Bernardo Sassetti
Solo
(Casa Bernardo Sassetti, 2019)
O impacto de Bernardo Sassetti na cena do jazz português – e na música portuguesa em geral – é incomensurável. Pianista e compositor, Sassetti contribuiu decisivamente para definir o cânone da música portuguesa contemporânea, particularmente com os seus discos editados na primeira década do século XXI. O pianista iniciou a sua discografia ainda nos anos ’90, mas é na década de ’00 que cristaliza a sua música, ao editar os trabalhos artisticamente mais relevantes: Nocturno (2002), Indigo (2004), Alice (2005), Unreal: Sidewalk Cartoon (2006) e Motion (2010); além de colaborações memoráveis com Mário Laginha, Will Holshouser e Carlos do Carmo, entre outros.
A música de Sassetti foi definida por um magnífica sensibilidade interpretativa, combinando uma preciosa atenção à melodia ao mesmo tempo que embarca em sublimes explorações dentro da cada tema, resultando frequentemente numa ambiência cinematográfica (e são várias as ligações da sua música ao cinema). A sua morte, em 2012, deixou um vazio enorme, interrompeu cruelmente um percurso que prometia ainda mais, e confirmou o estatuto de lenda.
Em 2019 a música de Sassetti continua viva. Por iniciativa da Casa Bernardo Sassetti, instituição fundada após a sua morte para promover o seu legado, a música de Sassetti tem sido revista e reinterpretada por músicos da nova geração do jazz português (Ricardo Toscano e Bruno Pernadas já o fizeram) e este ano foram editados dois trabalhos que se servem do seu repertório para apresentar homenagens originais: The Wake of an Artist – Tribute to Bernardo Sassetti pelo Alberto Conde Iberian Roots Trio e Big Band Júnior Abraça Sassetti pela Big Band Júnior.
Este disco Solo, agora publicado pela Casa Bernardo Sasseti, reúne um conjunto de gravações que o pianista efectuou no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, no ano de 2005. Na altura corria a crença de que o piano do teatro tinha características únicas e Sassetti foi aos Açores gravar a sua música, composições novas e antigas, na companhia do produto Nelson Carvalho.
Os temas aqui apresentados seguem na linha daquilo que lhe conhecemos, sem particular novidade, navegando entre a tradição portuguesa e a atmosfera do cinema, sempre trabalhados com detalhe, delicadeza e sofisticação. Além dos temas da sua pena, há ainda uma revisão da composição “After the Rain” de John Coltrane, que Sassetti refaz explorando a sua carga dramática – e que encaixa de forma perfeita no alinhamento do disco.
Conforme anunciou a directora artística da Casa, Inês Laginha, este disco é apenas o primeiro de nove álbuns inéditos, que serão editados nos próximos anos. A memória de Sassetti não se apaga, mas estas gravações relembram-nos a beleza intemporal da sua música. Venham os próximos!