Carimbo Porta-Jazz: 10 discos

Ainda a propósito dos dez anos do Festival Porta-Jazz, faz sentido revisitar o catálogo de meia centena de discos publicados pelo selo editorial Carimbo Porta-Jazz. Em jeito de celebração, aqui fica uma seleção de dez discos do Carimbo: dez discos que reflectem a diversidade, criatividade e vitalidade do jazz portuense contemporâneo.


José Pedro Coelho – Clepsydra (2012)
“Para este seu álbum de estreia na condição de líder o saxofonista escolheu uma secção rítmica potente: Demian Cabaud no contrabaixo, Marcos Cavaleiro na bateria. Junta-se o piano de Hugo Raro, a guitarra de Miguel Moreira e o saxofone tenor do líder da formação, Coelho (que além do sax tenor ainda se serve também do clarinete baixo). Aqui há muita atenção às composições (de Coelho), e estas acabam por se revelar mais directas e abrem mais espaço para as intervenções individuais dos instrumentistas. O saxofone acaba por ser quem mais se destaca, com solos de grande fulgor e fraseados de delicada imaginação.”

Coreto Porta-Jazz – Mergulho (2014)
“Se no primeiro disco o líder do projecto foi o saxofonista João Pedro Brandão (responsável por todas as composições e pela orquestração), para este segundo álbum o grupo está sob a direcção do guitarrista AP (António Pedro Neves). O grupo reúne alguns dos instrumentistas mais talentosos do Norte, como os palhetistas João Pedro Brandão e José Pedro Coelho, a trompetista Susana Santos Silva ou o pianista Hugo Raro. Os temas de AP servem-se do potencial do grupo, explorando diferentes ambientes, combinando a energia de big band com a criatividade dos instrumentistas. Acima de tudo há que realçar a qualidade das composições de AP, particularmente a magnífica Suite da Terra, que na sua amplitude e diversidade é a essência deste disco. Este é já um dos melhores registos da colecção Porta-Jazz e, se a passagem do tempo lhe fizer justiça, ficará para a história do jazz feito em português.”

João Mortágua – Janela (2014)
“Mortágua revela desde logo um óptimo domínio instrumental, num disco marcado pela originalidade, com o saxofonista a assinar todas as composições. A nível instrumental há bons apontamentos, solidez e imaginação — veja-se a exploração do saxofone em Girândola ou Lego. O apoio da secção rítmica é notável, mas há que valorizar sobretudo o trabalho na guitarra de Miguel Moreira, muito presente.”

Ensemble Super Moderne –  Ensemble Super Moderne (2014)
“O octeto assenta a sua música num originalíssimo trabalho de composição e arranjos, que envolve todo o grupo. A prestação é altamente criativa e desafiante, marcada pelas constantes quebras de ritmo e pelas mudanças bruscas de sentido e direcção. A interpretação é irrepreensível e o grupo mostra a sua excelente dinâmica, com todos os músicos a revelarem concentração, atentos a todas as guinadas que a composição obriga. Instrumentistas consagrados como José Pedro Coelho (saxofones), Carlos Azevedo (piano) ou Miguel Ângelo (contrabaixo) contribuem especialmente para a força do colectivo – sempre coeso, sempre vibrante.”

The Rite of Trio Getting All the Evil of the Piston Collar! (2015)
“O grupo de André Bastos Silva (guitarra eléctrica), Filipe Louro (contrabaixo) e Pedro Melo Alves (bateria) apresentou a música do seu disco de estreia, Getting All the Evil of the Piston Collar!. Se o título é inesperado e extravagante, também o é a sua música. O trio combina momentos de perfeita swingadela “old school” com riffalhadas de rock sujo, alternando entre uníssonos milimétricos e improvisação explosiva. E por vezes tudo isto acontece dentro do mesmo tema, no espaço de poucos segundos.”

Susana Santos Silva – Impermanence (2015)
“O quinteto trabalha um conjunto de temas originais de Santos Silva, que se consagra aqui como excelente compositora, fazendo uma música de horizontes largos, a explorar os pontos fortes de cada um dos seus parceiros. Tal como a recente geração do jazz nortenho mais criativa (Ensemble Super Moderne, octeto de João Guimarães e Coreto Porta-Jazz), o trabalho de composição de Santos Silva atravessa diferentes universos, assumindo aquilo que parece ser uma marca de contemporaneidade: a abertura a uma grande amplitude estética. E, apesar dessa diversidade, a música resulta fluida, salientando as dinâmicas de grupo e aproveitando as características individuais de cada instrumentista. Esta música não se fixa, balança entre mundos, ora embala na ginga de Geringonça, ora soa austera como no arranque solene de Oblivious trees. Mas se há tema representativo, será Imaginary life: primeiro às voltas na melodia sedutora, sempre recorrente, envolvendo os vários elementos do grupo, até que o final se abre para a exploração solo do trompete, com Susana a exprimir todos os seus recursos.”

Pedro Neves Trio – 5:21 (2015)
“Assente no trio clássico de piano, o álbum 05:21 é assinado por Pedro Neves, autor de todas as composições, auxiliado aqui por Miguel Ângelo no contrabaixo e Leandro Leonet na bateria. Estreado em 2013 com o disco Ausente, o trio trabalha neste registo uma música mais directa e aberta. Se o piano se exibe em óptimo nível, o contrabaixista rouba o holofote logo ao primeiro tema, com um solo marcante. Neves pincela os temas com exuberância, bem acompanhado pelos parceiros de trio, num permanente jogo de alta intensidade dinâmica. A qualidade da composição é ampliada pela fulgurante interpretação do trio, resultando num disco muito acima da média.”

Miguel Ângelo Quarteto – A Vida de X (2016)
“Ângelo lidera aqui um quarteto com o saxofonista João Guimarães, o pianista Joaquim Rodrigues e o baterista Marcos Cavaleiro. Como é característico de quase todas as edições Porta-Jazz, também aqui todos os temas são originais e Miguel Ângelo assina dez temas com personalidade bem definida. O quarteto trabalha uma música focada, colectiva e individualmente, com o destaque a incidir naturalmente sobre saxofone de Guimarães, que ziguezagueia com graça, e sobre o piano, que contribui com precisão. Neste seu segundo álbum como líder, o contrabaixista segue as linhas que já tinha exposto no disco de estreia, Branco – uma música franca, directa e intensa.”

The Nada – The Nada (2017)
“O quarteto pratica uma música aberta, um jazz eléctrico moderno com espaço amplo para a improvisação. Daí nasce uma música fresca, que combina toadas atmosféricas com fraseados claros, sempre com a eletricidade ligada. Há um desfile de ideias, energia e tensão, sem descarrilar, em equilíbrio. Da Porta-Jazz tem chegado uma torrente de música original, redefinindo e alargando o conceito do jazz contemporâneo Made In Portugal.”

Gonçalo Marques – Linhas (2019)
“Neste novo disco em nome próprio Marques dá mais um passo em frente na sua carreira, liderando um quarteto de músicos internacionais: Jacob Sacks no piano, Masa Kamaguchi no contrabaixo e Jeff Williams na bateria. Marques assina todos os temas, este disco é constituído exclusivamente por originais. As composições abrem espaço para a interpretação dinâmica do quarteto, onde se destaca o som quente do trompete. Temas elegantes, interpretados com precisão e a intensidade certa.”