Entrevista: Mn’JAM experiment

O M vem da cantora Melissa Oliveira e o JAM identifica João Artur Moreira, artista visual (os vídeos projectados nos concertos do grupo são dele) e manipulador de dispositivos digitais: o núcleo do grupo Mn’AM experiment é português, a ele se acrescentando o guitarrista galego Virxilio da Silva, o contrabaixista norte-americano, mas radicado em Amesterdão, Matt Adomeit e o baterista polaco Péter Somos. Como convidado têm Casey Benjamin, saxofonista e teclista dos EUA com percurso feito nos Robert Glasper Experiment ou em associação com figuras como os “rappers” Mos Def e Q-Tip e com o vibrafonista Stefon Harris. A música que praticam, um misto de jazz, música electrónica, pop “indie” e improvisação experimental, vai ser apresentada no nosso país em três concertos: no MAAT, em Lisboa, a 8 de Julho, no Museu Cargaleiro, em Castelo Branco, a 12, e no Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha a 13. Quisemos saber mais e estivemos à conversa com M e JAM, que respondem a uma só voz… 

 

Como nasceu o projecto Mn’JAM experiment?
O projeto Mn’JAM experiment nasceu na Holanda, pela mão da M (cantora) e do JAM (compositor), ou seja, Mn’JAM experiment. Apesar de ser um nome esquisito (até para muitos anglófonos não é intuitivo), nada mais quer dizer que «a experiência da M e do JAM». No meio tem um n’ que é a contracção de um “and” tal como Mn’Ms ou Dn’B, o que muitas vezes ainda faz com que a tentativa de leitura do nosso nome aconteça de forma titubeante. Ainda assim, esteticamente achamos que esse n’ é muito mais “estiloso” que um corriqueiro “and” – os Xutos (& Pontapés) também fizeram questão que o X figurasse no nome.

A vossa música integra diferentes referências estéticas. Como chegaram ao vosso som?
Chegar ao nosso som foi um processo muito natural, que começou por termos nascido no último quarto do século XX. Temos a felicidade de poder contar com imensos estilos de música, não só documentados como também estudados “ad nauseam” (aliás, cada vez que encontramos um novo livro de jazz sobre a substituição harmónica existente em Coltrane ou a escolha de “notas de passagem” na música de Charlie Parker ficamos com insónias e comichão nos pescoços). A única coisa que fazemos é tentar não ter preconceitos (apesar de os termos) em relação a outras estéticas. Sabemos, no entanto, que para os músicos de jazz é muito difícil não sentir uma vontade incontrolável de exorcizar tudo o que seja ou pareça pimba, a não ser quando o dinheiro é pouco e é preciso fazer alguma coisa rentável em Agosto (risos). Desta maneira, é com muita naturalidade que em 2019 misturamos sons acústicos, tal como o do contrabaixo tocado com arco, com guitarra usando distorção, com sons puramente electrónicos ou eletroacústicos e com elementos da pop, do rock, do hip-hop, da clássica e da música electrónica. Os sons são, no entanto, só uma parte, em condições ideais metade, da nossa “música”. Tal como o “smartphone” veio revolucionar um meio de comunicação que era até então puramente acústico, tornando-o numa panóplia de possibilidades multissensoriais, ao integrar a parte visual com a mesma liberdade que a musical também a nossa “música” proporciona uma transformação quer na performance, quer na concepção dos nossos elementos sonoros. Um dos temas que tocamos contém “visualmente” um duplo pêndulo em movimento que dá origem à parte melódica e harmónica do tema, ou seja, a imagem dita como será o som.

Como preferem classificar a vossa música?
Parte de fazer o que fazemos (estudar música durante anos a fio, estarmos inseridos num meio em que a remuneração é diminuta, etc.) assenta no facto de conseguirmos convencer-nos a nós próprios de que o que fazemos é não “extremamente revolucionário”, mas marginalmente revolucionário, e a nossa esperança é a de que essa margem seja suficiente para nos afastar de um rótulo. Afinal, quem faz música que foge do “mainstream” foge de rótulos de modo a sentir-se especial. Ou pelo menos de um rótulo com uma ou duas palavras. A partir do momento que seja preciso explicar que algo de diferente está a acontecer, ficamos contentes e dizemos a nós próprios que vale a pena o esforço. Temos tido muito bons resultados a fugir a rótulos, e normalmente as pessoas sabem o que nós somos (ou pensam que sabem) até virem a um dos nossos “workshops”. Então, e principalmente pela circunstância de a nossa parte visual partir de um conceito novo – o da existência de um músico visual, no nosso caso um músico de jazz visual, com solos, “comping”, melodias e uníssonos visuais muito ao jeito de um músico convencional, mudando apenas o facto de que o principal sentido a ser estimulado é a visão -, nunca tivemos ninguém que nos tivesse conseguido classificar com uma ou duas palavras. (…)

Entrevista completa no site Jazz.pt:
https://jazz.pt/entrevista/2019/06/25/marginalmente-revolucionarios/