A incerteza do trio certo apresenta-se

À partida o nome é curioso: A incerteza do trio certo. Este trio junta o guitarrista AP (António Pedro Neves), com o contrabaixista Diogo Dinis e o baterista Miguel Sampaio. O trio editou o seu disco de estreia através do Carimbo Porta-Jazz e vai apresentar-se ao vivo em Coimbra, no Salão Brazil, no dia 25 de Janeiro. Numa pequena entrevista, A incerteza do trio certo, pela voz de AP, apresenta-se.

Como surgiu este trio? Porquê a escolha destes músicos?
Este trio surgiu como resultado da minha vontade de explorar a composição e a improvisação neste formato. É uma formação que sempre gostei e que me permitiu olhar a composição e a improvisação de uma perspetiva diferente. O facto de a guitarra ser o instrumento “solista” a maior parte das vezes nesta formação foi também um desafio para mim como improvisador. Escolhi o Miguel e o Diogo porque ao longo das sessões que fomos fazendo percebemos que gostávamos de tocar os três. Eles identificaram-se com os temas e contribuíram de forma decisiva para a composição e concepção deles.

Porque escolheram este nome, A incerteza do trio certo?
Escolhemos o nome porque partimos sem grandes expectativas, sem grandes certezas do que ia acontecer, sem pretensões. Sabíamos que gostávamos de tocar os três e queríamos experimentar coisas… nada muito certo com certeza.

O que diferencia este grupo?
Hum… não sei bem… é uma pergunta difícil. Eu acho que a composição e a improvisação por si só são elementos diferenciadores pois são processos ambíguos. Embora sejamos sempre influenciados por outros músicos, por discos, por concertos que vimos, pela nossa prática, etc., a forma como olhamos, sentimos e concretizamos a composição e improvisação é algo muito pessoal e único. Não há dois músicos que toquem igual. Podem fazer lembrar um ou outro músico e isso pode estar presente na forma de tocar e compor, mas há sempre elementos que o diferenciam dos outros. Quando escrevo e toco não me preocupo muito em ser diferente preocupo-me em ser sincero comigo e com os outros.

Durante o processo de composição para este disco quais foram os elementos que mais valorizaram?
Na maioria dos temas a ideia inicial era minha e depois o tema ia ganhando forma quando o tocávamos e experimentávamos coisas os três. O processo de composição para este disco, como nos outros que gravei, resultou da experimentação e posterior desenvolvimento de ideias (nada de novo).  Normalmente há uma ideia inicial que pode ser um groove, uma ideia rítmica, (como na “Ideia 2” em que a mesma ideia rítmica aparece em secções diferentes) um ambiente, a exploração de um certo registo da guitarra, de um ostinato (como na “Canção épica”) ou a exploração de uma série dodecafónica (como na “Série”). Quase sempre as ideias vão surgindo a partir da inicial e a música vai ganhando forma.  No que diz respeito à forma muitas vezes a ideia é tentar ligar da maneira mais musical secções grandes distintas. Existem também temas em que a forma é um simples AABA como no “Leve”. Não costumo definir muita coisa no início. Vou escrevendo, experimentando e escolhendo. Tento que os temas tenham um “princípio, meio e fim” e que seja contada uma história, que haja um desenvolvimento e contraste de ideias. Isso acontece em casa, no processo de escrita, mas também no ensaio com o do Diogo e com o Miguel.

Como articulam a composição e a improvisação? Qual a margem para a improvisação?
Tentamos que a improvisação surja sempre como resultado do que já foi escrito, ou tocado, como um elemento que vai acrescentar algo à música e não como algo que tem de acontecer. Ultimamente temos experimentado a improvisação fora da zona de conforto das grelhas harmónicas e da forma e mais focada no timbre e efeitos conseguidos nos instrumentos. Compor é como improvisar, mas muito mais lentamente e podes sempre voltar atrás, é mais “racional”. Improvisar é tocar para a frente e não olhar para trás.

Vão agora tocar no Salão Brazil. O que poderemos esperar deste concerto?
Podem esperar um grupo de músicos que toca sem pretensão alguma, mas comprometidos ao máximo no processo de fazer música.

Planos para os próximos tempos? Têm previsto a gravação de um novo disco?
Vamos continuar a trabalhar e a fazer música. A explorar a composição e a improvisação neste formato. Ainda não está prevista a gravação de um novo disco, mas irá acontecer certamente.