Vítor Feitor apresenta-se

Vítor Feitor é um clarinetista, compositor e improvisador português. No momento em que acaba de editar o disco “Patterns For…”, em parceria com o pianista italiano Alessio Velotti, Feitor apresenta-se.

Pode apresentar o seu percurso?
Iniciei os meus estudos musicais académicos na Academia de Amadores de Música de Lisboa a que se seguiu a Escola Superior de Música de Lisboa (licenciatura) e dois mestrados, um em Ensino do Clarinete, outro em Direção de Orquestra.  Desde os tempos da Academia que comecei a interessar-me não só pela música clássica como também pela bossa nova, chorinho e o jazz, muito por culpa dos projetos onde me ia inserindo e dos músicos que se iam cruzando comigo.  Para além dessa formação, estudei piano na Juventude Musical Portuguesa e improvisação com o saudoso saxofonista Jorge Reis. Realizei ainda diversos worshops dentro dessas áreas com Carlos Zíngaro e Paulo Gaspar (música improvisada) ou Celso Machado e Ricardo Moyano (música brasileira), tal como na área mais clássica com os clarinetistas Antony Pay, Yehuda Gilad, Fabrizio Meloni, Philippe Cuper e Jonathan Cother, entre muitos outros. Integrei diversos projetos de chorinhos com o guitarrista Joaquim Nascimento e de música improvisada (projeto RAUM do compositor Paulo Duarte, 1º Prémio Jovens Criadores, na bienal de Braga em 1999). Em 2001, já como membro fundador do projeto Osivorpmi Trio, com os músicos Fausto Ferreira e João Monteiro, voltei a ganhar o mesmo prémio, desta vez em Coimbra. Durante o meu percurso realizei a estreia de diversas obras entre as quais dos compositores: Sérgio Azevedo e João Antunes (Teatro São Luiz), Carlos Marecos ou Gonçalo Lourenço (Gulbenkian). O meu percurso tem-se dividido entre o ensino, dando aulas em diversas instituições, a direcção de orquestra e a realização de concertos nas três vertentes: música clássica, direcção de orquestra e a improvisação.

Influências determinantes para a sua própria música?
As influências são bastantes ecléticas, desde a minha formação base, à música contemporânea e impressionista, passando pela inevitável música brasileira proveniente da bossa nova ou de Hermeto Pascoal, ou mesmo a influência de músicos como Louis Sclavis e Michel Portal tiveram na forma de abordar a música.  Como realizo um exercício semanal de procurar ouvir sempre alguma coisa nova, e como passo muitas horas a conduzir, o carro acaba por ter bastante influência no que ouço e onde algumas ideias são registadas para trabalhar posteriormente. As minhas composições acabam por beber a linguagem que vou absorvendo, o que penso que acaba por ser inerente toda a gente. A minha música acaba por ser uma extensão do que sou, um despir de alma, o deixar brotar cá para fora o que lá está dentro. A riqueza rítmica que encontramos na bossa nova tal como a toada consonante em contraste com a dissonância e técnicas da música contemporânea interlaçadas muitas vezes por pedalizações de nota são sem dúvida uma marca que encontro nas minhas músicas, pelo menos nesta fase.

Qual a sua ligação com o jazz?
Começou na adolescência ao ouvir algo que para um clarinetista era inevitável, Benny Goodman. Embora não me sentisse muito atraído pelo seu estilo e som, só mais tarde quando comecei a descobrir Louis Sclavis, Michel Portal, Eddie Daniels, a porta do jazz se abriu por completo e vieram as incontornáveis horas a ouvir Charlie Parker, Keith Jarrett, Coltrane, Arturo Sandoval ou Paquito D’Rivera.

No processo de composição, quais os elementos que mais valoriza?
O meu processo de composição parte um pouco pela decomposição de ideias que vão surgindo e nas quais acabo por trabalhar por vezes ou deixar fluir. Acabo por valorizar os princípios formais e estruturais do discurso, tal como realizar variações rítmicas ou melódicas sobre o mesmo discurso, procurando por vezes uma economia de material temático, a qual não é alheio os ensinamentos que tive da música de Fernando Lopes-Graça, por meio da minha tese de mestrado sobre as Suites Rústicas do compositor.

Planos para o futuro?
Os planos para o futuro passam por fazer a apresentação do meu CD “Patterns For…”, com o pianista Alessio Velloti e com participação do percussionista João Monteiro, tal como a realização de uma tourné de apresentação do álbum, a que se seguirá o lançamento de “Trend”, projeto a solo com obras contemporâneas para clarinete solo, gravado nos Estúdios SantaRosa, que está praticamente gravado e concluído e será lançado no inicio de 2019. Quero retomar também também o projeto de bossa nova e chorinhos que tenho com o guitarrista Joaquim Nascimento. Por fim, quero continuar a descobrir, a evoluir ou a fazer estrada com os meus projetos.