Entrevista: Lantana

Lantana é um sexteto de improvisação livre que reúne uma formação exclusivamente feminina. O grupo junta seis exploradoras musicais com vozes bem definidas: Anna Piosik (trompete), Helena Espvall (violoncelo), Joana Guerra (violoncelo), Maria do Mar (violino), Carla Santana (electrónica) e Maria Radich (voz). Em vésperas de actuarem no festival Lisboa Soa (dia 12, às 18h30 na Estufa Fria), as Lantana apresentam-se.

Como surgiu a ideia de se juntarem como grupo? Como nasceu a formação e quais foram os primeiros concertos?
A ideia de nos juntarmos partiu da Joana Guerra, em estreita conspiração com a Maria do Mar, inspirada pela experiência que viveu no ensemble feminino dirigido por Joëlle Leandre, aquando da residência artística no âmbito do XJazz – Encontros de Jazz das Aldeias do Xisto e que culminaria num concerto na Fundação Serralves, no ciclo Jazz no Parque 2017. O ensemble, que teve a curadoria de Rui Eduardo Paes, também contou com participação de Maria do Mar, Maria Radich, Angelica Salvi e Susana Santos Silva. Todas nós, as Lantana, já tínhamos tocado em concertos umas com as outras, espalhadas por diferentes ensembles e grupos de música improvisada, e a empatia existente entre todas fez com que respondêssemos imediatamente com entusiasmo ao desafio da Joana. Encontrámo-nos duas vezes em estúdio para experimentar pela primeira vez o sexteto, e logo de seguida começámos a tocar ao vivo. Os nossos primeiros concertos foram em Dezembro de 2018 na Disgraça, e em Abril passado nas MagaSessions. Entre os concertos em colaboração com a Lula Pena na ZDB fomos tocar ao MIA, e em Julho à SMUP. 

Porque escolheram o nome Lantana?
Lantana é uma espécie de planta cujas flores podem ter as mais variadas cores. Metaforicamente significa a aceitação e perfeita harmonia na diferença, e foi essencialmente esse conceito que nos levou a escolher este nome.

Quais as ideias/características que definem a vossa música?
Pura liberdade.

Como trabalham a vossa música? É exclusivamente improvisada ou inclui momentos previamente definidos? Partem de alguma ideia, motivo ou indicação?
Trabalhamos a nossa música no momento, porque é exclusivamente improvisada. Partimos do silêncio e tornamo-nos a partir daí participantes no que se manifestar.

Tocaram com a cantora Lula Pena. Como surgiu esta parceria e como avaliam os concertos realizados?
A parceria surgiu por convite de Lula Pena, depois de nos ter visto tocar nas MagaSessions. Foram, para nós, três belíssimas noites na ZDB, onde a nossa improvisação se fundiu com o formato canção da Lula e levámos o público a viajar connosco por lugares inesperados. A Maria do Mar, a Helena Espvall, a Anna Piosik e a Joana Guerra foram mais tarde convidadas pela Lula Pena para um concerto no Jardim dos Coruchéus.

Têm ideia para colaborações com outros/as artistas? Estão abertas a essa possibilidade?
Estamos a pensar convidar outras músicas/artistas a colaborar connosco pontualmente, a partir do próximo ano. E sempre abertas a novos desafios.

Têm planos para gravação de disco?
Gravar um disco será um passo futuro, sim. Queremos continuar a dar concertos durante mais um tempo antes de entrarmos em estúdio – começaremos a pensar num álbum no próximo ano.

O facto de se tratar de um grupo exclusivamente feminino, num contexto onde historicamente a presença de mulheres é rara ou quase nula, acaba por ser significativo. Sentem que a vossa existência como grupo está a contribuir para a luta pela igualdade de género? O que mais se pode fazer?
O intuito é exactamente que haja este tipo de questão, ou seja, que a nossa existência enquanto banda possa despoletar o debate e um pensamento mais crítico. Queremos ser reconhecidas pelo nosso trabalho e estética musicais, mas estamos muito conscientes do quão simbólica poderá ser a nossa reunião musical num meio tradicionalmente tendencialmente masculino. Para que a situação possa mudar, pensamos que também terá de haver uma maior consciencialização por parte das instituições e dos programadores nacionais: devem considerar o trabalho artístico desenvolvido por mulheres e incluí-lo nos seus ciclos de programação.

Que planos e projectos têm definidos ou previstos para os próximos tempos?
No dia 12 de Setembro daremos um concerto no Lisboa Soa 2019 a tocar para (e com) a Estufa Fria, iremos nos próximos meses participar num festival de jazz nacional (mais detalhes só poderemos dar quando for publicado o cartaz), e continuaremos a estar abertas às novas oportunidades que entretanto surgirem de apresentar as Lantana ao vivo.