O pianista e compositor Júlio Resende é já um dos nomes maiores do jazz nacional. Estreou a sua discografia com o disco “Da Alma”, em 2007, e desenvolveu um percurso jazzístico com os aplaudidos discos “Assim falava Jazzatustra” (2009) e “You Taste Like a Song” (2011). Mais recentemente tem trabalhado uma reinterpretação pessoal do repertório do fado, registada nos discos “Amália por Júlio Resende” (2013) e “Fado & Further” (2015). Em 2017 fundou o grupo Alexander Search, quarteto que integra o cantor Salvador Sobral. Vai editar um disco novo, acaba de relevar o primeiro single, “Fado Cyborg“, e vai apresentar-se ao vivo no Teatro Tivoli BBVA (2 de Novembro) e na Casa da Música (13 de Novembro). Três discos? Estas são as suas escolhas.
Bernardo Sassetti
“Nocturno”
(Clean Feed, 2002)
“Tenho muitas saudades do Sassetti. Quando tinha 18 anos e morava em Olhão liguei-lhe a dizer que ia morar para Lisboa e gostava de ter uma aula com ele. Ele nunca me deu essa aula. Ele não gostava de dar aulas. E eu percebo, dar aulas é muito perigoso, porque se corre o risco de se estar a ensinar mal. Em vez disso almoçámos juntos num hotel. Ahah! Mas o Sassetti deu-me todas as aulas que eu precisava com os seus discos, com a sua dedicação e entrega à música que eu lhe via nos olhos e nas ações, e a sua incrível gargalhada. O tipo tinha uma gargalhada incrível! “Nocturno” é ainda o disco do fabuloso trio que contém os (agora amigos lindos!) Carlos Barretto e Alexandre Frazão. É um disco de craques, é um disco para reouvir, é um disco que queremos sempre perto, é um “filho” do Sassetti e os nossos filhos, como diz o poema, são imortais.”
Keith Jarrett
“The Köln Concert”
(ECM, 1975)
“Mais uma vez, era ainda jovem adolescente, ainda morava em Olhão, e o carismático Manuel Jorge Veloso tinha um programa de jazz na Antena 2 (julgo que às 23h de domingo ou às 00h) que eu ouvia religiosamente. Esqueçam lá a internet. Não havia. Escutei este concerto e senti algo como: “epá, para além de estar a ser lindíssimo e forte, isto parece-me improvisado!” Eu na altura não tinha essa informação porque quase nada sabia sobre o Jarrett e nada sabia sobre o disco, só consegui entender que era improvisado pelo ouvido, pelo modo como tocava. A música parecia que estava destinada a ser aquela, como se estivesse já escrita, mas ao mesmo tempo havia uma fluidez que me indicava algo mais corajoso, algo a ser escrito no momento. Marcou-me. Há alguém que não seja marcado por isto?”
Brad Mehldau
“Introducing”
(Warner, 1995)
“Vá se lá saber como, a Worten em Olhão (imagine-se!) tinha na altura nas suas prateleiras um primeiro disco de um tal de Brad Mehldau Trio que eu tinha escutado no canal de cabo Muzzik e que tinha adorado. Dirigi-me ao supermercado e lá estava o disco. Nessa altura já tocava nos bares lá pelo Algarve e ganhava uns trocos e comprei o disco por 890 escudos, acho. Vim para casa meti o CD na aparelhagem, e poucas vezes de lá saiu até agora. Ahaha! Mentira! Tenho ouvido outras coisas, mas esse CD fez me encontrar alguém que eu sentia que já nessa altura estava a levar a estética do piano jazz para a frente. Alguém vivo e jovem. E estava ali à minha frente. Para me guiar. Para me dizer que é possível sermos diferentes. Um grande disco com dois trios, porque nessa altura o Brad ainda não sabia qual era a formação com que queria tocar e seguir carreira: se com o Jordy Rossy e o Grenadier, se com o McBride e o Brian Blade. Pois é, até o Brad tem dúvidas. Ouviu, senhor Cavaco Silva?”