A Favola da Medusa é um projecto original que combina música improvisada e poesia. Nasceu em 2010, com Miguel Martins e Filipe Homem Fonseca (também argumentista), e vem desenvolvendo colaborações com vários músicos, nacionais e internacionais. Na próxima segunda-feira, 21 de Maio, a Favola regressa aos concertos nos Poetas do Povo (bar O Povo, no Cais do Sodré, em Lisboa). Antecipando essa actuação, e com um humor desafiante, aqui fica uma pequena conversa sobre o percurso do projecto.
Como surgiu o projecto A Favola da Medusa?
Miguel Martins: Foi numa bonita noite do Outono de 2010, fruto da generosidade que nos caracteriza, a mim e ao Filipe Homem Fonseca, a qual nos impeliu a mostrar ao mundo qual o futuro desta forma de arte, caso queira permanecer no plano alcançado por músicos como Bach ou Mozart, mas à medida dos tempos vindouros.
Podes indicar quais são as vossas influências e referências musicais?
MM: Mais do que tudo, um agrupamento do Ontário chamado Nihilist Spasm Band. Enquanto pianista, citaria o Jon Benjamin, que é um prodígio de técnica, embora toque com uma gente muito pouco aconselhável. Algum Kagel, mais conceptual. O Nam June Paik. Toda a música que parta do entendimento de que o que menos interessa é o som.
Porque escolheram este nome curioso, A Favola da Medusa?
MM: Na verdade, não se tratou de uma escolha mas, antes, de uma revelação. Estava o Filipe a pastar as suas ovelhinhas na Cova da Iria quando viu uma luz muito intensa…
Têm colaborado com vários músicos convidados, já editaram um disco. Podes apresentar a vossa história e percurso?
MM: Sim, já passaram algumas dezenas de músicos pela Favola. Permito-me destacar a Ana Isabel Dias, harpista que toca com várias orquestras e que integrou os Madredeus, o George Haslam, um dos maiores saxofonistas barítonos da história do jazz, a Beverley Chadwick, saxofonista do Robert Wyatt, a Anabela Duarte, dos Mler Ife Dada, o Alberto Velho Nogueira, porventura o maior prosador do mundo e de sempre e um baterista notável, o Eduardo Madeira, o segundo maior pianista da Pátria, a seguir a mim, o John Mateer, poeta australiano, a cravista Joana Bagulho, a cantora Mariana Abrunheiro, que gravou, por exemplo, com o Jaques Morelenbaum, o percussionista Pedro Castello-Lopes, o saxofonista Abdul Moimême, o violetista João Camões, ou a cantora francesa Swala Emati. A lista é enorme. E, sim, em 2015, editámos o CD “Dada Dandy”, na inglesa SLAM, onde gravaram também, por exemplo, o Mal Waldron e o Max Roach, para além de quase todos os grandes nomes do free britânico. Agora, damos este concerto no Povo, em que contamos com a trompete da Ana Roque, uma rapariga que trata o falecido Lester Bowie por Bambi, e já temos outro marcado, no Irreal, a 4 de Julho, com o Alejandro Crawford, que é videasta, por exemplo, dos MGMT, dos Tame Impala e dos Childish Gambino.
Como definem o vosso som e as vossas actuações?
MM: Indefiníveis, algures entre o bucólico e a chinfrineira. Mas sempre demonstrativos de uma genialidade ímpar. Com a modéstia que me caracteriza, diria que são a banda-sonora do Céu, do Purgatório e do Inferno.
Neste próximo concerto nos Poetas do Povo vão contar com a participação da Ana Roque no trompete, que é uma estreia. O que podemos esperar desta actuação?
Ana Roque: Como em tudo na vida, há que esperar o melhor e estar preparado para o pior.
Quais são os planos para os próximos tempos? Futuras colaborações, disco novo, concertos…?
MM: Isso tudo e muito mais. O objectivo é a absoluta hegemonia. Só nos calaremos quando mais ninguém tocar.