3 discos? A escolha de Fabricio Vieira

Fabricio Vieira, jornalista brasileiro, é editor do site Free Form, Free Jazz, página dedicada à música improvisada, criada em 2009. Escreveu sobre jazz para a Folha de S. Paulo e foi correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente escreve sobre livros e jazz e é autor de liner notes para discos de Roscoe Mitchell e Ivo Perelman.

“Selecionar três discos no universo jazzístico parece tarefa impossível. O que escolher? Para aliviar a sensação de estar cometendo injustiça com esse ou aquele músico, tentei buscar algum critério para tal seleção. Tendo em foco a seara free jazzística, destaquei três álbuns que são fundamentais para mim, como ouvinte, mas que também representam momentos maiores dessa música, englobando diferentes períodos e gerações.”


The Peter Brötzmann Octet – “Machine Gun”

(Brö, 1968)

“O saxofonista alemão Peter Brötzmann tinha apenas 27 anos quando entrou em estúdio com seu octeto para gestar esta obra-prima. Marco dos tempos iniciais do free jazz europeu, Machine Gun é um álbum que não perdeu intensidade, sendo indiscutivelmente atual mesmo passados exatos 50 anos desde sua criação. O grupo comandado por Brötzmann, formado por músicos de Holanda, Bélgica, Suécia e Inglaterra, trazia alguns dos que estariam entre os mais destacados instrumentistas do free vindo da Europa: os saxofonistas Evan Parker e Willem Breuker; os bateristas Han Bennink e Sven-Ake Johansson; os baixistas Peter Kowald e Buschi Niebergall; e o pianista Fred Van Hove – que time! O disco original traz apenas três peças, “Responsible”, “Music for Han Bennink” e a faixa-título, um dos temas mais marcantes do free jazz.”

 

 
David S. Ware Quartet – “Godspelized”

(DIW, 1996)

“O saxofonista David S. Ware (1949-2012) é um dos nomes centrais da minha discoteca, um músico que considero especialmente importante, tanto como improvisador quanto como compositor. Para mim, sua obra representa um dos pontos mais elevados da música free jazzística, notadamente pelo que desenvolveu durante a década de 1990. E este “Godspelized” traz alguns dos momentos mais iluminados de seu fantástico quarteto, que contava com nada menos que William Parker (baixo), Matthew Shipp (piano) e Susie Ibarra (bateria). Ouvir a música de Ware é sempre uma experiência única.”

 


Peter Evans – “Zebulon”

(More is More, 2013)

“Em um período de grande ebulição inventiva no trompete, Peter Evans surge como o mais incrível nome do instrumento hoje. Músico jovem, que iniciou sua carreira no século XXI, Evans tem tocado diferentes projetos de grande repercussão, com instigante variedade estética, a destacar seu Quintet e as criações para trompete solo. Neste grupo formado ao lado de John Hébert (baixo) e Kassa Overall (bateria), Evans mostra como revitalizar o free jazz por meio de um trio acústico, exibindo intensa e elevada criatividade em quatro temas irresistíveis.”