[Fotografia: gnration]
Os The Selva encontram-se a desenvolver uma residência artística no gnration, em Braga. O resultado do trabalho será apresentado com um concerto ao vivo, no dia 12 (sexta-feira), às 22h30. Ricardo Jacinto, Gonçalo Almeida e Nuno Morão falam-nos sobre a residência e aquilo que daí virá.
Que tipo de trabalho estão a desenvolver na residência?
Esta residência surge no intervalo de uma pequena tour entre Lisboa e Pontevedra. Demos quatro concertos e em seguida parámos no gnration para preparar o material que fará parte do nosso próximo disco. Foram-nos disponibilizadas ótimas condições para gravar e por isso temos estado a fazê-lo em continuidade ao longo destes dias. O facto de já termos dado 4 concertos e termos mais 3 em seguida, faz com que nesta residência tenhamos por um lado novo material que surgiu nos concertos e por outro possamos ainda testar ao vivo algumas novas composições trabalhadas na residência.
Que novidades serão apresentadas no concerto?
A Selva é um trio que explora de um modo sistemático, mas aparentemente muito orgânico, um conjunto alargado de referências musicais numa lógica de dispersão idiomática. Esta característica que, de algum modo, já estava presente no primeiro disco será aqui desenvolvida tanto em faixas duracionais como em miniaturas. Estes são dois formatos que gostamos muito de explorar e que, paradoxalmente, exigem uma grande contenção e disciplina. São estes eixos que estamos determinados a desenvolver numa lógica de conseguir manter a organicidade e imprevisibilidade que queremos para os concertos, mantendo ao mesmo tempo controlo da forma e estrutura.
Como está a decorrer a residência? É uma experiência que querem repetir mais vezes?
Está a correr muito bem, tanto internamente como na relação com o pessoal do gnration. Faz muita falta estender à música este tipo de programas de residência, que por exemplo nas artes plásticas são muito comuns. É fundamental que hajam mais espaços que recebam em residência projetos musicais pois é que aqui que se possibilita de um modo estruturado a sedimentação do trabalho criativo e se dá aos artistas/grupo um período de concentração. Parece-nos também que este tipo de projetos permite que haja uma interação muito desejável entre artistas em residência e músicos/artistas/escolas locais. Neste caso iremos realizar um workshop de improvisação com um ensemble de 13 alun@s do Conservatório Gulbenkian de Braga. Estamos a preparar com bastante interesse esta dimensão da residência pois identificamos uma falta muito grande de práticas de improvisação musical no contexto académico. No contexto académico português há a ideia de que a improvisação é um parente pobre da composição e da interpretação e que quando surge é uma prática exclusiva do Jazz. Interessa-nos desenvolver estes workshops tanto em torno da improvisação livre como de lógicas de improvisação mais orientadas.