Disco: “Ricardo Toscano Quartet” de Ricardo Toscano

Ricardo Toscano
“Ricardo Toscano Quartet”
(Clean Feed, 2018)

A espera foi longa. O saxofonista Ricardo Toscano surgiu muito jovem, começou por se fazer notar na Festa do Jazz, ainda adolescente, e rapidamente passou a ser convidado para tocar com muitos músicos portugueses. Desde então alimentou um enorme currículo de colaborações e continuou a estudar. Afirmou-se como saxofonista e notável improvisador, com solos enérgicos e memoráveis. Não teve pressa em editar o seu disco de estreia. Muitos discos são editados quando os músicos estão ainda numa fase prematura, por vezes estão ainda numa fase de evolução técnica, muitas vezes ainda não têm ideias bem definidas. Os discos aparecem pela necessidade de mostrar algo. Toscano não teve pressa, trabalhou com calma. E ainda bem que o fez. (…)

Ricardo Toscano já era um fenómeno de popularidade no actual panorama do jazz português do século XXI. Já era reconhecido, entre pares e junto do público, como instrumentista notável, os seus concertos estavam cheios, esgotavam, os seus solos eram aplaudidos de pé. Agora, com a edição deste disco, Toscano confirma-se como músico completo, compositor e líder de um quarteto superlativo. Este disco, belíssimo, fica para a história do jazz português. (…)

Texto completo no site Bodyspace:
http://bodyspace.net/discos/3374-ricardo-toscano-quartet/

Disco: “Urban Season” de Timespine

Timespine
“Urban Season”
(Shhpuma, 2018)

Surgiram em 2013, com um disco de estreia homónimo, editado na Shhpuma. O trio Timespine reunia três músicos oriundos de universos diversos: Adriana Sá (zither e electrónica), John Klima (baixo eléctrico) e Tó Trips (dobro e percussão). Este novo “Urban Season” é o segundo volume de uma discografia de um grupo que já encontrou o seu universo sonoro próprio. Este é um mundo muito particular: a matriz sonora instrumental é folk, mas o trio não se serve de composições convencionais para mergulhar na tradição da América profunda; ao contrário do que acontece noutras edições da Shhpuma, o trio também não explora a improvisação pura. Neste projecto atípico, o grupo trabalha a partir de partituras gráficas (da autoria de Adriana Sá) e as intervenções de cada um dos instrumentos vão respeitando as indicações visuais. Embora exista esse respeito à composição gráfica, neste processo há uma grande amplitude para a interpretação de cada sinal, cada músico pode transformar em música a sua interpretação pessoal, que poderá diferir da interpretação dos outros músicos. Ou seja, trata-se de uma música semi-aberta, onde há uma margem alargada para a criatividade de cada contribuição individual. O resultado que encontramos neste neste “Urban Season” é uma folk planante, música exploratória que vai incorporando referências diversas, mas acaba por soar como massa una, coerente. (…)

Texto completo no site Bodyspace:
http://bodyspace.net/discos/3372-urban-season/

Clean Feed chega aos 500 discos

A editora portuguesa Clean Feed acaba de anunciar a sua 500ª edição. A editora fundada em 2001 chega aos 500 discos numa altura em que celebra 18 anos de existência e o disco CF500 é assinado por um trio de músicos consagrados: o saxofonista Larry Ochs, o guitarrista Nels Cline e o baterista Gerald Cleaver. O trio apresenta o disco “What is to Be Done”, assinalando uma marca histórica da editora que tem conquistado o mundo e tem contribuído para definir o jazz e a música improvisada do nosso tempo. Parabéns, Clean Feed!

“Dúcon”: Experimentação do Uruguai

Do Uruguai chega uma proposta experimental pouco comum. O disco “Dúcon” regista o encontro musical entre Santiago Bogacz (guitarras e voz) e Antonino Restuccia (contrabaixo). Esta música foi gravada ao vivo, em Setembro do ano passado em Montevideo, e mostra a dupla num processo de improvisação. Ao longo de uma faixa única de 38 minutos Bogacz e Restuccia dialogam, numa estratégia de pesquisa, procura, encontro e desencontro. O resultado é uma interessante mescla onde se cruza improvisação livre com free folk. O disco está disponível online, no Bandcamp.

Disco: “Autotelic” de Javier Subatin

Javier Subatin
Autotelic
(Sintoma, 2018)

Argentino a residir em Portugal, o guitarrista Javier Subatin (Buenos Aires, 1985) tem aqui o seu disco de estreia como líder. O projecto nasceu como duo, numa colaboração entre Subatin e o pianista português João Paulo Esteves da Silva. A formação completa-se com mais três músicos nacionais: Desidério Lázaro no saxofone, André Rosinha no contrabaixo e Diogo Alexandre na bateria.

Neste disco “Autotelic” Subatin faz questão de assinar a composição de todos os oito temas. O diálogo entre guitarra e piano está no centro desta música, a guitarra eléctrica de Subatin comunica com o piano de Esteves da Silva e o disco é deles, vive desse contínuo diálogo, dessa interação permanente. Pontualmente, Lázaro contribui com o seu saxofone criativo e Rosinha e Alexandre apoiam a base rítmica. Continue reading “Disco: “Autotelic” de Javier Subatin”

Ao vivo: Peter Evans & Orquestra Jazz de Matosinhos


[Fotografia: Vera Marmelo]

O americano Peter Evans começou por se afirmar como trompetista extraordinário, músico inovador, notabilizando-se pelas suas actuações e registos a solo – como “More Is More” (2006) ou “Nature/Culture” (2009). Ficamos depois a conhecer as suas facetas de líder, compositor, arranjador, explorador e improvisador, expostas em discos como “Live in Lisbon” (Peter Evans Quartet, ao vivo no Jazz em Agosto), “Live in Coimbra” (do quinteto Mostly Other People Do The Killing, gravado no Jazz ao Centro) e “Scenes in the House of Music” (num quarteto com Evan Parker, Barry Guy e Paul Lytton, na Casa da Música). Refira-se ainda a sua colaboração com o Rodrigo Amado Motion Trio, registada em dois discos (“Live in Lisbon” e “The Freedom Principle”).

Por aqui conclui-se que a ligação do trompetista com Portugal vem de longe. E desta vez Peter Evans foi desafiado a tocar com a Orquestra Jazz de Matosinhos (OJM), numa parceria que surgiu tão inesperada quanto o resultado seria imprevisível.Dirigida por Carlos Azevedo e Pedro Guedes, a orquestra já revelou a sua excelência em colaborações com músicos como Carla Bley, Kurt Rosenwinkel, Maria Schneider, Lee Konitz e John Hollenbeck. Ao longo de duas décadas de história a OJM tem trabalhado um percurso versátil, sempre às voltas do jazz contemporâneo, mas esta parceria prometia levar os músicos a novos níveis de exploração. Depois de uma primeira actuação na Casa da Música, a 25 Novembro, a orquestra repetiu a actuação em Lisboa, na Culturgest, no dia 28.

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Disco: “Close Up” de Sara Serpa

Sara Serpa
“Close Up”
(Clean Feed, 2018)

Sara Serpa, portuguesa a residir em Nova Iorque há mais de uma década, é reconhecidamente uma das grandes vozes do jazz contemporâneo. A cantora estreou a sua discografia com o disco “Praia” (Inner Circle Music, 2008) e conseguiu afirmar-se pela qualidade vocal e pelo jeito muito próprio de cantar sem palavras. Tem estado envolvida em múltiplos projectos, onde se destaca o seu trabalho em dois duos: com o veterano pianista Ran Blake e com o guitarrista André Matos (o mais recente registo foi “All the Dreams”, em 2016). Nos últimos tempos Sara Serpa apresentou ao vivo dois novos projectos: na sequência de um convite de John Zorn, formou o projecto Recognition, com Mark Turner e Zeena Parkins, uma experiência trans-disciplinar que reflecte o colonialismo; e mais recentemente, estreou ao vivo o projecto Intimate Strangers, uma parceria com o escritor nigeriano Emmanuel Iduma. E tem ainda estado envolvida no colectivo We Have Voice, denunciando o assédio e a desigualdade de género no meio artístico. Entre os seus projectos musiciais mais recentes está também o grupo que editou este disco, um trio improvável que desafia convenções: aqui temos apenas voz, saxofone e violoncelo. (…)

Texto completo no site Bodyspace:
http://bodyspace.net/discos/3360-close-up/

Disco “Oxy Patina” de Mário Costa

Mário Costa
“Oxy Patina”
(Clean Feed, 2018)

O baterista Mário Costa começou por se afirmar como membro do grupo de Hugo Carvalhais e o seu percurso tem também passado pela colaboração com outros projectos, como o Ensemble Super Moderne e o grupo Metamorphosis do trompetista Gileno Santana. E o baterista integra o excelente Émile Parisien Quintet, que publicou os aplaudidos discos “Sfumato” (2016) e “Sfumato Live in Marciac” (2018), actuando ao lado de músicos lendários como Michel Portal, Wynton Marsalis e Joachim Kühn. Agora, o baterista acaba de se apresentar em nome próprio, com o excelente disco de estreia “Oxy Patina”. Para este álbum o baterista reuniu um trio improvável, juntando dois nomes grandes da cena europeia: o guitarrista Marc Ducret e o pianista Benoît Delbecq. Revelando a sua vontade de afirmação, o jovem baterista acaba por assinar todas as composições do disco, com apenas uma excepção, um tema que resulta de uma improvisação colectiva. (…)

Texto completo no site:
http://bodyspace.net/discos/3359-oxy-patina/