A Galeria ZDB em Lisboa continua a alimentar uma programação vastíssima e não faltam propostas ligadas ao jazz e à música improvisada para os próximos tempos. No dia 19 de Abril actua o duo japonês Taku Sugimoto & Minami Saeki, com primeira parte de Sã Bernardo (projecto de Bernardo Álvares a solo). A 3 de Maio actua o novo Lisbon Berlin Quartet, que resulta do encontro do pianista Rodrigo Pinheiro (no piano eléctrico Fender Rhodes) com o já existente trio de Luís Lopes (guitarra), Robert Landfermann (contrabaixo) e Christian Lillinger (percussão). E a 29 de Maio é a vez da dupla Otomo Yoshihide (gira-discos) & Chris Pitsiokos (saxofone). A informação completa sobre bilhetes, preços e reservas está no site oficial.
O Teatro Municipal da Guarda acaba de apresentar a sua programaçáo para os próximos meses e um dos grandes destaques é o ciclo Guarda In Jazz. O ciclo vai apresentar um conjunto de propostas muito diversas: Slow Is Possible (29 Junho), Elas e o Jazz (30 Junho), Lokomotiv (5 Julho), Vítor Rua & The Metaphysical Angels (6 Julho), João Hasselberg Spectral Songs (7 Julho), The Bad Plus (11 Julho, agora com o pianista Orrin Evans, que substitui o fundador Ethan Iverson) e Jazzamboka (12 Julho). No âmbito do ciclo será ainda promovida uma sessão de apresentação do livro “O Jazz depois do Jazz”, de Ivo Martins (3 Julho).
Acabam de ser anunciados os projectos musicais portugueses seleccionados para actuarem na European Jazz Conference 2018, que se realiza em Setembro em Lisboa. Foram apresentadas oitenta e oito candidaturas e foram seleccionados os seguintes projectos: Susana Santos Silva (Impermanence), Bode Wilson, João Mortágua (Axes), Pedro Melo Alves’ Omniae Ensemble, Quarteto Beatriz Nunes e TGB. Estes showcases terão lugar nos dias 14 e 15 de Setembro.
Na próxima sexta-feira, dia 6 de Abril, Lisboa vai poder asistir a um raro momento de improvisação livre, uma actuação ao vivo da dupla Luís Lopes (guitarra) e Carlos Zíngaro (violino). Acompanhando o veterano violinista, o guitarrista apresenta-se neste contexto em guitarra acústica. O concerto terá lugar no O’Culto da Ajuda, com início marcado para as 21h30.
O Gilad Hekselman Trio vai apresentar-se ao vivo em Portugal. O concerto terá lugar no dia 23 de Abril no Auditorio Ruy de Carvalho (Carnaxide/Oeiras). O trio junta a guitarra de Gilad Hekselman com o contrabaixo de Joe Martin e a bateria de Jonathan Pinson. O concerto tem início marcado às 21h00, os bilhetes têm o preço de 12€ e estão à venda no local (no próprio dia do concerto) ou via email acdm.guitarra@gmail.com.
Joana Barra Vaz vem trilhando um percurso original entre a música e o cinema. Em 2012 realizou o documentário “Meu Caro Amigo Chico“, no mesmo ano editou o EP “Passeio pelo Trilho” e já em 2016 lançou o disco “Mergulho em Loba“. Já este ano participou na final do Festival da Canção interpretando a belíssima música “Anda Estragar-me os Planos“, original de Francisca Cortesão e Afonso Cabral. Três discos de jazz? Estas são as suas escolhas.
Billie Holiday with Ray Ellis and His Orchestra “Lady in Satin”
(Columbia, 1958)
“Se hoje me atrevo a cantar só pode ter sido por ter escutado a Billie Holiday na adolescência durante tardes e noites sem fim — foram as minhas aulas de canto. Neste disco, a voz de Billie Holiday — amparada pelos arranjos para orquestra de Ray Ellis — está mais madura, com marcas da sua experiência de vida e da sua saúde frágil. Ainda hoje me lembro da sensação de espanto ao ouvi-la assim: cada palavra com o seu peso, intenção, e emoção. O que se escuta aqui não é só um disco, é também tudo o que está bem perceptível nas pausas, nas mudanças de melodia, nas respirações, nas quebras de voz: é uma vida inteira cravada nestas canções.”
Charles Mingus
“Mingus Plays Piano: Spontaneous Compositions and Improvisations”
(Impulse, 1964)
“Já não sei se foi quando vi o “Shadows” do John Cassavetes, ou se foi antes disso, que me agarrei à música do Charlie Mingus. Dos discos do Mingus, este é o mais rodado da minha colecção. Sei-o de cor. É um luxo poder ouvi-lo assim a cru: a improvisar e a compor como se estivesse no piano da minha sala. Mesmo que a certa altura durante a gravação se oiça Mingus a dizer: “I don’t think I should improvise man. It’s not like sittin’ at home, I can tell you that. It’s not like playing at home by yourself.””
Marco Franco
“Mudra”
(Revolve, 2017)
“É tão bonito que me comove. Apanhou-me de surpresa. É daqueles discos que desenha o seu próprio lugar quando se escuta. Impossível não o ouvir por completo de todas as vezes. Também é um disco que veio sustentar a minha crença que quando um músico se desprende do seu instrumento chega a novas formas de expressão musical e, sem rede, descobre novos lugares.”
O contrabaixista Bernardo Moreira vai regressar à música de Carlos Paredes. Moreira vai apresentar o novo espectáculo “Entre Paredes – A música de Carlos Paredes” no dia 24 de Abril na Casa dos Bicos – Fundação José Saramago (Lisboa) e nos dias 6 e 7 de Julho no Quebra-Jazz (Escadas do Quebra Costas, Coimbra). O contrabaixista regressa a Paredes quinze anos depois de ter editado o disco “Ao Paredes Confesso“, disco que se tornou um marco na história do jazz português. A acompanhar o contrabaixista estarão João Moreira (trompete), Tomás Marques (saxofone), Gonçalo Neto (guitarra) e André Sousa Machado (bateria).
O disco “Ao Paredes Confesso” celebra 15 anos em 2018. Como surgiu a ideia de voltar a esta música?
Confesso que a ideia não foi minha e devo dizer que me foi difícil perceber se isso fazia sentido, ou não. Tenho resistido, ao longo dos anos, a vários pedidos para apresentar em concerto o “Ao Paredes Confesso”. Sempre achei que não fazia sentido voltar a este universo que me é tão especial. Este ano o disco celebra 15 anos e recebi dois convites que me deixaram muito comovido. Não pude simplesmente recusar.
Como nasceu a ideia original de “jazzificar” a música de Carlos Paredes?
Por estranho que possa parecer, um dos grandes responsáveis pelo meu gesto tresloucado de mexer na música de Carlos Paredes chama-se Wayne Shorter. Estávamos em 2001 e eu andava por Coimbra a gravar com o Vitorino o “Alentejanas e Amorosas”. Passava as noites numa República a ouvir Carlos Paredes com a malta do fado de Coimbra e lembro-me de ficar absolutamente fascinado com a força avassaladora daquele homem. Estava eu em pleno processo de assimilação compulsiva do universo Paredes, quando recebi um convite para tocar com o Wayne Shorter. Essa semana de ensaios e concerto, tão rica e tão intensa, fez-me perceber que estes dois “monstros sagrados” que eu tanto admirava tinham, na realidade, uma postura perante o Universo, musical e não só, absolutamente idêntica. Dois seres iluminados, de uma humildade extrema, em que tudo é emoção e sentimento. Cada nota é “a nota”, com o peso que todas as notas teriam se fossem únicas. A semana que passei com o Shorter fez-me perceber que os dois universos, aparentemente tão distantes eram, na realidade, um só. A ideia do disco surgiu então, na minha cabeça, como uma espécie de diálogo imaginário entre mim e os dois velhos mestres. A minha relação com Carlos Paredes através das suas melodias é óbvia mas, para um ouvinte mais atento, existem alusões claras ao universo shorteriano.
[Fotografia: Márcia Lessa]
O disco foi gravado em sexteto, agora vais tocar com um grupo diferente, um quinteto com João Moreira, Tomás Marques, Gonçalo Neto e André Sousa Machado. Porque escolheste tocar com estes músicos?
A ideia de replicar o disco não faz sentido. Seria apenas uma comemoração nostálgica, bonita sem dúvida, mas que se esgotaria nesse momento. Ao aceitar o desafio de voltar a Carlos Paredes propus-me inverter o caminho e passo a explicar: passados tantos anos, quando oiço o disco, o que sinto é que foi o Carlos Paredes a vir ter comigo, músico de jazz perfeitamente assumido. Hoje, o que sinto, é que estou preparado para ser eu a ir ter com ele. O meu percurso, nos últimos anos, deu-me a possibilidade de entender, a fundo, a linguagem e toda a base que sustenta a sua música. A escolha dos músicos que me acompanham tentou conciliar criatividade, frescura, experiência e conhecimento do universo da Música Popular Portuguesa e nisso o João Moreira e o André Sousa Machado são fundamentais. Para equilibrar um pouco as coisas, convidei o Gonçalo Neto e o Tomás Marques, que são dois músicos magníficos, muito jovens e com uma vontade enorme de explorar e descobrir novos caminhos.
[Fotografia: Márcia Lessa]
Há ideia de gravar esta nova reinterpretação da música de Paredes? Vão ter mais concertos, além estes?
Tenho estado a trabalhar em novos arranjos de temas do Carlos Paredes, talvez menos conhecidos mas igualmente maravilhosos, que gostava de apresentar ao vivo. Sinto uma enorme vontade de tentar ir mais além neste diálogo e, quem sabe, se um dia não resultará num novo disco. Para já, quero aproveitar estes convites da Fundação José Saramago e do Quebra Costas e, obviamente deixar a porta aberta a outros que possam surgir.
Além deste projecto, em que outros projectos estás envolvido?
Estou numa fase boa, em que me apetece escrever música nova, desenvolver novas ideias que têm vindo a amadurecer nos últimos anos. Interessa-me esta mistura de universos que se fundem e é nesse sentido que caminho. Estou, neste momento, a desenvolver dois projetos distintos que espero gravar até ao final do ano e que refletem a minha ideia de Música Portuguesa.