Disco: “Autotelic” de Javier Subatin

Javier Subatin
Autotelic
(Sintoma, 2018)

Argentino a residir em Portugal, o guitarrista Javier Subatin (Buenos Aires, 1985) tem aqui o seu disco de estreia como líder. O projecto nasceu como duo, numa colaboração entre Subatin e o pianista português João Paulo Esteves da Silva. A formação completa-se com mais três músicos nacionais: Desidério Lázaro no saxofone, André Rosinha no contrabaixo e Diogo Alexandre na bateria.

Neste disco “Autotelic” Subatin faz questão de assinar a composição de todos os oito temas. O diálogo entre guitarra e piano está no centro desta música, a guitarra eléctrica de Subatin comunica com o piano de Esteves da Silva e o disco é deles, vive desse contínuo diálogo, dessa interação permanente. Pontualmente, Lázaro contribui com o seu saxofone criativo e Rosinha e Alexandre apoiam a base rítmica.

O argentino opta pela austeridade na nomenclatura dos temas, cada música tem como título apenas um número; há apenas uma excepção, num tema chamado simplesmente “Solo” (que não é um solo). Já o título do disco é mais revelador: a partir da palavra grega “autotelic” o músico anuncia o único propósito da música é a sua própria exploração. Ou seja, o objectivo do guitarrista é evitar factores de distração que possam condicionar a fruição, para que o ouvinte se possa focar unicamente na música, no próprio som.

Um dos temas mais interessantes do disco é o quarto tema do alinhamento, chamado “#3”, onde ouvimos uma exploração mais aberta. Aqui há apenas guitarra e piano. E Esteves da Silva dá asas ao piano, improvisando livremente, alimentando um crescendo de intensidade, para no final desembocar na melodia entrelaçada com a guitarra. Mas há também momentos em que é a guitarra quem se destaca.

O disco fecha com o tema “#7”, o oitavo do alinhamento, que é também o tema mais longo de todo o disco, com mais de doze minutos. Este tema conta com a participação do contrabaixo e da bateria, que alargam a paleta de cores. Os músicos trabalham o tema de forma expansiva, numa excelente interação colectiva. Há que referir a qualidade das composições, melodias que se resolvem sempre de forma interessante.

Apesar da aparente austeridade, a música deste disco de estreia surpreende e conquista. Agora que este disco está fechado, o guitarrista argentino está já envolvido noutros projectos: um segundo álbum chamado “Variaciones” (em quinteto) e um trio chamado Trance (com Daniel Sousa no saxofone e Diogo Alexandre na bateria). Venham eles.