João Hasselberg apresenta “The Great Square of Pegasus”

O contrabaixista e compositor João Hasselberg lança hoje o seu novo disco, The Great Square of Pegasus. O disco vai estar disponível em versão digital e CD na página de BandCamp joaohasselberg.bandcamp.com, tal como no Spotify, iTunes e restantes plataformas de distribuição. Para o ano será feita uma edição limitada em vinyl de 12”, assinada e numerada. Numa pequena entrevista, João Hasselberg fala sobre este novo projecto.

Como surgiu esta música? Como foi o processo de composição/desenvolvimento dos temas?
A música para este disco anda a ser pensada de uma forma mais concreta há pouco mais de um ano, como continuação dos processos artísticos e criativos iniciados na Rhythmic Music Conservatory em Copenhaga. Foi um desafio – de mim para mim – para a exploração das possibilidades tímbricas de instrumentos electrónicos e técnicas de electro-acústica. Fiz duas “versões deste disco” (que na realidade não são mais que dois discos completamente diferentes que nasceram da mesma proposta). A versão que ficou, que de certa forma tem uma componente de síntese electrónica muito presente, e uma versão que assenta em tape loops, samples e noise, com uma componente bastante low-fi. Cada uma destas ramificações do processo levou-me a universos harmónicos/melódicos/texturais completamente diferentes. A composição nasceu do processo de materialização, e não o contrário como talvez costume acontecer tradicionalmente, se é que se pode falar nesses termos. É basicamente música muito empírica e intuitiva, que nasceu do processo de exploração dessas técnicas e instrumentos. Depois de ter vários esboços fomos os 3 fazer uma residência no Centro Cultural Raiano em Idanha-a-Nova onde gravámos o material com o qual compus, desenvolvi e produzi a música. Toda a materialização do disco foi um processo de exploração e composição até estar masterizado.

Já tinhas trabalhado com o Pedro Branco e o Afonso Cabral nos discos “Dancing Our Way to Death” e “From Order to Chaos”. Esta música surgiu em continuação do trabalho que desenvolveram nesses discos? Porque escolheste trabalhar com estes músicos?
Não, não sinto que este trabalho esteja ligado aos outros dois discos, nem emocionalmente nem estética/conceptualmente. Partiu mesmo de um sitio em que não havia mais ninguém para alem de mim, ou talvez de um sitio que contivesse toda a gente e ninguém em particular. Pode ser que um dia eu venha a perceber qual delas. À medida que a ideia foi ganhando forma, foi também ficando claro que era o som do Afonso e do Pedro que encaixava ali. E claro, o Pedro também está a começar a explorar o mundo da electrónica, então é uma mais valia tê-lo por perto!

Esta música soa atmosférica, ambiental, espacial, etérea… Como a classificarias ou preferes que seja classificada?
Acho que ao ouvir a música cada um vai ter uma impressão bastante diferente do que ela é e que espaço abre em si. Portanto classificá-la é uma perda de tempo. Muitos acharão que é música electrónica, muitos acharão que não. Dar-lhe um nome seria confiná-la a um espaço conceptual que, para além de altamente claustrofóbico e redutor, é também uma fonte de expectativa que inevitavelmente não será correspondida. O que sinto quando oiço a música é que cria espaço dentro de mim, não sei se por me expandir ou comprimir o que há em mim. O Boyle que decida.

Vais apresentar esta música ao vivo? Tens planos para continuar este projecto?
Bem, neste momento estou sem agenciamento, então essa parte logística está em cima dos meus ombros também. Temos algumas coisas marcadas que surgiram como propostas de programadores, e fiquei muito contente com isso. Vou começar agora a pensar num plano para marcar mais apresentações, mas nem todos os locais serão apropriados para este tipo de música. Gostava que estivéssemos fundidos com o público, como uma só entidade. A relação palco-plateia nunca me agradou. Tocar em igrejas sempre foi um sonho, talvez por ser um suposto local de introspecção e comunhão (permitindo às pessoas criar aquele espaço dentro delas). Mas logisticamente é complicado tocar numa igreja música que não seja sacra. Sim, este álbum é apenas uma primeira e infantil exploração deste universo. O processo de crescimento é infindável e isso reflectir-se-á na materialização também.