Luís Lopes apresenta o novo Lisbon Berlin Quartet


Lisbon Berlin Trio [Fotografia: Márcia Lessa]

No dia 3 de Maio a Galeria ZDB, em Lisboa, apresenta ao vivo o Lisbon Berlin Quartet, uma nova formação que junta o pianista Rodrigo Pinheiro ao trio de Luís Lopes, Robert Landfermann e Christian Lillinger. O guitarrista Luís Lopes, mentor do grupo, faz a sua apresentação.

O grupo Lisbon Berlin já existe há alguns anos como trio, já com um som definido e um percurso sólido. Como surgiu a ideia deste grupo?

O Lisbon Berlin Trio é um grupo peculiar na diversidade que constitui o Universo da minha mente como veículo ou canal transmissor de criatividade como sistema supra-humano. Viajo exactamente na linha de fronteira entre o controle e o descontrole da minha mente. Aí mesmo nessa linha infinitamente tenue. Daí o último disco do grupo se ter Chamado “The Line” e o primeiro tema “Vertigo”… Essa vertigem, ao limite, fascina-me! A organização composicional da música do grupo é toda constrida de acordo com este imaginário. Existem umas partes escritas que depois se misturam com a improvisação, sim, mas sob a fórmula de descontrole no sentido do caos… As diferentes vozes por vezes estão escritas com o entrosamento certo, mas pre-construídas para poderem moldar-se no sentido do descambe. É assim que eu gosto… Do caos… Onde perdes o controle por momentos, e isto individualmente no meio de um grupo, o que é uma loucura.. mas é esse o jogo! E penso que consegui no último disco, e nos últimos concertos, e que todos nós o sentimos. Por exemplo o tema “The Line” é uma composição escrita toda retalhada em que cada um sente como quiser ou puder e “tenta” alguma coisa no meio de um possível desespero. Agora temos novas composições para organizar neste sentido! Já alguma vez sentiste-te perder totalmente o controle em “ti”? O perigo… e a transcendência!

O grupo vai agora passar a quarteto com a inclusão do Rodrigo Pinheiro. Porquê convidar o Rodrigo para tocar piano eléctrico Fender Rhodes?

O Rodrigo vai trazer variadas coisas. Nomeadamente o elemento psicadélico, e também, claro, um certo adorno técnico. Eu já tinha ouvido o Rodrigo a tocar Rhodes quando trabalhámos juntos na sessão de gravação do disco dos Lisbon Freedom Unit, que vai sair em breve na Clean Feed. É um disco maravilhoso e abre portas para mais futuro. Apaixonou-me a forma como o Rodrigo usou o Rhodes com um pedal de distorção, aliás, sugestão minha. Agora para juntar à minha guitarra distorciva e com mais efeitos desta vez e também ao contrabaixo com distorção e efeitos do Robert, ao que se junta a bateria visceral do Christian. Uma máquina! O Rodrigo entende tudo o que aqui digo para além de ter uma técnica considerável, que bem usada vai trazer mais e melhor dinâmica e efervescência. Vai elevar e puxar mais pelo lado do músculo. É isso, sempre no sentido visceral, da desobediência e da transcendência, mesmo para connosco como indivíduos, produtos de uma máquina pré-comandada sabe-se lá pelo quê. Interessa-me o conceito da auto-subversão como porta de saída da redundância e mediocridade. Sou um ser espiritual e como tal não religioso. A religião reduz o espiritual a um “deus” não só aberrante como totalmente descartável, assim como tudo o que é humano. Tudo tiques de pequenês e fraca condição. Mas no entanto podemos e devemos reequacionar o que é “ser” humano, para assim abrirmos portas e possibilidades de futuro para a raça. Se não, venha logo uma inteligência artificial a sério que acabe com esta merda de uma vez por todas!

Quais são os planos para o quarteto?

Saímos de madrugada para concerto no Ausland em Berlin. No dia seguinte sessão de estúdio adjacente ao Ausland para registar o novo material em disco, objectivo principal para este grupo nesta altura. Depois veremos se o que temos para oferecer neste momento tem potencial para mais mostras e aventuras. É assim que eu funciono! Mas sim, a coisa promete… É um grupo monumental!