Autor de canções inclassificáveis, Bernardo Devlin é um músico com percurso rico, que vai desde os Osso Exótico até uma discografia a solo ímpar, além de inúmeras parcerias. Devlin acaba de editar um novo disco, Proxima b, que conta com diversos músicos convidados, como Ernesto Rodrigues, Helena Espvall ou Oliver Vogt. Numa pequena entrevista Bernardo Devlin apresenta este novo trabalho.
Este novo disco tem um título algo enigmático. Porquê este título, Proxima b, o que significa?
Em primeiro lugar gostaria de referir que quando escolho um título procuro que funcione mais como uma pista ou uma referência e certamente prefiro que a interpretação seja deixada em aberto. Proxima b é um exoplaneta a muitos milhares de anos-luz da Terra. Salvo haver suspeitas quanto à sua possível habitabilidade pouco ou nada se sabe acerca dele. O álbum tem como subtítulo As duas antenas do caracol, o que implica por um lado lentidão e por outro vigilância.
Que ideias quiseste trazer para este disco?
Em continuidade com a resposta anterior, podemos pegar nos factos mais recentes da conquista do espaço como medida para o estado de evolução da espécie humana – algo que provavelmente deveria advir de um esforço progressista de união global e que, se ainda cá estivermos, será uma questão de necessidade para a sobrevivência da espécie. O pouco que tem vindo a acontecer nesse campo é mais movido por um desejo de capitalização ou mesmo privatização do espaço. Isso diz muito acerca do estado brutalmente primitivo em que nos encontramos. A ganância que isso implica, que diz muito acerca da conjuntura actual, e as consequências que se têm vindo a fazer sentir no nosso quotidiano estão no sentimento deste álbum. Mas não é ficção-científica. É só mais um ponto de vista quanto ao estado das coisas por aqui, e também quanto à lentidão do progresso da mentalidade humana em geral.
Neste disco trabalhas com um leque alargado de músicos, alguns deles participaram no teu disco Circa 1999 (9 Implosões), como o Ernesto Rodrigues e o Oliver Vogt. Como decorreu a selecção de músicos para este trabalho?
Como sempre. Essa selecção é feita de acordo com a natureza do projecto e prefiro recorrer a aqueles que conheço quer como músicos quer como pessoas. De resto, as coisas são definidas pelas disponibilidades de cada um.
Passaram oito anos desde o disco anterior, Sic Transit, editado em 2012. O que estiveste a fazer durante este tempo?
Tenho um outro projecto que se chama Chroma Key em vias de finalização, mas não sei dizer quando sairá. Estive envolvido em dois grupos, Capital “O” e Time Machine. Colaborei com os franceses Hifiklub, com o Vítor Rua e com o DWART. Em resumo, os oito anos de espaço entre os dois álbuns não reflectem em nada o meu ritmo de produtividade.
Há planos para apresentar esta música ao vivo?
Não, pela simples razão de não haver condições para o fazer.