A radialista Inês Meneses é a voz das manhãs na Rádio Radar e a autora do programa “Fala com Ela” – histórico programa de entrevistas a personalidades da cultura e das artes. Colabora actualmente com o jornal Expresso e mantém programas em parceria com Pedro Mexia (“PBX”, podcast Radar/Expresso) e Júlio Machado Vaz (“O Amor é” na Antena 1). Brinda-nos com palavras, brinca com as palavras e é dela essa voz que preenche o éter português. Três discos de jazz? Estas são as suas escolhas.
“O jazz de que gosto agrava a minha melancolia. É um sopro do coração que um trompete ou um piano empurram para fora e fica à mercê da nossa vulnerabilidade. Uso o jazz para me separar as dores, uma reciclagem que nem sempre consigo com outra música.”
Bill Evans – “Portrait In Jazz” (Riverside, 1960)
“Todos os dias passava numa loja antiga cheia de tralha e ficava a olhar para o vinil de Bill Evans na montra. Aquele disco dava à loja a dignidade que ela parecia ter perdido, e eu hesitei em trazê-lo por isso mesmo: ia levar o disco mais bonito que ali estava. Um dia tive que trazer essa dignidade para minha casa…”
Miles Davis – “Someday My Prince Will Come” (Columbia, 1961)
“Ainda está viva Frances, a mulher da capa deste disco, que foi casada com Miles Davis, uma década. Como seria viver com estes homens tão intensos que parecem estar sempre no limite de qualquer coisa? Sempre prestes a transbordar…? Neste disco, a última colaboração entre Miles Davis e John Coltrane.”
The Modern Jazz Quartet – “Pyramid” (Atlantic, 1960)
“Sem querer, acabo a escolher discos da mesma altura. Este é muito recente em minha casa. Tem o John Lewis ao piano (o fundador do Modern Jazz Quartet), um homem que ouvia e tocava muita música clássica. É um disco de uma elegância tão rara. Veste de tuxedo a minha melancolia.”