Radicada em nova Iorque, a cantora e compositora Sara Serpa é uma das figuras mais brilhantes que já emergiram do jazz nacional. Com um percurso ascendente, Serpa editou em 2020 o magnífico Recognition, disco onde explorava a herança colonial portuguesa, numa abordagem musical em parceria com Mark Turner (saxofone tenor), David Virelles (piano) e Zeena Parkins (harpa). A cantora lança agora este novo Intimate Strangers, uma parceria com o escritor nigeriano Emmanuel Iduma. Este novo trabalho faz ligação com Recognition, tendo agora como foco experiências de migrantes e refugiados, com Serpa a compor música original que acompanha os textos de Iduma. Na interpretação, a par de Sara Serpa (voz), estão Emmanuel Iduma (spoken word), Sofía Rei e Aubrey Johnson (vozes), Matt Mitchell (piano) e Qasim Naqvi (sintetizador modular). O resultado é uma música original que cria ambientes que reforçam o peso das palavras, sempre ancorada na sobriedade e elegância típicas de Sara Serpa. Esta é mais uma excelente obra a somar a uma já riquíssima discografia.
O trio de Luís Vicente, que editou recentemente o excelente Chanting in the name of (Clean Feed),vai apresentar-se ao vivo na Galeria ZDB, em Lisboa. Neste grupo o trompetista está acompanhado por dois músicos nacionais, Gonçalo Almeida no contrabaixo e Pedro Melo Alves na bateria. O trio apresenta-se ao vivo na ZDB na sexta-feira, dia 17 de dezembro, às 22h00, e a entrada tem o preço de 7€.
Recordemos aqui algumas palavras sobre o disco: “O trio desenvolve uma música que, partindo de composições originais, tem o seu eixo na improvisação ancorada no jazz. Os três instrumentistas navegam à vontade, em segurança, explorando caminhos, sem perder o norte. Ao longo de cinco temas o trio Vicente/Almeida/Melo Alves pratica um diálogo em modo jazzístico onde não sobram pontas soltas, onde cada um dos instrumentistas se evidencia.”
Bernardo Sassetti morreu em 2012. Pianista, compositor e improvisador, Sassetti foi uma das figuras mais brilhantes do jazz português, sobretudo ao leme do seu trio, com Carlos Barretto e Alexandre Frazão. A editora Clean Feed vai agora editar uma gravação inédita do trio, o registo de uma atuação que o grupo deu no grande auditório da Culturgest, em Lisboa, em setembro de 2007.
Assinalando a edição deste novo disco, simplesmente designado Culturgest 2007, será realizado um concerto de homenagem com um trio que reúne os antigos parceiros de Bernardo Sassetti, Carlos Barretto (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria), com o contributo do pianista João Paulo Esteves da Silva. O concerto terá lugar na próxima quarta-feira, dia 15 de dezembro, na Culturgest, e o trio promete recordar em palco a música intemporal de Sassetti.
Acaba de ser anunciada a programação da Festa do Jazz. A festa realiza-se nos dias 18 e 19 de Dezembro em Lisboa, entre o Centro Cultural de Belém (Pequeno Auditório), o Espaço Espelho D’Água e a Livraria Ler Devagar (Lx Factory). A Festa do Jazz volta a contar com a RTP Palco como parceira, os concertos serão transmitidos em directo e todos os conteúdos estarão disponíveis na plataforma.
Este ano a programação conta com a colaboração de Beatriz Nunes e Pedro Melo Alves: a cantora convidou o duo Mariana Dionísio & Leonor Arnaut; o baterista convidou os HUH! (Bruno Ramos na guitarra e pedais, Guilherme Rodrigues no saxofone alto e objetos, Miguel Gonzalez na bateria e percussões e Zé Maria no saxofone barítono e alto, flauta transversal).
No programa destacam-se ainda diversos projetos que confirmam a vitalidade e diversidade do novo jazz nacional: como Bock Ensemble de Diogo Alexandre, ENTER THE sQUIGG de Mané Fernandes, FOCA (André Fernandes, Mário Laginha, José Pedro Coelho, João Hasselberg e João Pereira), Garfo (excelente disco homónimo editado pela Clean Feed), César Cardoso com Dice of Tenors e Sara Serpa Trio (com Ingrid Laubrock e Demian Cabaud). Aqui fica o programa completo da festa.
18 Dezembro | Sábado
Espaço Espelho d’Água
15h00 | Debate “Ensino no Jazz“
17h00 | Encontro Nacional de Escolas Escola de Jazz do Barreiro / José Cardoso Ferreira Escola Artística do Conservatório de Música de Coimbra Escola Jazz Luiz Villas-Boas / Hot Clube de Portugal
19h00 | Showcases Escolas Superiores Escola Superior de Música de Lisboa
CCB
16h00 | Mariana Dionísio + Leonor Arnaut
17h00 | Diogo Alexandre Bock Ensemble
21h00 | ENTER THE sQUIGG
21h50 | Prémios RTP / Festa do Jazz 2021
22h00 | FOCA
Livraria Ler Devagar
23h00 | Jam Session com Mancha
19 Dezembro | Domingo
Espaço Espelho d’Água
15h00 | Debate “Portugal Jazz”
17h30 | Encontro Nacional de Escolas Curso Profissional de Instrumentista de Jazz da Escola Básica e Secundária da Bemposta Conservatório de Música do Porto JAM – Jazz Academy of Music
18h30 | Showcases Escolas Superiores Jazz e Música Moderna da Universidade Lusíada de Lisboa ESMAE Jazz Ensemble
CCB
16h00 | HUH!
17h00 | Garfo
21h00 | César Cardoso Dice of Tenors
21h50 | Encontro Nacional de Escolas – Prémios Lurdes Júdice
Kiko & The Blues Refugees Theadbare (Independent Records, 2021)
São ainda poucas as vozes masculinas no mundo do jazz em Portugal e, felizmente, começam agora a surgir e afirmar-se novos valores, como Manuel Linhares e João Neves. Contudo, é também bom vermos os pioneiros a regressar, especialmente quando o fazem em boa forma. Kiko Pereira é um cantor de vastos recursos, que ao longo da sua carreira tem explorado diferentes géneros – incluindo o jazz, onde se destaca o óptimo disco Raw (2003). Agora Kiko apresenta um trabalho dedicado ao blues, Threadbare, acompanhado pelo grupo The Blues Refugees. Esta formação junta António Mão de Ferro (guitarras), Jorge Filipe Santos (teclados), Carl Minnemann (baixo) e João Cunha (bateria). Neste novo disco, o cantor e compositor apresenta um conjunto de onze temas originais, que abordam temas da contemporaneidade (os títulos como “Fake news” ou “Sugar for your Instagram” são demonstrativos). O disco abre em alta, com “If this is the end of me”, em toada lenta: metade Springsteen, metade soul. Threadbare é um compêndio de blues clássico, com energia e entrega. Se a composição é boa, a interpretação e a produção são irrepreensíveis, o que resulta num objecto de inestimável qualidade.
A editora Phonogram Unit acaba de editar três novos álbuns. Neste final de ano a label portuguesa, focada na improvisação livre, apresenta Aforismos do trio Vasco Furtado / Salome Amend / Luise Volkmann, Forces in Motion do trio José Lencastre / Hernâni Faustino / Vasco Furtado e 290421do Voltaic Trio.
Aforismos apresenta a bateria de Vasco Furtado acompanhada por duas instrumentistas alemãs, a percussionista Salome Amend (aqui no vibrafone) e Luise Volkmann no saxofone. Esta formação instrumental atípica trabalha uma música igualmente inaudita, num trabalho de improvisação sem rede surpreendente e invulgar.
O trio constituído por José Lencastre (saxofone alto), Hernâni Faustino (contrabaixo) e Vasco Furtado (bateria) estreou-se com Vento, álbum que marcou também o arranque de atividade da editora Phonogram Unit. Neste seu segundo registo, Forces In Motion, o trio continua um diálogo exploratório recheado de ideias, assombrado por elementos de natureza jazzística.
Já o Voltaic Trio reúne Luís Guerreiro (trompete e eletrónica), Jorge Nuno (guitarra eléctrica) e João Valinho (bateria), que apresenta com o disco 290421. Este álbum leva-nos para um universo sonoro radicalmente distinto. Trompete, guitarra e bateria tratam de desenvolver uma espécie de rock esquizofrénico sem amarras, mistura de improv psicadélico e raiva, experimentação e energia. Alta intensidade, sempre no vermelho.
Guitarrista original, João Alegria tem desenvolvido um percurso interessante. Integrou a primeira formação do trio Bande à Part, vem trabalhando em vários duos – com Ricardo Ribeiro, Leonor Castro (Tacet), Carlos Godinho (quem) e Bruno Sousa Villar (devir) – e actuou a solo no festival Rescaldo 2012. Desde 2011, Alegria tem publicado gravações a solo na sua página Bandcamp, ciclo que foi agora encerrado com a edição do disco, Vertical (2011/2021). Este álbum, triplo, reúne toda esta produção a solo, sendo editado em formato físico, numa caixa com 3 CDs. Aqui ouvimos, ao longo de três horas, longas explorações atmosféricas, drones demorados pontuados por subtis intervenções. O resultado é uma música claustrofóbica, recheada de tensão, nublada, onde raramente se abre espaço para raios de sol.