Disco: “Olho de Peixe” de Daniel Neto

Daniel Neto
“Olho de Peixe”
(Edição de autor, 2018)

O guitarrista Daniel Neto nasceu em Calw, nos arredores de Estugarda, no ano de 1979, e começou a tocar guitarra aos 14 anos. Estudou na Escola de Jazz Luiz Villas-Boas do Hot Clube de Portugal (entre 2001 e 2007) e em 2009 entrou no curso de Jazz da Universidade de Évora. É professor de guitarra desde 2006, licenciado em Música – Ramo Guitarra Jazz Performance pela Universidade de Évora desde 2013 e formado em Guitarra Clássica com o 8º Grau pelo Trinity College London desde de 2017.

O guitarrista tem tocado e colaborado com músicos e projectos diversos, como Joana Barra Vaz, Alexander Search e Jungle Jazz Orchestra, entre outros. Em paralelo, Daniel Neto tem construído uma carreira em nome próprio e editou o seu disco de estreia, “Embrião”, em 2015 – o disco foi gravado em Estugarda com um trio de músicos locais: Bernard Birk (no órgão), Georg Bomhard (no contrabaixo) e Thorge Pries (na bateria).

Este novo “Olho de Peixe” é o seu segundo disco na condição de líder, agora ao leme de um quinteto atípico. O guitarrista lidera uma formação invulgar, onde a guitarra se junta a clarinete e vibrafone, além da secção rítmica clássica de contrabaixo e bateria. Desta vez faz-se acompanhar de músicos portugueses e ao lado de Neto (na guitarra eléctrica) estão Ricardo Ribeiro (no clarinete baixo, clarinete soprano e theremin), Paulo Santo (vibrafone), André Rosinha (contrabaixo) e Miguel Moreira (bateria).

O guitarrista assina um conjunto de composições originais, temas que exploram diversos ambientes sonoros. O disco abre com um assumido jazz-rock, “Um bicho com espinhas”, onde a guitarra assume o seu papel central. O tema seguinte, “Amanhecer urbano”, mostra um jazz mais tranquilo numa composição que se baseia num canto de pássaros. Na terceira faixa, “Raízes d’Ali”, chega-nos um tema com travo arábico, após uma longa introdução do contrabaixo. O ritmo abranda em “Sangue do sangue”, tema lento em registo balada, melodia memorável com o clarinete em destaque.

Pelo meio há uma versão de Frank Zappa, “Little Umbrellas”, o único tema que não é original de Neto, numa interpretação bastante fiel e reverente ao original de “Hot Rats” (1969). Voltamos aos temas de Neto com “O amolador de tesouras”, cujo título confirma o óbvio: a melodia é inspirada pelos amoladores que chegam quando aparece o tempo de chuva. Em “Planeta D2” há mais espaço para a improvisação, com o grupo a trabalhar sobre um ritmo acelerado onde sobressaem as intervenções de clarinete, vibrafone e guitarra, que vão encontrando um sentido comum. O penúltimo “Aldeia Azul” é o tema mais groovy do disco, com uma base rítmica quase funk, sobre a qual a guitarra desliza. E o disco fecha com uma versão “reprise” de “Planeta D2” (tema aberto à improvisação).

O guitarrista apresenta neste seu segundo disco uma música madura, exibindo originalidade na composição e vontade de inovar nos arranjos (e, desde logo, na configuração instrumental), apresentando um jazz mesclado de referências.

Texto publicado originalmente no site Bodyspace:
http://bodyspace.net/discos/3348-olho-de-peixe/