Entrevista: Susana Santos Silva

[Fotografia: Márcia Lessa]

Natural do Porto, a trompetista Susana Santos Silva tem sido uma das grandes forças criativas do jazz português contemporâneo. Integrou a Orquestra Jazz de Matosinhos durante duas décadas, actuando e gravando com figuras como Lee Konitz, Carla Bley, Maria Schneider,  John Hollenbeck, Kurt Rosenwinkel e Joshua Redman, entre outros. Em 2011 editou o seu disco de estreia como líder, “Devil’s Dress”, e desde então vem alimentando uma discografia rica, na qual se avolumam parcerias com músicos internacionais. Em simultâneo, foi também fundadora e dinamizadora da Porta-Jazz, a associação responsável pela actual vitalidade do jazz no Porto. Mudou-se recentemente para a Suécia e vem tocando por toda a Europa, explorando a sua música aberta, entre o jazz e a improvisação. 

 

Como começaste a tocar?

O meu avô, Joaquim Ferreira dos Santos, tocava trompete na Banda Filarmónica da Foz do Douro, que foi fundada pelo meu trisavô. Ele ensinou cada um dos netos a tocar um instrumento e cedo começámos todos a tocar na filarmónica. Eu tinha 7 anos quando comecei a aprender com ele e com 10 fui para o Conservatório de Música do Porto.

Fizeste a tua formação e chegaste à Orquestra Jazz de Matosinhos, colaborando com muitos músicos de renome mundial. O que aprendeste com essas experiências na orquestra?

Como costumo dizer, a orquestra foi a minha verdadeira escola, mais do que ter estudado jazz na ESMAE ou feito o mestrado na Codarts, em Roterdão. Primeiro, porque toquei todo um repertório de música que foi escrita para “big band” durante o último século, depois por ter tido a oportunidade de tocar com todos os músicos fantásticos que trabalharam com a orquestra. Por exemplo, ter tocado com Carla Bley e Steve Swallow foi uma das experiências mais fantásticas que tive durante esses anos. Na altura até me convidaram para uma “tour” europeia com a Carla Bley Big Band, mas acabou por ser cancelada e nunca mais aconteceu. Foi a última tentativa que fizeram de tocar com a “big band”. Aprendi muita coisa. A experiência foi fantástica e estou muito contente por ter feito esse percurso.

Como é que aconteceu a saída da Orquestra Jazz de Matosinhos?

Saí da orquestra desde que me mudei definitivamente para a Suécia, não era compatível. Havia uma certa ligação emocional, porque fiz parte da orquestra durante 20 anos, mais de metade da minha vida! Mas tinha de acontecer mais cedo ou mais tarde. Estava na hora de seguir o meu próprio caminho, de dedicar todo o meu tempo aos meus projectos pessoais.

Mudaste-te para Estocolmo. Como tem sido essa nova vida?

Tem sido fantástica. Está a correr muito bem, é muito inspirador estar num ambiente com tantos músicos com quem me identifico musicalmente. No Porto, as coisas ainda estão bastante separadas, existe por exemplo a Porta-Jazz e a Sonoscopia, que são duas associações de músicos a fazer um trabalho incrível, mas, a meu ver, existe ainda um espaço artístico vazio entre as diferentes abordagens musicais. Em Estocolmo não sinto tanto isso, há mais cruzamentos, há muitos músicos com quem toco e com quem me sinto muito à vontade para ser quem sou, mesmo quando as estéticas musicais diferem. Tem sido muito gratificante. E depois existem os apoios culturais, que são muitos e tornam possível que muitos músicos vivam só de fazer música, dos seus próprios projectos, sem precisarem de ser professores ou ter outros empregos. (…)

Entrevista completa no site Jazz.pt:
https://jazz.pt/entrevista/2018/04/10/coisas-nao-vem-ter-connosco/