O guitarrista Pedro Marques prepara-se para editar o seu primeiro álbum, “Building Walls With Sound”. Marques trabalha uma música próxima do rock progressivo, assumindo também influências jazzísticas. Antecipando a sua estreia discográfica, Pedro Marques apresenta-se.
Pode apresentar o seu percurso na música?
Aos doze anos alguns colegas meus começaram a ter aulas de guitarra clássica. Não sei explicar a razão, mas o instrumento fascinou-me desde o primeiro momento em que peguei numa. Estupidamente, na altura tive vergonha de pedir uma guitarra aos meus pais. Só mais tarde, com dezassete, após um amigo me ter deixado assistir a uma das suas aulas, é que resolvi comprar uma muito barata. Mostrou-me alguns acordes; a sensação de conseguir reproduzir uma coisa que antes me parecia inacessível tornou-se viciante. Tive algumas bandas de garagem, mas nunca passavam dos primeiros ensaios porque o nível de compromisso entre nós nunca era o mesmo. Já na faculdade, comecei a dar aulas de guitarra, usando o dinheiro para começar a dar os primeiros passos na produção musical. De forma mais ou menos intermitente, as aulas têm sido, para já, a minha principal ligação à música.
Influências determinantes para a sua própria música?
O meu primeiro grande ídolo foi o Slash dos Guns N’ Roses; aliás, no princípio não ouvia mais nada sem ser Guns e Metallica de manhã à noite. Depois, enquanto os Radiohead me ensinavam como organizar diferentes timbres por camadas, Paganini mostrava-me como se pode ser virtuoso sem descurar o sentido estético e a escolha de notas. Steve Vai e Gonçalo Pereira foram outras influências muito importantes nos primeiros anos.
Qual a sua ligação com o jazz?
De forma inconsciente, a minha ligação com o jazz nasceu em pequeno, numa altura em que o tema “Vilas Morenas” de António Pinho Vargas era usado, se não estou em erro, como genérico de um programa de rádio que os meus pais costumavam ouvir. Na altura, a melodia ficou registada na minha cabeça, embora eu não soubesse sequer de que estilo musical se tratava. Mais tarde, assim que deixei de ser principiante (mas ainda o sendo bastante), tentava ler tudo o que havia sobre música. Havia a tese em muitos conteúdos de que, se quiséssemos ser competentes, deveríamos ser capazes de entender a linguagem do jazz. Obriguei-me a ouvir e detestei. Provavelmente não comecei pelas coisas certas, e o vocabulário que é necessário ter para se começar a compreender e gostar representava um salto maior do que aquele que eu estava preparado para dar. Foi com o álbum “Speaking of Now”, de Pat Metheny Group, que o meu gosto finalmente surgiu em força. Não sei como fui dar a esse álbum específico, mas talvez tenha sido importante chegar lá por acaso e não por obrigação. Esse álbum tem, para mim, a combinação perfeita entre improviso e estrutura musical pré-definida. Agora, já à espreita de oportunidades futuras, tenho duas ou três músicas já algo avançadas às quais se pode perfeitamente chamar de jazz sem ser necessário adicionar muito mais adjectivos. Gosto de demasiadas coisas para fazer um álbum só de jazz (e o respeito que tenho pelo género ia-me obrigar a um estudo mais focado apenas a isso), mas não fico descansado enquanto não as puder acabar e mostrar também esse lado às pessoas.
No processo de composição, quais os elementos que mais valoriza?
Mais do que a mera apresentação de uma ideia musical, em que as músicas nos ficam no ouvido pela força maior da repetição, dou muita importância à exploração dessa mesma ideia. O significado de uma melodia pode mudar drasticamente se alterarmos a harmonia e a métrica que a suporta. Tento sempre contar uma história, sem sacrificar a ligação entre as diferentes secções, e voltar mais tarde a repetir alguns dos motivos, mas em diferente contexto, como se fosse um “plot twist” numa narrativa. De resto, tento compor sem recorrer à guitarra, sempre que possível. A construção de cada instrumento faz com que seja mais fácil tocar determinadas sequências de notas em detrimento de outras. Se utilizarmos demasiado um intrumento, mesmo que seja aquele em que temos mais liberdade, é inevitável entrar em piloto automático e deixar que o processo de composição seja mais guiado pela memória muscular do que pela própria cabeça.
Quais são os seus planos para o futuro?
Ainda que o primeiro álbum só vá sair agora, já tenho o segundo completamente escrito. Poder começar a pegar nesse material deixa-me muito entusiasmado. São composições mais maduras, para além de ser agora melhor músico e, se conseguir aliar isso a melhores meios de gravação, sei que será um álbum do qual me vou orgulhar muito. Não é que não tenha orgulho do primeiro (seria ridículo, ainda agora o acabei e deu bastante trabalho), mas o “Building Walls With Sound” é uma espécie de desbloqueador de conversa, uma forma bastante elaborada de dizer “olá, eu sou o Pedro” às pessoas. Foi feito com muita dedicação; se os outros também reconhecerem isso, as oportunidades surgirão. De resto, embora preze o facto de ser auto-suficiente, gostava muito de poder colaborar com outros músicos, quer seja como intérprete ou partilhando as tarefas na composição e/ou produção.