A Favola de Medusa apresenta Herbarium

O projecto musical A Favola de Medusa acaba de publicar um livro-disco. Herbarium reúne nove faixas, entre temas instrumentais e outros com leituras de poemas do Miguel Martins, num livro de sessenta e duas páginas onde se encontram poemas, textos sobre o percurso e a obra do projecto, fotografias (de Ana Água, João Henrique Viegas e Filipe Homem Fonseca) e pinturas e ilustrações (de Sandra Filipe e Death_by_pinscher). Este livro-disco é editado pela associação cultural A Palavra, com a chancela Cidade Nua, na colecção Batimento.

Aqui fica o texto de apresentação do Herbarium: «De Lisboa aos Jardins Suspensos da Babilónia vão 5763 quilómetros e vinte e um séculos e meio de distância. Isto poderá ser ou não determinante no tom exageradamente positivista com que, muitas vezes, se trata o manejo de plantadores cónicos de bolbos, enxertadores, forquilhas, sachos, escarificadores, tesouras de podar, pás e pulverizadores, na construção de tecidos sonoros em salões nobres e de atmosferas lúdicas em elevadores e átrios de hotel. Há um risco calculado na plantação mecânica de vinhas em espaços sonegados à poesia, pistas asfaltadas de verde em permanente construção de palavras, em que a musicalidade das mãos penetrando uma e outra vez no útero terroso faz lembrar o incansável galope de uma semicolcheia. Pode assim afirmar-se, com a falta de contenção própria da catártica expressão dos recém-nascidos, que nenhum gineceu foi admoestado durante a gravação deste registo. Uma partitura calamitosa, folha perene, chá de tília e insecto que ronda campos de grito e bocas fechadas, prólogo e epílogo plantado em vaso, banho de sol em varanda bucólica. 10000 dias sem respirar e os Campos Elísios a brotarem de muitos peitos, uma mesa de mistura onde a fome se juntou à vontade de comer. Sessões estudadas ao pormenor, caminhos traçados a fogo em mapas submersos; equalizadas as várias frequências que, a par da nubrada modorra invernal, compõem o sentido da vida, chegou-se a um alinhamento silencioso como os intentos de uma raíz aérea e antiga. Pétala-cassete-pirata, erva-princesa-ladrão, jogo-do-pau e maravilhas da técnica, pedúnculo, receptáculo e sépala. Mais que isso: monocotiledónia a dançar na estereofonia.»