A convite do festival de cinema Porto/Post/Doc escrevi a folha de sala “Músicas tribais” sobre os filmes “Barulho, Eclipse” e “Nyo Vweta Nafta”, de Ico Costa.
“Sob o pseudónimo Dirty Beaches, Alex Zhang Hungtai editou entre 2007 e 2014 vários discos, com destaque para o excelente disco “Badlands” e os singles “True Blue” e “Lord Knows Best”. Zhang Hungtai já havia mostrado vontade de explorar diferentes mundos sonoros quando apresentou o espectáculo “Landscapes in the Mist” no Teatro Maria Matos (Abril de 2014), tendo na altura tocado apenas saxofone tenor e guitarra eléctrica. Sem ligação prévia ao trabalho de Alex Zhang Hungtai, os portugueses David Maranha e Gabriel Ferrandini vêm desenvolvendo percursos sólidos entre a música experimental e a improvisada, trabalhando também em duo – editaram um LP “A Fonte de Aretusa” (Mazagran, 2011). Maranha e Ferrandini juntaram-se a Zhang Hungtai num trio, a partir de um convite da editora Blue Note para a criação de um filme para a Blogotèque, homenageando John Coltrane. Após essa primeira colaboração o trio resolveu continuar com a parceria, editando o disco “Âncora” (Grain of Sound, 2016). Num passo em frente da parceria, o trio juntou-se com mais dois músicos nacionais: Pedro Sousa (saxofonista) e Júlia Reis (baterista das Pega Monstro). O quinteto recém-formado estreou-se com um concerto na Galeria ZDB, assumindo a designação “Rahu”: quinteto à volta de percussão, desenvolvendo um trepidante ritmo tribal em crescendo, onde se junta o saxofone de Sousa a cuspir labaredas. O filme de Ico Costa documenta esse concerto, numa austera fotografia a preto e branco com grão, mostrando a música a evoluir lentamente, numa espécie de mantra, num processo de desenvolvimento crescente, até rebentar. E o detalhe dos rostos dos músicos, e as suas expressões particulares, reflectem a imensa energia dessa música. (…)”