Disco: “Emergency Exit” de Trisonte

Trisonte
“Emergency Exit”
(Escanifobético, 2018)

O trio Trisonte é um grupo atípico, cuja formação se traduz numa configuração pouco comum de guitarra, saxofone e bateria. Na guitarra está Ricardo Barriga, o saxofone é de Gonçalo Prazeres e na bateria fica Luís Candeias (que também grava baixo eléctrico). O trio teve a sua estreia discográfica em 2013, com a edição de “Monster’s Lullaby” (edição Sintoma Records), e chega agora ao segundo disco, com este novo “Emergency Exit”. O trio parte de uma base jazzística e é aí que assenta a natureza da sua música, mas não se fica por aí. Os temas baseiam-se sobretudo em riffs, curtos e fortes, típicos do rock. A música é enérgica e imediata, conquista rapidamente pela urgência. Este segundo disco reúne um total de nove temas, todos originais, de composição repartida entre Barriga e Prazeres.

Com o tema de abertura, “Cangalhada”, o trio afirma uma arrancada com toda a força, onde a cartada do rock é logo apresentada. Em “Salida de emergencia” a melodia vai evoluindo até que somos apanhados por interrupções bruscas – que primeiro soam a erro, depois percebemos que estão integradas e acabam por funcionar. Em contraste com a atmosfera enérgica, há também melancolia, que surge de forma mais assumida no tema “I always tell the truth”, com o saxofone a expressar sentimento por cima de um fundo contido. Em “Humans” regressa a locomotiva a toda a força; que contrasta com o seguinte “Ciclo”, mais esparso, atmosférico. E o disco fecha “De olhos fechados”, voltando a energia, aliada à excelente dinâmica colectiva, que vai evoluindo num registo experimental muito interessante que atravessa diferentes fases.

No texto de apresentação deste álbum o trio prometia revelar um lado mais experimental e “indie” do grupo. O grupo terá surgido por influência dos grupos Human Feel e Tyft (bandas que têm como elementos em comum Andrew D’Angelo e Jim Black), mas por aqui poderemos reconhecer ainda uma herança directa do jazz-rock de Zorn e, por vezes, a dinâmica do trio evoca o prog. Esta é uma música original, enérgica, criativa, viva. É jazz, mas não só. O jazz do século XXI atravessa fronteiras estéticas, vive de cruzamentos. A música dos Trisonte reflecte a urgência e diversidade do seu tempo.