Rádio Defusão: a nova geração do jazz português

O podcast Rádio Defusão, de Fábio Vieira Fernandes, dedicou um episódio à nova geração do jazz português. A playlist, seleccionada por Nuno Catarino, inclui temas de Ricardo Toscano Quarteto, Sara Serpa, João Hasselberg & Pedro Branco, Gabriel Ferrandini, João Barradas e André Santos. Aqui fica o alinhamento completo:

Ricardo Toscano Quartet — “Lament”
Sara Serpa — “The Multi-racialism Myth”
João Hasselberg & Pedro Branco — “The Heart Is A Lonely Hunter”
Gabriel Ferrandini — “Rua de O Século”
João Barradas — “The Human Journey In Search Of Meaning”
André Santos — “Canção Em Sol”

O episódio pode ser escutado na íntegra aqui: www.radiodefusao.pt.

“Prelúdio in Blue”: novo livro de poesia jazz

A brasileira Rafaella Britto publicou neste ano de 2020 o seu livro “Prelúdio in Blue”. Esta é uma coletânea de poemas-canções em homenagem ao jazz, ao cinema e às raízes da cultura negra. O livro pode ser adquirido na loja online da Editora Penalux.

“As referências e inspirações para os 33 poemas deste livro são as mais ricas e variadas possíveis: da música ao cinema, de Miles Davis à fala icônica de Bette Davis em “A Estranha Passageira”, de Louis Armstrong a Marilyn Monroe, de Dizzy Gillespie à sedução prateada do cinema mudo. […] Prestando homenagem às mulheres sem medo como Marlene Dietrich, Maya Angelou, Lena Horne, Billie Holiday, à injustamente esquecida autora Dinah Silveira de Queiroz e às pouco celebradas harpistas do jazz, Rafaella Britto se deixa inspirar pelas mestras mas nunca as copia: usa-as para criar arte original, visceral e pessoal. Na leitura, é importante observar a cadência dos versos dos poemas, em ressonância com a cadência de diferentes gêneros e composições. Poesia é também música, por vezes a 24 quadros por segundo, nem sempre impressa na folha de papel, é a lembrança doce da avó, é o redescobrir da alegria que parecia soterrada em dor, após ouvir uma melodia enquanto se cumpre uma tarefa cotidiana. A poesia está aí, escondida em cada canto da vida, e Rafaella nos lembra de que também podemos reencontrar a poesia nas nossas vidas: basta olhar e ouvir além.”
– Letícia Magalhães

André Pizarro lança temas originais

André Pizarro é um jovem músico natural de Braga que começa a afirmar a sua personalidade musical. Baixista e compositor, Pizarro começou a publicar músicas originais a partir de Março deste ano e, até agora, o jovem baixista já publicou três originais (“A Ferro”, “II” e “Misuto”) e uma reinterpretação do tema “Reincarnation of a Lovebird” de Charles Mingus – temas que podem ser escutados nas plataformas Spotify ou Bandcamp.

Sara Miguel leva “A Voice for Freedom” a Braga

A cantora Sara Miguel vai levar o espectáculo “A Voice for Freedom” ao Theatro Circo, em Braga, no dia 11 de Dezembro. Neste concerto Sara Miguel vai interpretar temas marcantes da lendária cantora, pianista e compositora Nina Simone, sobretudo composições ligadas à sua faceta activista. Neste espectáculo Sara Miguel tem a companhia de Gonçalo Moreira (piano) e Michael Ross (contrabaixo), além de três músicos convidados: João Mortágua (saxofone), Ricardo Formoso (trompete) e Mário Costa (bateria). A música será acompanhada com uma vertente audiovisual da responsabilidade de Edmundo Diaz Sotelo. Os bilhetes têm o preço de 12€ (6€ com Cartão Quadrilátero) e já estão disponíveis online.

Marinha Grande acolhe festival em Novembro


Bernardo Moreira [Fotografia: Atelier Obscura]

A Marinha Grande vai acolher a sexta edição do seu festival de jazz. O festival realiza-se em meados de Novembro e a programação apresenta quatro concertos de projectos nacionais, distribuídos em dois fins-de-semana. A 13 de Novembro actua o Ricardo Toscano Quarteto; a 14 toca o Círculo (de Rita Maria, Luís Figueiredo e Mário Franco); a 20 o Rui Caetano trio apresenta Output; e o festival fecha no dia 21 com o projecto Entre Paredes de Bernardo Moreira. Os concertos têm lugar na Casa da Cultura – Teatro Stephens, sempre com início às 21h30.

Mário Costa apresenta “OXY Patina” no CCB

O baterista e compositor Mário Costa vai apresentar o seu trabalho OXY Patina ao vivo no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no dia 31 de Outubro. O baterista é um dos nomes grandes da nova geração do jazz português, tendo colaborado com músicos lendários como Michel Portal, Wynton Marsalis, Joachim Kühn ou Andy Sheppard (no seu quarteto “Costa Oeste”). O seu disco de estreia como líder, OXY Patina (Clean Feed, 2018), foi uma surpreendente revelação, reunindo um trio improvável com duas figuras de relevo da cena europeia: o guitarrista Marc Ducret e o pianista Benoît Delbecq. Os bilhetes têm o preço de 15€ (plateia) e 12,5€ (laterais) e já estão disponíveis.

Sul ao vivo em Mafra

O trio Sul – Songs from the Southwest vai apresentar-se em concerto em Mafra. O Auditório Francisco Alves Gato vai acolher a actuação do trio constituído por Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Luís Figueiredo (piano) e Bernardo Moreira (contrabaixo). Estes três experientes músicos da cena nacional tocam juntos como membros do grupo de Cristina Branco e prometem uma interpretação original e jazzística de composições de fado, jazz e canções tradicionais. O concerto realiza-se no dia 7 de Novembro, às 21h30, e os bilhetes têm o preço de 5€.

Ricardo Toscano Trio inaugura novo formato do ciclo MAPLE

[Fotografia: Vera Marmelo]

O ciclo de concertos promovidos pelo MAPLE – Live vai mudar de moldes. Numa parceria com a livraria Ler Devagar e a loja Jazz Messengers, os concertos vão passar a ter lugar na Ler Devagar, na LX Factory, em Lisboa, sempre aos domingos às 17h00. Os concertos continuarão a ter transmissão em streaming e passam a ter lugares presenciais – limitados. Este novo formato será inaugurado no dia 18 de Outubro com a actuação do Ricardo Toscano Trio. Os bilhetes podem ser ser adquiridos aqui.

Ao vivo: O Jazz tem Voz!

Fotografia: Atelier Obscura | Mónica de Sousa e Inês Domingues

Numa época marcada pela pandemia, pelos cancelamentos de espectáculos e pela quase ausência de trabalho para músicos e técnicos, nasceu surpreendentemente um novo festival de jazz. O festival O Jazz tem Voz! surgiu pela mão da produtora Clave na Mão, com o apoio do Fundo de Emergência Social da Câmara Municipal de Lisboa, realizando-se entre os dias 9 e 11 de Outubro em Lisboa. O programa apresentou quatro concertos de músicos portugueses, três deles no palco d’A Voz do Operário (daí o nome do festival), um deles num largo ao ar livre (e entrada livre), uma sessão didática e pedagógica (para o público infantil), uma exposição de cartazes históricos do Hot Clube de Portugal (a partir do livro Jazz Posters de João Fonseca), um workshop de ilustração de André Letria com alunos da escola d’A Voz do Operário e uma angariação de fundos para a União Audiovisual, que tem apoiado artistas e técnicos em dificuldade.

Sendo o festival indissociável do contexto da pandemia, é também importante focar a vertente artística e musical. O festival arrancou na noite de sexta-feira, dia 9, com a actuação do Bernardo Moreira Sexteto, que apresentou o projecto Entre Paredes. Em 2003 Moreira gravou o disco Ao Paredes Confesso, homenagem ao cancioneiro de Carlos Paredes com reinterpretações jazzísticas originais. O projecto Entre Paredes é uma recuperação e continuação dessa ideia, agora trabalhada com músicos diferentes e uma abordagem mais alargada que, apesar de manter o centro em Paredes, expõe uma homenagem lata à música portuguesa. Perante uma sala quase esgotada, o sexteto expôs a sua qualidade técnica, reflexo da qualidade individual de cada um dos intervenientes. Ao centro está o contrabaixo do líder Moreira, com dois sopros na frente, Tomás Marques (saxofone, talento da novíssima geração) e João Moreira (trompete), apoiados por Mário Delgado (guitarra), Ricardo Dias (piano) e Joel Silva (bateria). Além de Paredes, a setlist incluiu temas tradicionais, temas de Cristina Branco e de Zeca Afonso. Um dos destaques foi o clássico “Verdes Anos”, aqui numa versão despida, apenas trompete e piano, verdadeiramente memorável. A interpretação d’”A morte saiu à rua”, de Zeca Afonso, puxou pelo ritmo e o grupo mostrou-se exuberante. Como destaques, além do contrabaixo de Bernardo Moreira que exibiu versatilidade (ora pujante a marcar o ritmo, ora sensível a desenhar melodias), os holofotes focaram sobretudo o trompete expressivo de Moreira e o saxofone vibrante de Tomás Marques, um jovem talento que se afirma cada vez mais; e o veterano Mário Delgado que, apesar de trabalhar aqui num espaço reservado, não escondeu a sua guitarra preciosa adornada com efeitos. Após um final muito aplaudido, a banda foi obrigada a regressar para o encore. Foi um arranque perfeito para o festival.

O segundo dia de festival, sábado, abriu com uma conversa-debate, que reuniu três músicos – Beatriz Nunes, Gonçalo Marques e Demian Cabaud – e moderação de Sérgio Machado Letria, n’A Voz do Operário. Seguiu-se um concerto ao ar livre, num espaço público e com entrada livre. O trio Quang Ny Lys fez a sua estreia ao vivo no Largo de Santa Marinha, um largo na zona da Graça, em Lisboa, perante um espaço cheio, com todos os lugares sentados ocupados, muita gente em pé e até pessoas nas janelas de casa. Este grupo junta três nomes grandes do jazz português, dois deles vencedores do Prémio RTP/Festa do Jazz de Músico do Ano: Rita Maria (cantora) e João Mortágua (saxofonista) já foram galardoados. A eles junta-se o guitarrista Mané Fernandes, guitarrista do Porto que tem mostrado a sua originalidade ao leme de projectos como BounceLab e The Mantra of the pHat Lotus. A premissa – retrabalhar standards do cancioneiro jazzístico – poderia soar banal, mas pelos músicos envolvidos desconfiávamos que o projecto iria surpreender. O grupo faz uma exploração de conhecidos standards da história do jazz, mas fá-lo de uma forma muito original. Servindo-se de diversos efeitos electrónicos, na voz, mas também na guitarra e no saxofone, o trio desenvolve uma exploração atmosférica de clássicos como “I get along without you very well” ou “You go to my head”. Estas velhas músicas ganham novas cores pela abordagem criativa do grupo, assente no abuso de efeitos electrónicos, que resulta estranhamente interessante. O segundo dia de festival fechou com o grupo do saxofonista César Cardoso, que apresentou ao vivo o material do álbum Dice of Tenors, disco editado em 2020 que homenageia saxofonistas tenor históricos. Estiveram em palco César Cardoso (saxofone), Luís Cunha (trompete), José Soares (saxofone), Lars Arens (trombone), Jeffery Davis (vibrafone), Óscar Graça (piano), Demian Cabaud e Marcos Cavaleiro (bateria). Infelizmente não tivemos oportunidade de assistir a esta actuação.

No domingo o festival arrancou de manhã, com a sessão O Jazz é fixe!. Perante uma sala cheia de crianças e adultos acompanhantes, o trio constituído por Vânia Couto (voz e guitarra), Alvaro Rosso (contrabaixo) e João Mortágua (saxofone) serviu-se dos sons dos instrumentos para surpreender e cativar a atenção da pequenada, um público jovem mas exigente. Para fechar o festival, a Voz recebeu no final de tarde de domingo o duo Songbird. Este projecto, que junta Luís Figueiredo no piano e João Hasselberg no contrabaixo, trabalha uma exploração de melodias populares assentes apenas no piano e contrabaixo, uma abordagem clássica e despida, mas que consegue sempre conquistar os espectadores. Apesar de ter assistido apenas o início do espectáculo, daquilo que vi o duo confirmou os predicados e foram ao encontro daquilo que já nos mostraram os registos (Vol. I e Vol. II). Música delicada, mantendo o eixo melódico e sentimento. Foi uma boa despedida para o festival O Jazz tem Voz!, cujo surgimento é excelente notícia: pela oportunidade de dar palco a músicos portugueses, pela luz de esperança que traz, pela vertente solidária. E também por ter aberto ao público as portas d’A Voz do Operário, que mostrou ter boas condições para acolher mais eventos. Que aí venham mais edições deste festival.

Texto publicado originalmente no site Jazz.pt.