3 discos? A escolha de Marta Hugon

A cantora Marta Hugon é uma das grandes vozes do jazz português. Iniciou a sua discografia com o álbum “Tender Trap”, em 2005, tendo editado seguidamente os discos “Story Teller” (2008), “A Different Time” (2011) e “Bittersweet” (2016) – onde se incluiu uma inesperada parceria com Samuel Úria, no tema “Insane“. Já este ano a cantora apresentou-se com um novo projecto, Elas e o Jazz, trio de jazz vocal com Joana Machado e Mariana Norton, onde se reinventam temas do cancioneiro jazzístico tradicional e da Broadway com refinadas harmonias vocais. Três discos de jazz? Estas são as suas escolhas.

 

Brad Mehldau Trio
“Places”
(Warner, 2000)

“Gosto de todos os discos de Mehldau. Adoro o que faz às canções que vai buscar fora do jazz. Mas este disco é todo feito de originais, na sua maioria escritos enquanto andava na estrada com Jordi Rossy e Larry Grenadier. Places é um disco sublime sobre a procura do sublime na vida e na música. Uma espécie de geografia da própria memória dos lugares por que Mehldau passou, que tem como fio condutor o desejo de recuperar e tornar próximo aquilo que o tempo tornou distante. É um sentimento com o qual me identifico e a sua música consegue torná-lo tangível.”

 

Keith Jarrett
“The melody at night with you”
(ECM, 1999)

“Algumas das mais belas versões de standards de jazz que conheço estão neste disco. É um disco de referência, daqueles que me fizeram apaixonar por esta música. Há uma grande intimidade e ao mesmo tempo uma espécie de exaltação nesta gravação. O som é maravilhoso, próximo e quente, como se estivéssemos na sala com Jarrett e o seu piano. A sua interpretação de “I loves you Porgy” faz-me sempre chorar. Os discos, como os livros, estão muitas vezes associados a fases da nossa vida e este está diretamente ligado à altura em que comecei a estudar jazz. Volto muitas vezes a ele.”

 

Andy Bey
“American Song”
(Savoy, 2004)

“Descobri o Andy Bey há muito tempo num concerto no North Sea Jazz Festival, num auditório pequenino. Era uma voz linda de barítono, profunda, cheia da história dos seus quase 70 anos, naquela altura. Foi um lindo concerto, com ele muito tímido e talvez até um pouco magoado com alguma falta de reconhecimento do público. Bey sempre cantou mas teve uma espécie de ressurgimento musical no final dos anos 90. Este “American Song” acabou por ser nomeado para um Grammy. Inspirei-me na sua interpretação para gravar o “River Man” e o “Never let me go” do meu segundo disco.”