Roman Wroblewski nasceu na Polónia e vive em Lisboa há vários anos. Pianista com formação clássica, tem explorado diversos géneros musicais, da electrónica à pop. Agora, acaba de editar o disco 3.47 AM, um álbum de piano solo em ambiente sóbrio, pontuado por melodias cativantes (editado em CD e vinyl). Em entrevista, Roman Wroblewski apresenta-se.
Como começaste a tocar? Quem foram as tuas primeiras influências?
Comecei a tocar piano aos cinco anos. Era numa sala pequena num grande prédio e a professora era uma senhora muito velhinha. A senhora Bilbin era muito paciente e gentil. Apaixonei-me imediatamente pelo som do piano e ainda continuo a sentir o mesmo de cada vez que toco. É sempre a mesma aventura: uma certa curiosidade misturada com a experiência de tocar um dos instrumentos mais versáteis do planeta. Até à escola secundária eu só ouvia música clássica. Sempre foi uma experiência muito estranha, quando eu tentava falar sobre as minhas composições favoritas com os amigos da escola. Eu ouvia principalmente compositores românticos e clássicos como Chopin, Beethoven, Dvorak, Schubert e, com um batimento mais rápido, Debussy ou Gershwin. Tudo acabou quando eu pedi aos meus pais que me dessem uma cassete do Fatboy Slim como prenda aos 15 anos. Eles ficaram chocados e, para mim, foi o início de uma nova era.
Porquê o título deste disco, 3:47 AM?
3:47 AM está ligado ao momento em que fazia esboços de composições, durante as noites sem dormir em Lisboa. Também está ligado ao significado da música. A maioria destas composições está entreaberta e decidi fazer o que o Picasso disse: “Em algum momento, só tens que parar de pintar”. Este é um significado secundário deste título e está relacionado com uma das melhores coisas da improvisação – a transitoriedade.
Como poderias descrever a tua música?
Esta ainda é uma pergunta muito difícil para mim, talvez porque o álbum seja muito recente. A minha música é emotiva, certamente, um pouco louca e com muitas melodias fortes e corajosas. Por outro lado, não é perfeita e não tenta redescobrir o piano. Com toda a formação clássica, a minha música está a tentar usar o piano como uma ferramenta para expressar ideias universais, sentimentos e criar uma pausa neste mundo ultra impulsivo.
No press release do disco diz que esta música é recomendada para fãs de músicos como Ludovico Einaudi, Yann Tiersen, Hania Rani ou Nils Frahm. Estas também são influências para a tua música?
Dois deles são mesmo. Por vezes dou aulas privadas e alguns dos meus alunos mais jovens falam-me muito da música do Ludovico, por isso acabei por estudar a sua música. Adoro o seu trabalho, cheio de ideias simples, mas com um grande cuidado no som do piano. Descobri o Nils Frahm, e vi-o ao vivo na Polónia em 2013, quando ele tocava quase só piano e Fender Rhodes. Fui muito inspirado pela sua música e pelos seus primeiros trabalhos. Com os outros dois compositores, posso dizer que partilho acidentalmente a minha jornada entre os géneros musicais.
Estás a par de pianistas portugueses? Conheces, por exemplo, o trabalho do Tiago Sousa?
Eu adoro o trabalho do Tiago Sousa. Descobri-o um ano, quando estava a tentar marcar concertos em Portugal. Desde então, tenho ouvido a sua música de vez em quando, quando preciso de descansar. Ótimas histórias, ótimas melodias e a sua musicalidade é incrível.
Já vives em Portugal há alguns anos. O facto de viveres em Lisboa terá influenciado/alterado a direção da música que tocas?
Sem dúvida, mas neste álbum acho que é mais difícil perceber, porque algumas das ideias são apenas velhas histórias e traumas do passado que eu finalmente desenvolvi em notas. Talvez dois temas, “Wisdom” e “Big Hug”, sejam o resultado da música brasileira e da experiência multicultural de Lisboa. Mas nos meus próximos trabalhos, de piano e não só, vou usar mais electrónica, e Lisboa estará mais presente. Principalmente pela música africana e do Médio Oriente, músicas que se podem ouvir todos os dias em Lisboa. Isso inspira-me muito – estruturas polirrítmicas, emoções profundas e groove, groove muito profundo.
Este é um trabalho a solo. Tens tocado ou tens planos de tocar com outros músicos de Lisboa?
Sim, espero terminar em breve o meu segundo álbum de música electrónica, que vai ter três ou quatro convidados que actualmente vivem em Lisboa: o baixista cabo-verdiano Luis Karantonis, a cantora/compositora francesa Noemi dos Santos, o baterista português Fernando Lyra e provavelmente mais um músico, que ainda não está confirmado. Estou sempre aberto a colaborações. Fiz algumas parcerias nos últimos anos em Lisboa e essa é uma das melhores coisas da música. Além disso, tenho atualmente três outros projetos com outros músicos: um duo com o músico turco Gulami Yesildal (toca saz, instrumento turco de cordas); uma espécie de trio de jazz com o baterista polaco Jacek Rezner e o baixista polaco Piotr “Orz” Orzechowski; e um projeto conceptual grande com músicos ainda não especificados, que vai ser uma ideia completamente nova – uma ideia maluca – na qual tenho trabalhado há mais de um ano, nos tempos livres da minha vida de músico independente. Podes imaginar como é frequente, ahahah!
Para além do trabalho no piano, tens trabalhado com música electrónica. Estás a pensar explorar esse universo electrónico ou vais focar-te apenas no piano?
Vou continuar a explorar ambos. O meu instrumento principal é o piano, mas adoro experimentar sintetizadores, sampling, drum machines… Com a música electrónica tu tens uma responsabilidade diferente como artista. Tudo é possível e o meu principal objectivo é saber escolher cuidadosamente os sons que estou a utilizar. Estou a terminar o segundo álbum do meu projeto Totally Together, o meu projeto a solo; e espero conseguir criar algo único com o projeto Alâka, o duo que partilho com Gulami Yesildal.
Depois da edição deste primeiro disco, o que tens planeado para os próximos tempos?
O meu plano agora é tocar ao vivo o máximo possível, entre 2021 e 2022. Acho que consegui criar algo interessante em parceria com a Josefa Searle. Ela é uma grande fotógrafa e, como arquiteta, trouxe um conceito de palco muito interessante, desenhado especialmente para meus espectáculos. Poderá ser aplicado no interior ou no exterior de grandes edifícios. Será ao mesmo tempo um concerto e uma exposição, com fotos tiradas no parque industrial do Barreiro, onde a Josefa documentou a filmagem do vídeo “Big Hug”. Trabalhámos lá algumas semanas com Andre Abrantini, Carolina Carloto e Lucilia Raimundo. Os resultado final está no meu canal no Youtube. Além disso, estou a trabalhar no meu segundo álbum de piano, que vai ter um ou dois convidados, estou a terminar o segundo álbum de música eletrónica e também este ano fiz a minha primeira banda sonora, para um documentário sobre surf na Polónia – a estreia está prevista para o final deste ano.