Ao vivo: Amaro Freitas Trio em Oeiras

Texto e fotografia: Carla Guedes Pinto

O pianista revelação Amaro Freitas apresentou com o seu trio, no passado dia 30 de Abril, Dia Internacional do Jazz, o concerto onde reúne temas dos dois álbuns “Sangue Negro” (2016) e “Rasif” (2018), no Auditório Eunice Muñoz em Oeiras.

Amaro Freitas recebe-nos ao piano como um prelúdio do que se vai passar, um convite ao ambiente acústico da sua raiz nordestina, com sons e percussões retirados directamente das cordas do piano, vibrações e silêncios que nos conduzem neste início de viagem à sua essência cultural.

Já com o trio formado, com Hugo Medeiros (bateria) e Jean Elton (baixo acústico) Amaro Freitas apresenta-nos temas dos seus dois álbuns, sempre numa composição rítmica fortíssima, uma energia e generosidade, para um auditório infelizmente com pouco público.

A ligação que tem ao seu lugar de origem, Pernambuco revela-se logo no título do álbum, “Rasif”, uma analogia ao nome da sua cidade natal, Recife. Amaro Freitas parte dos ritmos locais, como o frevo e o coco para criar um jazz que confere em simultâneo uma forte raiz popular e espiritual.

Ao longo das várias intervenções que faz com o público, sempre de grande generosidade, simplicidade e simpatia, Amaro Freitas explica-nos a raiz das composições rítmicas, como no tema Trupé, que parte da sua observação do coco trupé da cidade de Arcoverde “onde se dança com sandália de madeira sobre um tablado”.

A ligação entre os músicos é natural ao longo de todo o concerto, com temas longos e de exigência interpretativa, percebe-se o envolvimento emocional e o virtuosismo que cada um impõe à música. Todos os instrumentos são usados como percussões, retirando deles sons de diferentes texturas e ritmos orgânicos.

Perfeita conjugação de ritmos afro-brasileiros, de uma criatividade longe de um brasil samba bossa-nova, mas perto de uma espiritualidade popular, de um lugar de natureza dura, telúrica mas fértil. Freitas representa o novo jazz brasileiro, dançante, criativo e experimental, mas ao mesmo tempo assente na tradição popular.