Confesso que depois de tanta conversa esperava mais, mas o filme é giro, vê-se bem. O que me aborreceu foi aquele discurso do “jazz puro”, de que “o jazz está a morrer”, a ideia de que a fusão (pop/eléctrica) é uma coisa má, de que é preciso salvar o “jazz a sério”. Ora bem, a fusão do jazz já tem mais de quarenta anos, já faz parte da história do jazz. E o jazz sempre viveu de permanente evolução, o jazz é a música mais miscigenada e promíscua que existe. A conversa de que o jazz está a morrer vem desde sempre, desde que os Beatles começaram a dominar as tabelas de vendas, desde que morreu o Coltrane, desde que o Miles se meteu a brincar com a eletricidade, etc. Mas o jazz não morreu nem vai morrer tão cedo e dizer baboseiras deste tipo equivale a promover um ideal de jazz cristalizado nas imagens de bares fumarentos a preto e branco, equivale a ignorar e desvalorizar todo o jazz criativo que tem sido feito desde os anos 60, todo o jazz criativo que continua a ser feito hoje em dia. O jazz contemporâneo de 2017 tem por base a história, mas combina a improvisação com o rock, com a electrónica, com o groove, etc, etc. O jazz continua vivo na música actual de Kamasi Washington, dos Dawn of Midi, do RED trio, do João Hasselberg, do André Santos – só para citar alguns exemplos de música do nosso tempo (e alguns da nossa terra). Não temam, o jazz não está para morrer, amigos.