Entrevista: Luís Figueiredo


[Fotografia: Márcia Lessa]

O pianista e compositor Luís Figueiredo começou por se afirmar na cena jazz nacional com aedição de dois discos de originais: “Manhã” (2010) e “Lado B” (2012). Com o contrabaixista João Hasselberg trabalha o duo Songbird, fazendo revisões instrumentais de canções populares, e colabora com os cantores Nuno Dias (“Canções Pagãs”), Sofia Vitória e Cristina Branco. Tem desenvolvido um sólido trabalho como produtor e arranjador e foi responsável pelos discos de Luísa Sobral e Ana Bacalhau. É dele o arranjo da canção “Amar pelos Dois”, o emotivo tema que venceu surpreendentemente a Eurovisão. Agora o pianista está focado na sua própria música e prepara-se para editar o novo disco “Kronos / Penélope”, um ambicioso álbum duplo onde apresenta composições originais ao leme de um grupo alargado. Numa conversa sem pressa, o pianista de Coimbra fala sobre o seu percurso, os arranjos, a Eurovisão e o novo disco.

Como é que começaste a tocar? E como é que chegaste ao jazz?
Comecei a estudar piano aos 8 anos numa escola particular. Depois fiz o curso do conservatório, com crescente desagrado. No final do conservatório estava tão desmoralizado que fiquei na dúvida se devia dar seguimento… Isto aconteceu numa altura em que tinha entrado em Direito, na Universidade de Coimbra, e acabei por perceber que aquilo não tinha nada que ver comigo. Parei tudo, foquei-me na música, estive um ano a ter aulas para me preparar para entrar num curso superior e entrei. Fiz o curso na Universidade de Aveiro, no clássico. Eu sempre tive aquela coisa de escrever música e durante esse período em Aveiro comecei a escrever. Havia uma coisa que sempre quis fazer, que era estudar jazz, estudar com alguém do meio jazz. O último ano da licenciatura em Aveiro foi meio louco: estava a acabar a licenciatura, dava aulas no conservatório em Coimbra e estava também na escola do Hot! Acabei por andar no Hot apenas durante uns oito meses, porque era muito duro, mas fiz algumas ligações importantes. Tive aulas com Filipe Melo e foi uma amizade que ficou. Foi uma pessoa que me ensinou a ética do jazz. Como somos quase da mesma idade, nunca tivemos uma relação professor-aluno e o Filipe sempre foi supergeneroso comigo. Fui também aluno de Bernardo Moreira, de Ricardo Pinheiro, de Bruno Santos… Nesses anos antes de ir para o Hot eu era um “stalker” de Mário Laginha, seguia-o para todo o lado! Queria tocar coisas dele, pedia-lhe partituras e acho que ele me achava piada. Por isso ou porque já estava farto de mim, a certa altura ofereceu-me o manuscrito original da primeira Fuga que ele escreveu. Comecei a estudar com ele, eram aulas pontuais, de cinco em cinco meses. Pouco depois fui convidado para fazer um doutoramento e o Laginha acabou por ser o co-orientador. Fiz o doutoramento em Aveiro, e demorei dez anos para acabar!

Quando foi o momento em que começaste a ouvir jazz?
Tenho dois irmãos e o mais velho também é pianista e estudou jazz no Porto. Esse foi o meu contacto com o jazz e aconteceu quando eu tinha uns 11/12 anos. Ele trazia cassetes que eu ouvia em casa. A primeira coisa do universo do jazz de que eu me lembro de ouvir foi Bill Evans. Não sei que disco era, provavelmente era uma antologia. Lembro-me de ouvir aquilo e de achar que era uma confusão, não conseguia perceber. Pouco tempo mais tarde o meu irmão andava vidrado na cena afro-cubana e passava o tempo a ouvir Michel Camilo. Na altura eu achava aquilo impressionante, mas se reconheço que hoje, ritmicamente, há coisas daquilo que ficaram cá no fundo, não é música que eu ouça. Fiz o percurso formal da música erudita, mas era sobretudo jazz aquilo que ouvia. (…)

Entrevista completa no site Jazz.pt:
https://jazz.pt/entrevista/2017/11/08/ideia-do-tempo/