[Fotografia: Vera Marmelo]
Rafael Toral acaba de apresentar um novo disco, Open Space. Este novo álbum resulta de uma selecção de faixas do seu Space Program, a produção musical de Toral desenvolvida entre 2004 e 2017. O critério para esta espécie de best of foi, segundo o autor, focar em “temas com uma noção de espaço aberto mais apurada”. Conta Toral: “Já andei longe o suficiente para me afastar e perceber que este é o momento para parar um pouco, olhar para trás e ver a coisa no seu todo. Para minha surpresa, esta coleção de “pérolas” em forma concentrada oferece uma vista de consistência e acuidade que é superior a qualquer dos álbuns, como uma nova síntese. Visto daqui, o Space Program parece ser, no seu todo, uma realização mais conseguida do que eu julgava.”
Aproveitamos para recordar uma recente entrevista, onde Rafael Toral contextualiza o Space Program: “Quando saí do período de transição (entre 2002 e 2004) em que defini como iria funcionar a nova abordagem musical, tracei todo o plano de uma vez. Assumi um compromisso com um mapa de acção. Comecei por lançar Space, que serviu como enunciar de intenções e apresentação de matérias, sob a forma de uma orquestra electrónica em que eu toquei todos os instrumentos (excepto a participação de Sei Miguel e Fala Mariam). Depois duas séries de discos, uma de gravações a solo (Space Solo 1 e 2) e outra de composições minuciosas com colaboradores próximos como César Burago, Riccardo Dillon Wanke ou Manuel Mota, e convidados, como David Toop, Tatsuya Nakatani ou Evan Parker. Desta série resultaram os álbuns Space Elements I, II e III. Ao vivo, estabeleci uma série de mapas de exploração de possibilidades em fraseado para cada instrumento a que chamei Space Studies, acho que foram oito. Mais tarde, comecei a dirigir formações cujo número indicava de quantas pessoas se compunha — o Space Collective, cuja aparição mais recente produziu o Moon Field. Estas formações tocavam num regime mais ou menos aberto quanto ao conteúdo das partes individuais mas estas eram cronometradas e aplicadas segundo uma partitura. Daí deu-se o salto para o Space Quartet, que opera de modo semelhante quanto aos materiais, mas cujas partes já são decididas autonomamente pelos músicos, sem partitura e sem sincronismo. No plano pedagógico, tenho oferecido o Space Program Workshop, dirigido a músicos de electrónica na óptica do hacking ou circuit bending, que trata não da tecnologia mas do que fazer com ela. Um trabalho sobre escuta, articulação e estruturação de discurso musical. Hoje, o programa discográfico está completo e encerrado, mas o trabalho que continuo a desenvolver cresce a partir do que fiz nestes últimos 15 anos.”
O novo disco Open Space tem distribuição exclusivamente digital e pode ser encontrado aqui.