Disco: “Song(s) of Hope” de João Lencastre

João Lencastre’s Communion 3
Song(s) of Hope
(Clean Feed, 2019)

O ano de 2019 foi intenso para João Lencastre, que se desdobrou em diversas aventuras musicais. O baterista, compositor e improvisador lançou dois importantes – e diferentes – discos: Parallel Realities (FMR Records), gravado com Albert Cirera (saxofones), Rodrigo Pinheiro (piano), Pedro Branco (guitarra) e João Hasselberg (contrabaixo, baixo e electrónica); e este Song(s) of Hope (Clean Feed) ao leme do seu grupo Communion 3. Integrou um grupo originalíssimo que juntou músicos ligados ao mainstream e à vanguarda, um quarteto que o juntou com Rodrigo Amado, Ricardo Toscano e Hernâni Faustino (“fez história, mudando o cenário do jazz português”, escreveu Rui Eduardo Paes no site Jazz.pt). E participou no Nau Quartet, quarteto liderado pelo seu irmão José Lencastre, que editou o álbum Live In Moscow (Clean Feed), entre outras colaborações e parcerias.

Este disco é o segundo registo da mais recente formação do grupo Communion III, onde a bateria de Lencastre encontra o contrabaixista norueguês Eivind Opsvik e o pianista norte-americano Jacob Sacks. Esta é terceira encarnação do grupo Communion, que nas versões anteriores integrou músicos notáveis como David Binney, Thomas Morgan, Bill Carrothers e Phil Grenadier. No disco de estreia do trio, Movements In Freedom, o trio Sacks / Opsvik / Lencastre desenvolveu uma articulada comunicação a três, explorando a beleza do jazz mais livre com sofisticação rara. Este Song(s) of Hope é a continuação natural desse degrau inaugural, levando a empreitada um pouco mais além.

Ao longo de dez temas – sobretudo temas de curta duração (apenas três deles passam dos cinco minutos) – o trio exibe a sua contínua exploração sonora, entrando por terrenos cada vez mais livres. O piano de Sacks é um foco impossível de evitar, pela sua omnipresença e acutilância. A bateria de Lencastre, versátil e adaptável, não pára de dar soluções e ideias. E o contrabaixo de Opsvik, sempre atento, resolve a ligação entre sectores. Desafiante, sóbria e bela, esta música não é completamente imediata, mas vai-se revelando devagar e acaba por conquistar o ouvinte sem qualquer reserva.