JiGG: “A riqueza do jazz europeu mais alternativo”

O festival Jazz im Goethe-Garten (JiGG) realiza-se entre os dias 3 e 12 de Julho e apresenta um total de seis concertos: Cat in a Bag, Dave Gisler Trio, Synesthetic 4, Ghost Trio, Albert Cirera & João Lencastre e Philipp Gropper’s Philm. O JiGG celebra este ano o seu 15º aniversário e vai incluir também uma festa com DJ Johnny (no dia 12, depois do concerto).  Estivemos à conversa com Julia Klein, co-programadora e o rosto mais visível do festival promovido pelo Goethe-Institut Portugal.

 

Quais foram as linhas que guiaram a programação deste ano?
O que tem caracterizado o JiGG desde o início é a visão de dar a conhecer a riqueza do jazz europeu mais alternativo: de jazz contemporâneo, de jazz da vanguarda, da música improvisada, com abordagens experimentais ou talvez até provocadoras e desafiantes. Convidamos grupos e projetos bastante inovadores, de jovens músicos e músicas que se destacam pela sua criatividade e pela sua excelência no que diz respeito à sua prática de tocar. Realmente é uma cena extremamente diversificada, a europeia, e queremos refletir isso na programação do JiGG, quer sejam projetos à base de improvisação livre, quer sejam projetos à base de composições complexas em combinação com improvisação. Um aspeto que une todos os projetos é um discurso musical exploratório, oposto à convencionalidade. Os grupos vêm de Portugal, da Alemanha, da Suíça, da Áustria, da Itália e de Espanha, são seis propostas muito variadas em duo, trio e quarteto. 

Em 2019 o festival celebra 15 anos. Sente que o festival já é um marco no panorama cultural lisboeta?
Sim, eu sinto que o JiGG conseguiu ganhar um lugar fixo no panorama cultural em Lisboa ao longo dos anos. O festival começou numa escala muito pequena, e ao longo dos anos, tem crescido bastante, especialmente nos últimos seis anos, e na verdade parece-me que continua a crescer. Existe um público fiel que vejo todos os anos, mas todos os anos apareçam pessoas novas, curiosas. O nosso público é tão diversificado quanto a programação. Reparei que, ainda há uns anos, acontecia várias vezes que, em conversa, tinha de explicar o que é o “Jazz im Goethe-Garten”. Hoje em dia acontece muito menos. É normal que os ciclos de eventos demorem o seu tempo até chegar a um ponto em que se torna já uma coisa conhecida, com sucesso. É preciso alguma paciência. E com o JiGG conseguimos: nos últimos anos já tivemos várias sessões esgotadas. Acho que o sucesso do festival tem muito a ver com duas coisas, ou melhor é a combinação de duas características específicas que tornam o festival especial e fora do comum. Por um lado, temos uma programação com um carácter próprio, desafiante e exploratório, um estilo de música que é mais comum ouvir em espaços fechados; e, por outro lado, temos um sítio muito bonito, muito verde e aberto, que é o nosso jardim, com um ambiente muito especial e descontraído, em fins da tarde de verão.

Este ano o programa inclui uma festa, no último dia. Como surgiu esta ideia?
O JiGG torna-se quase adolescente, por isso decidimos que o festival merece uma festa de aniversário para festejar este marco. E o que há melhor do que uma festa no jardim, ao ar livre, com um som espetacular? Pensámos imediatamente em convidar o DJ Johnny, porque queríamos naturalmente um som que tivesse a ver com o festival, e queríamos um som de jazz mais dançável. O DJ Johnny é um excelente DJ, que costuma trabalhar muito com vários estilos de música que estão ligados ao Jazz. Quando fizemos o convite, soubemos que ele até é um grande fã do JiGG, que tem estado presente em quase todas as edições.

Quais são aqueles que realça como os destaques do programa?
Parece-me difícil destacar grupos porque acho mais interessante ver o programa como um todo. Por serem tão diversos, e cada projeto ter aspetos especiais que podemos destacar. Mesmo assim, um aspeto a destacar é o facto de o JiGG apresentar este ano quatro projetos em estreia. Logo o concerto de abertura, com o quarteto Cat in a Bag, é uma estreia absoluta! É um novo projeto que se originou a partir dos Slow is possible, que tem marcado recentemente a produção nacional (dia 3). Haverá outras estreias logo nos outros dias a seguir. A música do Dave Gisler Trio (dia 4) caracteriza-se pelos contrastes; pela mudança contínua de estados e ambientes sónicas que parecem flutuar, e de repente explodem, conseguidos por uma improvisação coletiva. Os Synesthetic 4 (dia 5) integram uma espécie de rap sem palavras expressas, jogando com a sonoridade, criando melodias em grooves. Aqui, o instrumento dominante é o clarinete em Si Bemol que até nem é muito utilizado no jazz atual. O Ghost Trio (dia 10) atua à base da improvisação completamente livre, tocando uma música contínua, sem princípio sem fim. O concerto de encerramento é o último projeto em estreia: o projeto Philipp Gropper’s Philm (dia 12). Quatro músicos superlativos, criam uma forte demonstração do que se pode fazer a partir da linguagem mainstream do jazz, mas sem copiar a tradição, refletindo um progresso de linguagem musical, um projeto inovador de alto nível. A única formação já conhecida pelo público local do jazz mais avantgarde é o duo composto por Albert Cirera e João Lencastre (dia 11). Eles destacam-se, no entanto, pela formação instrumental muito interessante e fora do comum: saxofones e bateria com eletrónica. Vai ser uma grande descoberta de sons criativos num cenário raro.