O contrabaixista Miguel Ângelo acaba de editar o disco Dança dos Desastrados, o terceiro álbum ao leme do seu quarteto. Neste grupo o contrabaixista tem a companhia de João Guimarães no saxofone, Joaquim Rodrigues no piano e Marcos Cavaleiro na bateria. Para este novo disco, Miguel Ângelo teve a preocupação de “criar um objeto diferente, com vida própria, onde a partir da fantástica capa concebida pela artista Maria Mónica, idealizei e criei um site/plataforma/jogo que é uma extensão da própria capa” – link aqui.
Depois de se ter estreado com Branco (2013), o quarteto confirmou a sua qualidade com a edição do disco A Vida de X (2016), mostrando um jazz sólido assente em composições fortes. Pelo meio, Ângelo publicou um excelente disco a solo, I think I’m going to eat dessert (2017), e um novo trio, MAU, com Mário Costa e Miguel Moreira. Novamente editado com o selo Carimbo Porta-Jazz, este Dança dos Desastrados é mais um passo em frente desta formação que reúne quatro excelentes instrumentistas, uma formação bem oleada que pratica um jazz aceso.
O contrabaixista Miguel Ângelo vai agora apresentar este trabalho ao vivo. Aqui fica a agenda dos próximos espectáculos do quarteto.
27 Ago | Porta-Jazz ao Relento, Jardins do Palácio de Cristal, Porto
5 Set | Jazz em Fiães, Santa Maria da Feira
2 Out | Festival Soberao Jazz, Sevilha
3 Out | Clube de Tavira
4 Out | Club Farense, Faro
5 Out | Associação Musical Capricho Setubalense, Setúbal
Ainda em início de actividade, a editora Roda Music já se afirmou na cena jazz nacional com os seus primeiros lançamentos. Agora, a editora prepara o seu primeiro festival, que se realiza entre os dias 16 e 19 de Setembro, em Coimbra, em três palcos: Salão Brazil, Casa das Artes Bissaya Barreto e Teatro da Cerca de São Bernardo. O festival apresenta um conjunto de músicos ligados à editora, destacando-se as estreias de Pedro Branco a tocar Marco Paulo (em trio com João Hasselberg e João Sousa) e do Quarteto de Pedro Moreira, bem como as estreias e lançamentos dos álbuns MATH Trio de João Mortágua e Faro Oeste do Quinteto de Luís Cunha. Ao programa junta-se ainda o trio que editou o disco de estreia da editora, Círculo (Rita Maria, Luís Figueiredo e Mário Franco), o pianista André Cardoso com o projecto solo À procura da mão direita (repertório pianístico português do séc. XXI para a mão esquerda) e os Electroville Jukebox (Rodrigo Pires de Lima no saxofone, José Grossinho na guitarra e João Dias na percussão, com o guitarrista convidado Rui Batista). Aqui fica o programa completo do festival.
16 Set, 21h00 | Salão Brazil Pedro Branco toca Marco Paulo
17 Set, 15h00 | Casa das Artes Bissaya Barreto Workshop: Pedro Branco e João Sousa “Old Mountain: Abordagens à Composição e Performance no Jazz Contemporâneo”
17 Set, 21h00 | Teatro da Cerca de São Bernardo Quarteto de Pedro Moreira
17 Set, 23h00 | Salão Brazil João Mortágua MATH Trio
18 Set, 15h00 | Casa das Artes Bissaya Barreto Conferência: Pedro Moreira “Improvisação como Composição / Composição como Improvisação”
18 Set, 21h00 | Teatro da Cerca de São Bernardo André Cardoso À procura da mão direita
18 Set, 23h00 | Salão Brazil Quinteto de Luís Cunha Faro Oeste
19 Set, 21h00 | Teatro da Cerca de São Bernardo Rita Maria / Luís Figueiredo / Mário Franco Círculo
Contrabaixista e compositor, Bernardo Moreira tem sido uma figura de proa do jazz nacional nos últimos trinta anos, uma das suas figuras quase omnipresentes, além de ser membro da “família real” do jazz nacional, o histórico clã Moreira. Contrabaixista notável, Bernardo tem trabalhado a tradição musical portuguesa nos vários projectos onde se envolve, como o trio de Mário Laginha, o grupo de Cristina Branco ou o novo trio Sul – Songs from the Southwest (com Luís Figueiredo e Bernardo Couto). Um dos trabalhos mais relevantes da sua vasta discografia (entre gravações como líder, co-líder ou sideman) será sem dúvida o disco Ao Paredes Confesso, gravado em sexteto em 2002.
Nesse disco, Moreira propôs-se a uma empreitada desafiante: “jazzificar” a música de Carlos Paredes, combinando as suas melodias com elementos do jazz. E o próprio Paredes foi pioneiro na tentativa de ultrapassar fronteiras de géneros musicais, desde logo ao aceder a um diálogo musical da sua guitarra portuguesa com o contrabaixo de Charlie Haden (encontro registado no disco Dialogues, de 1990). Cruzando universos sonoros, Ao Paredes Confesso ficou cristalizado como um verdadeiro marco para a música nacional. Quase 20 anos depois, Moreira volta a atirar-se ao cancioneiro de Paredes, mas com o cuidado de não repetir a fórmula.
Com um grupo diferente, Moreira propõe uma abordagem distinta. Desta vez, o contrabaixo de Bernardo Moreira conta com a companhia de Tomás Marques (saxofone alto), João Moreira (trompete), Mário Delgado (guitarra elétrica), Ricardo J. Dias (piano) e Joel Silva (bateria). Numa recente entrevista ao jornal Público, Bernardo Moreira explica: “O outro disco foi basicamente um conjunto de músicos de jazz a chamarem o Carlos Paredes para junto de si, um disco de jazz feito por músicos de jazz. Neste, fizemos o processo contrário: pensei que desta vez fazia sentido juntar uma série de músicos com experiências também na área da música popular portuguesa e irmos nós ao encontro do Carlos Paredes, respeitando muito mais a respiração de toda aquela música sem a forçar a vir para o jazz. Aqui, fomos nós a ir ter com ele.”
O disco de 2002 incluía quatro temas de Carlos Paredes e três composições originais de Moreira. Este novo disco inclui seis temas de Paredes: “António Marinheiro”, “Mudar de Vida”, “Canto de Amor”, “Verdes Anos”, “Serenata do Tejo” e “Canto do Amanhecer”. Juntam-se mais dois: “Além de Navio Triste” (música de Ricardo J. Dias) e “A morte saiu à rua” (de José Afonso). A única composição que se repete em ambos os discos é “Verdes Anos”, mas a diferença de interpretação é representativa da diferença de abordagem: se no primeiro disco se tratava de uma versão mais jazzística e compacta (pouco mais de dois minutos), neste nova versão ultrapassa os seis minutos, com trompete e piano a dialogarem longamente, planando sem amarras.
Este novo Entre Paredes revela uma música mais fluída, sem a necessidade de mostrar que se trata de jazz, é apenas música – e as marcas do jazz estão lá, naturalmente, sem serem forçadas. As melodias de Paredes são a âncora e o sexteto trata de as explorar, respeitando a essência, acrescentando novas cores. A qualidade individual dos intérpretes trata ainda de acrescentar brilho (destaque para alguns momentos do trompete de João Moreira, irmão do contrabaixista, e do saxofone de Tomás Marques, jovem talento em processo de afirmação meteórica). Atravessando mundos e reinventando a tradição, este disco fica para a história da música nacional.
Radim Hanousek acaba de publicar o disco Escape, com edição da label checa Ma Records. Durante o seu Erasmus em Portugal, o checo gravou field recordings em Lisboa, Peniche e Sintra e convidou vários músicos para interpretar as partituras gráficas da sua autoria. Participam neste disco cinco músicos da cena nacional (Helena Espvall, Maria do Mar, Hernâni Faustino, Guilherme Rodrigues e Alvaro Rosso) e seis músicos checos (Anežka Nováková, Žaneta Vítová, Jana Vondrů, Peter Korman, Matej Olah e Martin Opršál). As gravações foram depois manipuladas e processadas e o resultado já está disponível para escuta no bandcamp.
O projecto musical A Favola de Medusa acaba de publicar um livro-disco. Herbarium reúne nove faixas, entre temas instrumentais e outros com leituras de poemas do Miguel Martins, num livro de sessenta e duas páginas onde se encontram poemas, textos sobre o percurso e a obra do projecto, fotografias (de Ana Água, João Henrique Viegas e Filipe Homem Fonseca) e pinturas e ilustrações (de Sandra Filipe e Death_by_pinscher). Este livro-disco é editado pela associação cultural A Palavra, com a chancela Cidade Nua, na colecção Batimento.
Aqui fica o texto de apresentação do Herbarium: «De Lisboa aos Jardins Suspensos da Babilónia vão 5763 quilómetros e vinte e um séculos e meio de distância. Isto poderá ser ou não determinante no tom exageradamente positivista com que, muitas vezes, se trata o manejo de plantadores cónicos de bolbos, enxertadores, forquilhas, sachos, escarificadores, tesouras de podar, pás e pulverizadores, na construção de tecidos sonoros em salões nobres e de atmosferas lúdicas em elevadores e átrios de hotel. Há um risco calculado na plantação mecânica de vinhas em espaços sonegados à poesia, pistas asfaltadas de verde em permanente construção de palavras, em que a musicalidade das mãos penetrando uma e outra vez no útero terroso faz lembrar o incansável galope de uma semicolcheia. Pode assim afirmar-se, com a falta de contenção própria da catártica expressão dos recém-nascidos, que nenhum gineceu foi admoestado durante a gravação deste registo. Uma partitura calamitosa, folha perene, chá de tília e insecto que ronda campos de grito e bocas fechadas, prólogo e epílogo plantado em vaso, banho de sol em varanda bucólica. 10000 dias sem respirar e os Campos Elísios a brotarem de muitos peitos, uma mesa de mistura onde a fome se juntou à vontade de comer. Sessões estudadas ao pormenor, caminhos traçados a fogo em mapas submersos; equalizadas as várias frequências que, a par da nubrada modorra invernal, compõem o sentido da vida, chegou-se a um alinhamento silencioso como os intentos de uma raíz aérea e antiga. Pétala-cassete-pirata, erva-princesa-ladrão, jogo-do-pau e maravilhas da técnica, pedúnculo, receptáculo e sépala. Mais que isso: monocotiledónia a dançar na estereofonia.»
O guitarrista João Alegria acaba de editar um novo disco, Vertical (2011/2021). Neste novo disco, editado em formato físico (caixa com 3 CDs) e digital, o guitarrista reúne composições escritas desde 2011. Alegria apresenta este trabalho: “Dez anos de música, quase sempre publicada na net. Transformação é o que me ocorre escrever. Até a rocha é mutável. Trazemos no corpo os traumas, o sofrimento. Depois há o resto. Vertical é a ascensão aos céus, e mais, como li algures, o que não pode ser dito é remetido ao silêncio.” O disco já está disponível no bandcamp.