Livro: Música Negra de LeRoi Jones

Música Negra
Leroi Jones
(Orfeu Negro, 2021)

O norte-americano LeRoi Jones (1934-2014) foi um importante crítico de música, poeta, dramaturgo e activista político; em 1965, após o assassinato de Malcom X, mudou de nome para Amiri Baraka. Crítico atento ao novo jazz que emergia nos EUA, acompanhou de perto o nascimento e crescimento do free jazz e foi também performer em declamação/spoken word, tendo gravado e atuado ao vivo com músicos da cena free – a sua colaboração no disco de estreia do New York Art Quartet, a declamar o poema “Black Dada Nihilismus”, é histórica.

O livro Black Music, editado originalmente em 1967, reúne um conjunto de textos (ensaios, críticas, reportagens) que documentava a música jazz daquele momento, um jazz vivo que crescia nos clubes e que tinha exposição em discos que, com o passar dos anos, se tornaram históricos. Com textos publicados originalmente entre 1959 e 1967, o livro faz um retrato cristalizado de uma época em que a música florescia e era possível assistir ao seu crescimento.

Baraka assiste e documenta a evolução e afirmação de músicos como Wayne Shorter, Thelonious Monk, Ornette Coleman, Don Cherry, Cecil Taylor, Archie Shepp, Dennis Charles, Albert Ayler, Sun Ra, Bobby Bradford e Sunny Murray. E, particularmente, John Coltrane, que para além dos próprios textos sobre a sua música, está sempre presente, como estrela maior do firmamento – até a dedicatória vai para Trane: “A John Coltrane, o espírito mais pesado”. Essa música tornou-se cânone e, hoje em dia, ao lermos estes ensaios sentimos que estamos a fazer uma viagem no tempo.

Esta primeira edição portuguesa, Música Negra, pela Orfeu Negro, tem tradução de João Berhan, conta com um prefácio da autoria de Kalaf Epalanga e ilustrações de Francisco Vidal. O livro é complementado com uma seleção de discos relevantes do free jazz daquela altura – “Uma breve discografia da nova música” – e uma entrevista a Amiri Baraka, de 2009, onde fala sobre alguns destes ensaios. Mais de cinquenta anos depois, esta música não é “nova”, mas continua fascinante e preciosa. Este livro, que só peca por chegar tarde, é uma obra fundamental para os amantes de jazz.