Vem aí mais uma edição do festival Que Jazz é Este?. Por Viseu vão passar nomes como Luís Figueiredo (a apresentar o disco solo À Deriva), Vessel Trio, Femi Temowo, Edu Miranda, Golpe! ou Orquestra de Jazz de Espinho com Mário Costa, entre outros. Além dos concertos, o festival apresenta outros eventos como “jazz na rua”, workshops, conversas, residências e rádio. Ana Bento, da organização do festival, faz as apresentações.
Pode começar por fazer uma apresentação desta edição do festival?
É muito difícil fazer destaques num festival que é extremamente eclético e diversificado. No leque dos 16 diferentes concertos com certeza que para algumas pessoas uns serão de mais impacto e de destaque, e para outras pessoas serão outros. Mas talvez no contexto delicado com uma série de constragimentos que temos, possa destacar a dimensão internacional que tentamos voltar a fazer acontecer com a apresentação do guitarrista Femi Temowo e a sua música inovadora sob a influência das canções do povo Yoruba e o concerto especial do colectivo Gira Sol Azul com Tony Momrelle, um dos músicos da soul mais emocionantes e significativos do palco britânico moderno. Mas por outro lado também acho muito pertinente destacar os projectos emergentes, como os Innerville, que movendo-se entre HipHopLand, SoulBlock, RnBHill, JazzHeights e FunkPark prometem surpreender-nos. Os concertos ‘especiais’, que trazem projectos que incluem convidados especiais ou juntam neste momento específico músicos que geralmente não se apresentam juntos, também são de se destacar, porque geralmente são concertos únicos, especiais. É o caso dos Vessel trio com Marcos Cavaleiro, Hery Paz e Javier Moreno, do trio de Edu Miranda que se apresenta com a convidada Luana Cozeti, dos Golpe! que com a participação do contrabaixista japonês Masa Kamaguchi e da Orquestra de Jazz de Espinho a que se junta o brilhante baterista Mário Costa. Mas depois é difícil deixar de fora dos destaques os restantes concertos, pela sua natureza específica como os Carapaus Afrobeat com a sua energia contagiante que fechará o festival, entre outros!
Que linhas estéticas/ideias guiaram o desenho da programação desta edição do festival?
O festival Que Jazz É Este? tem-se vindo a consolidar ao longo destes 9 anos de existência e não obstantes as novidades de cada ano, percebemos que há alguns pilares fundamentais que pretendemos aprofundar e dar continuidade. Relativamente à programação de concertos há uma escolha muito afirmada de incluir diferentes linhas estéticas que encaixam em horários e espaços específicos e a identidade que o festival tem afirmado assenta precisamente nessa diversidade que compõe o cartaz. Bandas com formatos especiais que incluem convidados específicos para a apresentação no festival, bandas que se movem no universo da improvisação mais estruturada ou da improvisação mais livre, projectos emergentes, música de inspiração mais étnica ou alavancada noutras estéticas como a electrónica ou o rock, grandes formações, projectos a solo, são alguns dos diferentes tópicos que este ano se encontram no cartaz Que Jazz É Este?.
Para a edição do ano passado, com os constrangimentos da pandemia, distribuíram a programação entre Julho e Setembro. Este ano voltam ao formato habitual, com 5 dias seguidos de concertos. Podemos ver esta edição como um “regresso à normalidade”?
No ano passado implementámos um formato alternativo com os 5 dias de festival distribuídos ao longo de 3 meses por precaução, porque não quisémos arriscar mais do que o que achávamos que era saudável e controlável. O contexto de pandemia tinha acabado se tornar uma realidade consciente para nós, mas num plano do desconhecido e instável. Não é que agora tenhamos conhecimento pleno do contexto actual, mas temos alguma experiência e compreendemos melhor os limites. Como a edição passada foi tranquila ao nível do contexto pandémico e de enorme sucesso a nível artístico e de dinâmica de públicos, pensamos que podemos dar este passo em segurança e com o acompanhamento de perto feito pela equipa da proteccção civil, da dgs em articulação com o município de Viseu. Voltamos por isso ao formato dos 5 dias consecutivos, de 21 a 25 de julho, mas penso que o conceito de ‘normalidade’ neste momento é muito relativo. Não sei se a normalidade pré-pandemia poderá a ser a normalidade de agora ou do futuro. Mas sem dúvida, esta edição do festival pretende recuperar a dinâmica mais intensa dos dias consecutivos e os encontros mais próximos e fortes, ainda que cumprindo regras como o distanciamento físico ou o uso de máscara, entre outros.
O festival tem apostado na diversidade de eventos e, além dos habituais concertos, apresenta, jazz na rua, workshops, conversas, residências, rádio. Esta diversidade de eventos é também uma forma de levar o jazz a mais pessoas, além do habitual público dos concertos?
Sem dúvida! Desde sempre que há o cuidado do festival fazer chegar a música às pessoas que ‘não podem vir até à música’. Nesse sentido damos continuidade às rúbricas Jazz na Rua e Jazz ao Domicílio realizando concertos na rua, em locais e horários de passagem do cidadão comum e ainda jardins de instituições como o departamento de psiquiatria do Hospital de Viseu, lares de idosos, centro de pessoas deficientes, entre outros. Uma curiosidade é que o festival nasceu num contexto de formação e profissionalização de músicos da região e esta é também uma das vertentes que pretendemos continuar a desenvolver. Nesse sentido este ano acontece 13a. Edição do Workshop de Jazz de Viseu orientada pelos músicos do projecto MAU (Miguel Ângelo, Mário Delgado e Mário Costa) que ao longo de 3 dias intensivos vão ‘cruzar ideias, inspirações e encontrar respostas difíceis para a longa mas gratificante aprendizagem do Jazz e da música improvisada’. A Rádio Rossio, um projecto de rádio ao vivo que se realiza a partir de uma roulote instalada este ano no Parque Aquilino Ribeiro, integra o festival desde 2015 e continua em grande destaque ao longo dos vários dias do festival com uma programação muito diversificada de programas de autor. Ainda nas áreas da educação e formação artística acontecem duas oficinas para público em geral (uma em forma de orquestra de guitarras eléctricas outra que explora a ideia de rádio pirata) e um ciclo de conversas que pretendem ser um espaço de partilha e reflexão sobre algumas questões importantes relacionadas com a gestão de carreira dos artistas das mais variadas áreas. Portanto sim, a diversidade de propostas que integram o festival é também uma forma de levar o jazz, a música, a mais pessoas.