Disco: “I think I’m going to eat dessert” de Miguel Ângelo

Miguel Ângelo
“I think I’m going to eat dessert”
(Creative Sources, 2017)

Contrabaixista ligado à cena Porta-Jazz, Miguel Ângelo tem participado em alguns dos projectos mais interessantes do jazz nortenho contemporâneo, como o Ensemble Super Moderne, o quarteto MAP ou o Pedro Neves Trio (um dos melhores grupos do jazz nacional, que tem passado despercebido a quase toda a gente). Na qualidade de líder, Miguel Ângelo editou em 2013 o seu disco de estreia, “Branco”, e já em 2016 editou “A Vida de X”, momento de confirmação – ambos os discos gravados ao leme de um quarteto que inclui o saxofonista João Guimarães.

Agora, o contrabaixista aventura-se agora num projecto de contrabaixo solo. Se o formato solo já é arriscado para qualquer músico, mais ainda será para um instrumento com as características do contrabaixo, habitualmente remetido (e limitado) ao papel de acompanhamento rítmico. Não são muitos os casos de aventuras de contrabaixo a solo, e muito menos no panorama nacional. Recordamos os casos – já históricos – de “Solo Pictórico” de Carlos Barretto e de “Single” de Carlos Bica (edição da saudosa Bor Land). (…)

Texto completo no site Bodyspace:
http://bodyspace.net/discos/3241-i-think-i%E2%80%99m-going-to-eat-dessert/

Nasceu um novo colectivo: We Have Voice

Inspirado pelo movimento #MeToo, nasceu um novo colectivo artístico com o objectivo de alertar, sensibilizar e actuar contra o assédio sexual e a discriminação. O colectivo We Have Voice reúne um conjunto mulheres artistas, onde se incluem instrumentistas, compositoras e improvisadoras como Nicole Mitchell, Okkyung Lee, Tia Fuller ou a portuguesa Sara Serpa. O colectivo lançou uma “carta aberta” que foi disponibilizada no site do colectivo – wehavevoice.org – e que pode ser assinada online.

Disco: “Eudaimonia” de Luise Volkmann & Été Large

Luise Volkmann & Été Large
“Eudaimonia”
(Nwog Records, 2017)

Eudaimonia (do grego antigo: εὐδαιμονία) é um termo grego que literalmente significa “o estado de ser habitado por um bom daemon, um bom génio”, e, em geral, é traduzido como felicidade ou bem-estar. Sobre o título do disco é isto que vem descrito na Wikipédia, por isso vamos partir do princípio de que é verdade.

A flautista, saxofonista e compositora alemã Luise Volkmann é uma artista original. Já trabalhou com gente como Mia Zabelka, Nusch Werchowska, Devin Gray ou Satoko Fujii, entre outros. Agora, com esta formação Été Large aventura-se ao leme de uma espécie de big band que trabalha uma música originalíssima, num cruzamento entre o jazz moderno e a música contemporânea. Volkmann não se fixa num ponto geográfico: nasceu em Leipzig, trabalhando com músicos de Berlim, tem ligações com a Suécia, vive em Paris. E também musicalmente atravessa fronteiras.

O disco começa por exibir a qualidade da composição e dos arranjos, de alto nível de complexidade, música que se poderia enquadrar numa certa música contemporânea. Mas à medida que a música avança os sopros começam a ganhar vida própria, seguindo direcções diferentes, provocando o caos, soando ao free jazz mais incendiário. Contudo, perto do fim regressa a ordem. (…)

Texto completo no site Bodyspace:
http://bodyspace.net/discos/3240-eudaimonia/

Anouar Brahem leva “Blue Maqams” à Gulbenkian

O tunisino Anouar Brahem vai apresentar ao vivo na Gulbenkian o material do álbum “Blue Maqams“. Nesse álbum Brahem combina as tradições mediterrânicas com a linguagem do jazz, liderando um quarteto que junta o pianista inglês Django Bates e dois monstros do jazz contemporâneo: o contrabaixista Dave Holland e o baterista Jack DeJohnette. Editado pela ECM, este disco mereceu o aplauso da crítica e vem figurando em algumas listas de melhores do ano. O concerto terá lugar no dia 16 de Abril de 2018, às 21h00, e os bilhetes já estão à venda.

Novo programa sobre jazz português na Antena 1

A rádio Antena 1 vai acolher um novo programa sobre a história (e as estórias) do jazz português. Com apresentação do saxofonista Carlos Martins e do radialista António Macedo, o  programa “Sem Ensaio” vai receber vários convidados ligados ao jazz. Segundo a notícia do jornal Público, estão desde já confirmados vários convidados: João Barradas, Maria João, Ricardo Toscano, João Paulo Esteves da Silva e André Santos. O programa vai estrear a partir da meia-noite desta quinta-feira.

Culturgest anuncia primeiro trimestre de 2018

 Joana Guerra

A Culturgest acaba de apresentar a programação para o primeiro trimestre de 2018. Seguindo ainda a linha de programação de Miguel Lobo Antunes, que definiu a marca Culturgest ao longo de mais de dez anos e foi recentemente substituído por Mark Deputter, o programa continua a reflectir a diversidade das músicas contemporâneas.

Nos campos do jazz e da improvisação a Culturgest apresenta um programa rico e diverso: Huntsville (excelente trio norueguês experimental, 12 Janeiro); Ricardo Toscano Quarteto (estreia no Grande Auditório, 27 Janeiro); Home (grupo liderado por João Barradas, 2 Fevereiro); Carlos Bica / Daniel Erdmann / DJ Illvibe (novo trio em estreia nacional, 2 Março); e Hang ‘Em High (trio de Bond, Lucien Dubuis e Alfred Vogel, 17 Março).

Um dos pontos altos do primeiro trimestre é a 11ª edição do festival Rescaldo, que se realiza entre 16 e 24 de Fevereiro. O festival que promove os projectos musicais mais exploratórios vai acolher as actuações de: Maria da Rocha, Diana Combo + Rafael Toral + Pedro Centeno, Joana Guerra, Harmonies, Joana Gama, Vítor Rua & The Metaphysical Angels, Citizen:Kane & Hobo, Mmmooonnnooo + Quim Albergaria, EITR + Gabriel Ferrandini, Farwarmth e 10.000 Russos + Jonathan Uliel Saldanha.

Disco: “From Sun Ra to Donald Trump” de FCT

FCT
“From Sun Ra to Donald Trump”
(Clean Feed, 2017)

O acrónimo FCT significa Francesco Cusa Trio. O italiano Cusa (Catania, 1966) é baterista e neste seu trio conta com a companhia de Simone Graziano (piano) e Gabrielle Evangelista (contrabaixo). Neste disco em particular o trio do baterista italiano conta ainda com a colaboração do saxofonista Carlo Atti. O título do disco é desde logo curioso e desperta a curiosidade sobre a música. Também os títulos dos temas são dignos de registo: “Adam Smith counts every penny”; “Deficit in the economy of the black jazzman in the sixties”; “Fiscal regime in the life of the New York taxidriver-jazzman” (e estes são só alguns).

Se os títulos são irónicos e provocadores, a música é mais conservadora. O quarteto desenvolve um jazz sério, sólido, bem, estruturado. O líder baterista Francesco Cusa mantém a estabilidade rítmica; o contrabaixo de Evangelista exibe solidez; e o piano de Graziano sabe combinar a estrutura e a imaginação. Já o saxofone de Carlo Atti, apesar de surgir como convidado externo, acaba por se revelar a estrela da companhia, principal dinamizador neste contexto. O disco arranca com o contrabaixo em destaque, seguido de apontamentos da bateria. Entra depois o piano, tranquilamente. Logo depois chega o saxofone tenor de Atti que, dali a pouco, já estará a ziguezaguear, desbravando o caminho. É assim o início do disco, que rapidamente conquista pela sua plasticidade, um jazz moderno, aberto e acessível.

Texto completo no site Bodyspace:
http://bodyspace.net/discos/3238-from-sun-ra-to-donald-trump/

3 Discos? A escolha de Lucía Martínez

Lucía Martínez [Fotografia: Esther Cidoncha]

Natural da Galiza, Lucía Martinez é uma criativa percussionista, compositora e improvisadora. Passou pelo Porto e por Berlim e dinamiza vários projectos musicais: Lucía Martínez Cuarteto, MBM Trio (com Baldo Martínez e Antonio Bravo), Berliner Project Azulcielo e duo Desalambrado (com Agustí Fernández). É actualmente directora artística do Imaxinasons – Festival de Jazz de Vigo. Estas são as suas escolhas.

“A escolha de discos preferidos é sempre algo muito difícil para uma pessoa que vive ao redor da música, os discos formam parte das nossas vidas, dos nossos amores (ou desamores), do nosso subconsciente e até do nosso mobiliário. Mas, pronto, perante o convite tinha mesmo de pensar qual seria, no dia de hoje (em cada dia seria diferente) a minha selecção. Se jazz ou clássica ou pop… hoje esquecemos as etiquetas, são simplesmente discos. Nesta ocasião a escolha está feita pelo coração, noutra altura da minha vida seria feita com outros critérios. Aqui vão os porquês.”

  

Astor Piazzola / Horacio Ferrer – “María de Buenos Aires”
(Trova, 1968)
“Cheguei a esta gravação quando era uma adolescente em busca de discos para me “alimentarem”. O meu amigo Paulo, que é um par de anos mais velho do que eu, deu-me este disco. O Paulo era já nesses tempos um grande estudioso da música, de todas as músicas, um filósofo, compositor e escritor. Ele falou-me, entre outras coisas, da escola de Nadia Boulanger, em Paris. Falou-me de grandes compositores do século XX que estudaram em Paris com ela. E Piazolla foi também foi um desses compositores que passou por Paris para estudar com a  Nadia (e acho que foi também amante dela!). O caso é que esta grande pedagoga (além de compositora, organista, intelectual, etc.) à chegada de Piazzola, e ao ver esse grande talento que tinha para escrever tangos e o grande conhecimento da sua música argentina, recomendou-lhe aprofundar a “sua” música que era o tango, para chegar ao fundo da sua tradição e encontrar caminhos novos; compor tangos seria a trabalho da sua vida. Tanto é que assim mudou a história da música tango. Esta conversa que tive com o Paulo, ja há mais de 20 anos, mudou a minha vida, fez-me ser uma pessoa com orgulho de ter nascido num lugar onde a música tradicional é tão importante e inspira (digo com toda a modéstia do mundo) ainda hoje, este meu gosto de incluir músicas tradicionais ou folclóricas nos meus trabalhos. Indiferentemente do estilo, o espírito é esse. Nesta gravação, Piazzola toca e Horacio Ferrer recita. A selecção dos músicos e da cantora (a diva de Piazzola, que fez inúmeras gravações com ele) é muito minuciosa. Gravação muito inspiradora e bonita. Grande disco, grande compositor e grande interpretação.”

Keith Jarrett – “The Köln Concert”
(ECM, 1975)
“O “vinil branco” da casa da minha tia. Quando eu ia visitar a minha avó, era o momento de escolher discos e ouvir. Ali descobri coisas maravilhosas. A minha tia que também vivia nessa casa é uma grande melómana  e tinha tudo o que era imaginável. Um dia vi um disco de vinil branco, completamente branco. Pareceu-me tão bonito por fora que imaginava que estava dentro deveria ser muito bonito. Desde aquele dia esse disco deu tantas voltas… São estas “casualidades” na infância que marcam para toda a vida. Que bom foi ter uma infância com tanta música. Tenho que dizer que, sem o saber, foi o meu primeiro disco de jazz. Nesses tempos, eu ainda disfrutava da música “sem etiquetas” de estilos.”

Paco de Lucía – “Entre Dos Aguas”
(Philips, 1975)
“Eu não sou uma grande seguidora do flamenco, mas há coisas que são extraordinariamente fantásticas. Uma delas é este disco. Curiosamente, é um disco que sempre me acompanhou nas viagens e que ainda me acompanha. Paco de Lucía fez uma música extraordinária; a sua maneira de tocar, a intensidade, a direcção da música e todo o talento que desbordam das suas gravações. Esta especialmente. É uma compilação, mas nesta gravação está já a história moderna do flamenco. Muito inspiradora.”

Disco: “Fragments of Always” de José Lencastre Nau Quartet

José Lencastre Nau Quartet
“Fragments of Always”
(FMR, 2017)

Para aquele que será o seu projecto de assinatura mais pessoal, o saxofonista e improvisador reuniu um quarteto de luxo com alguns dos mais notáveis improvisadores nacionais. Na bateria está João Lencastre, seu irmão, baterista e compositor de créditos firmados com uma discografia sólida ao leme do grupo Communion, que também acaba de editar o disco “Movements In Freedom” (Clean Feed). No piano está Rodrigo Pinheiro, pianista do celebrado RED Trio, membro dos grupos Earnear e Clocks and Clouds, e que este ano participou como convidado no concerto Life and Other Transient Storms no Jazz em Agosto (melhor concerto do festival, um dos melhores concertos do ano). No contrabaixo está Hernâni Faustino, também do RED Trio e membro dos grupos Falaise, Rodrigo Amado Wire Quartet, Staub Quartet, Vítor Rua & The Metaphysical Angels, Elliott Levin’s Lisbon Connection e Nobuyasu Furuya Trio, entre outros. Todos músicos experientes e com trabalho rico no mundo da improvisação, portanto. (…)

Texto completo no site Bodyspace:
http://bodyspace.net/discos/3237-fragments-of-always/

Gonçalo Almeida a solo na SMUP

Antecipando a consoada, Gonçalo Almeida vai apresentar um concerto a solo na SMUP (Parede), no dia 23 de Dezembro. O versátil contrabaixista português reside actualmente em Roterdão e integra os grupos LAMA, Albatre, Tetterapadequ e Spinifex, entre outras parcerias e colaborações. Na SMUP irá apresentar-se sozinho em palco, acompanhado apenas pelo seu contrabaixo. O concerto tem início marcado para as 22h00 e a entrada vale 4€.

https://cylinderecordings.bandcamp.com/track/monologue