Fundador e director do site Rimas e Batidas e colaborador da Blitz, Rui Miguel Abreu é um dos mais activos divulgadores de música em Portugal, tendo sempre dedicado muita atenção ao jazz. Agora, Abreu acaba de oficializar esta ligação com a criação da rubrica Notas Azuis. Este espaço surgiu primeiro como coluna de crítica de discos de jazz e música improvisada, mas ganhou entretanto forma também como programa de rádio na Antena 3 (sábados, às 20h00). Em entrevista, Rui Miguel Abreu apresenta as suas Notas Azuis.
Como nasceu a ideia de fazer o Notas Azuis?
Bem, há duas dimensões no Notas Azuis, a coluna de crítica e o programa de rádio. A coluna nasceu porque queria organizar num espaço com vida própria o que andava a escrever sobre jazz para o Rimas e Batidas, sobretudo o novo jazz. Depois, percebendo a vibração que esta cena está a registar, não apenas em termos de novas edições, mas até de exposição dos artistas em cartazes nacionais que até são exteriores aos circuitos tradicionais do jazz – e falo de artistas desta área a serem programados nos grandes festivais de Verão, por exemplo – pareceu-me fazer sentido expandir esse trabalho de documentação desses novos rumos do jazz à estação de rádio onde já trabalho há perto de 20 anos. A proposta foi bem recebida e cá estamos nós, à beira da quarta emissão.
Quais os objectivos desta rubrica?
O principal objectivo é tentar estabelecer uma ponte entre o presente internacional e o presente nacional, dar espaço a música e a discos que normalmente não têm este tempo de antena e, ocasionalmente, fazer umas investidas pela memória mais directamente ligada a estes novos caminhos.
O jazz português tem estado em destaque. É uma tendência para continuar?
O jazz português tem estado em destaque e espero que tenha cada vez mais espaço em termos percentuais nas emissões de rádio e na coluna de crítica, assim eu consiga chegar à música que acho que faz sentido em cada um dos espaços, tendo em conta as linhas que defini. Sei que há uma série de jovens músicos a trabalharem em projectos que se sintonizam com estas novas sonoridades, levando o jazz a dialogar com outros géneros, e esse é precisamente o território que mais me interessa documentar, não necessariamente por ser aquele de que mais gosto, mas por achar que outras nuances já estão a ser trabalhadas por outras pessoas.
O Notas Azuis nasceu online, passou para a rádio. Como se deu esta evolução? Poderemos ver a rubrica noutros formatos?
Tenho pensado em Notas Azuis como um conceito que poderá ter diferentes aplicações e mesmo antes de ter arrancado com a coluna já andava a fazer muitos dj sets com base nas minhas intensivas compras de novo vinil desta área, coisas de artistas como o Kamasi Washington, Karriem Riggins, Kassa Overall ou o Kamal Williams, para citar apenas artistas com nomes começados por K (hehehe). Por isso uma das ideias que tenho na cabeça é uma noite regular em que possa estar a mostrar esta música, assim a vida se oriente para podermos todos voltar a partilhar espaços apertados onde seja possível estarmos próximos uns dos outros .