” (edição Tinta da China). Filipe Melo assina a realização, o argumento e a banda sonora original, que vai ainda contar com a participação do guitarrista Norberto Lobo. O filme foi rodado em Los Angeles em Novembro de 2017 e encontra-se actualmente em pós-produção, tendo a estreia prevista para este ano de 2018.
As cantoras Joana Machado, Marta Hugon e Mariana Norton juntaram-se numa nova aventura musical. Elas e o Jazz é o nome do projecto onde as três cantoras reinventam temas do cancioneiro jazzístico tradicional e da Broadway com refinadas harmonias vocais. As cantoras fazem-se acompanhar por um trio instrumental de luxo: João Pedro Coelho no piano, Romeu Tristão no contrabaixo e João Pereira na bateria – músicos que integram o reputado Ricardo Toscano Quarteto. A primeira actuação do grupo está marcada para o dia 6 de Outubro no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal. O primeiro vídeo de apresentação deste projecto, uma interpretação do clássico “Devil May Care”, já pode ser visto aqui.
Está quase a chegar a 11ª edição do festival Rescaldo, que vai apresentar onze concertos entre 16 e 24 de Fevereiro. Com programação de Travassos, o festival destaca algumas das propostas mais interessantes da música exploratória nacional. O Rescaldo volta a assentar arraiais na Culturgest e vai promover novamente um concerto no (polémico) Panteão Nacional.
O festival arranca a 16 de Fevereiro, sexta-feira, com as actuações de Maria da Rocha (a apresentar o disco “Beetroot”) e do trio Diana Combo, Rafael Toral e Pedro Centeno no Pequeno Auditório da Culturgest. Também no mesmo auditório, no sábado, actuam a violoncelista Joana Guerra (solo) e o trio Harmonies (grupo de Joana Gama, Luís Fernandes e Ricardo Jacinto). Na tarde de domingo, às 16h30, a pianista Joana Gama apresenta-se em concerto no Panteão Nacional, com a interpretação de obras de Morton Feldman, Erik Satie e John Cage.
Na segunda semana de Rescaldo os concertos têm lugar na garagem da Culturgest. sexta-feira, 23 de fevereiro, há três concertos: Vitor Rua & The Metaphysical Angels, Citizen: Kane & Hobo e Mmmooonnnooo + Quim Albergaria. O festival encerra no sábado, dia 24, com mais três actuações: EITR + Gabriel Ferrandini, Farwarmth e 10.000 Russos + Jonathan Uliel Saldanha.
Todos os concertos na Culturgest arrancam às 21h30 e têm o preço único de 6€. O concerto no Panteão Nacional tem entrada livre, mediante o pagamento do ingresso no Panteão (4€).
Slow Is Possible “Moonwatchers”
(Clean Feed, 2017)
Por esta altura os Slow Is Possible (SIP) já não serão uma completa surpresa, como aconteceu quando apresentaram o seu primeiro disco, editado pela coimbrã JACC Records. Contudo, não deixa de ser surpreendente esta original mescla de referências musicais, que entrecruza elementos de jazz, pós-rock e música de câmara, numa música que acaba por soar cinematográfica.
Os SIP são uma formação original que junta seis excelentes instrumentistas nacionais: Bruno Figueira (saxofone alto), João Clemente (guitarra elétrica e eletrónica), Nuno Santos Dias (piano), André Pontífice (violoncelo), Ricardo Sousa (contrabaixo) e Duarte Fonseca (bateria). Com uma configuração instrumental pouco habitual, o sexteto trabalha composições bem estruturadas, que convocam toda a panóplia instrumental, num inteligente trabalho de orquestração. (…)
Depois de tocar com o violinista Carlos Zíngaro (a 2 Fevereiro na Ler Devagar), o trio inglês Bay’s Leap vai actuar com outro improvisador português, o saxofonista Paulo Chagas. O trio de Noel Taylor (clarinete), Clare Simmonds (piano) e James Barralet (violoncelo) junta-se a Chagas para um concerto de música improvisada. O concerto terá lugar no Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha, no dia 3 de Fevereiro às 17h00.
Marco Franco e Norberto Lobo [Fotografia: Vera Marmelo]
No dia 3 de Fevereiro a Galeria ZDB acolhe as actuações de Montanhas Azuis e Giovanni Di Domenico. O italiano Di Domenico apresenta o disco “Insalata Statica”, ao leme de um octecto que junta Ananta Roosens, Vera Cavallin, Jordi Grognard, Niels Van Heertum, Miquel Casaponsa, Laurens Smet e Joao Lobo.
Montanhas Azuis é um projecto que junta dois músicos portugueses consagrados: Norberto Lobo (guitarra) e Marco Franco (bateria). Neste concerto a dupla vai contar com a colaboração do convidado Bruno Pernadas. Os bilhetes têm o preço de 8€ e estão disponíveis na Flur Discos, Tabacaria Martins e ZDB (segunda a sábado 22h-02h, reservas@zedosbois.org).
Aí está um novo festival, o Juncal Jazz. O Juncal é uma vila do concelho de Porto de Mós e vai acolher um pequeno festival que vai apresentar quatro concertos de jazz durante o mês de Março. O festival arranca no dia 3 com a actuação da Desbundixie; no dia 10 o Juncal recebe a cantora Cláudia Franco (acompanhada por Rui Caetano, João Custódio e Pedro Felgar); e no dia 17 há dois concertos: o Combo Jazz OFA e o novo quarteto do trompetista Diogo Duque (com Pedro Branco, Francisco Brito e José Salgueiro). Os concertos têm lugar na sede da URDJ (Rua Carreira da Vila 10, Juncal).
Este texto foi a minha primeira colaboração com a revista Jazz.pt. Fui convidado a colaborar na Jazz.pt pelo Pedro Costa, na altura o director da revista, e esta crítica foi publicada no seu número 6, edição de Maio/Junho de 2006.
Peter Brötzmann / Han Bennink “Schwarzwaldfahrt“
(FMP, 1977; reed. Atavistic, 2006)
No fim do Inverno, dois músicos resolvem passar alguns uns dias na Floresta Negra, numa zona perto de Donaueschingen. Carregados com pão, bacon da região, truta fumada e algumas garrafas de vinho, instalam-se numa velha casa de madeira. Durante o dia vão para a floresta fazer música, música que surge no meio do arvoredo, música livre, improvisada. Com eles levam saxofones, clarinetes e pouco mais – e utilizam tudo o que encontram pelo caminho como instrumento musical. A história aconteceu em 1977 e teve como personagens dois fundadores da livre improvisação europeia: Peter Brötzmann e Han Bennink. Editado originalmente pela FMP, “Schwarzwaldfahrt” reuniu uma selecção dos melhores momentos que o duo gravou durante aqueles dias. Agora, quase trinta anos volvidos sobre a aventura, o disco foi reeditado, com o bónus de incluir um segundo disco com material que ficou de fora da primeira edição. Se à partida a ideia que esteve por trás da aventura já gerava curiosidade, o duo tratou de não defraudar as expectativas. Brötzmann, que é geralmente considerado o mais fiel seguidor de Albert Ayler, pelo teor incendiário do seu sopro, tem aqui uma prestação relativamente calma, distante do tom abrasivo que lhe é habitual. Han Bennink aproveita todos os objectos para fazer percussão e arranca sonoridades surpreendentes. Quase sempre em concordância, utilizando uma panóplia de instrumentos por vezes impossíveis de identificar, os dois músicos constroem fragmentos de ritmos e melodias que se sustentam em diálogo permanente. Sem alinhar em tretas neo-hippies, esta é uma celebração da música e da natureza, da música que nasce na floresta, nas árvores, na água. Pela dimensão que representa, como manifesto de música improvisada, este álbum é poesia natural.