The Rite of Trio em Nova Iorque

O grupo portuense The Rite of Trio actuou em Nova Iorque no mês passado, num concerto organizado pela Associação Jazz’Aqui em parceria com o Arte Institute. O concerto teve lugar no dia 16 de Setembro no Joe’s Pub at The Public e a actuação do trio português deixou boas memórias.

Pedro Moura Alves, do Jazz’Aqui, conta a sua perspectiva do concerto: “Os músicos apresentaram-se em palco com um som poderoso, ao mesmo tempo melancólico e único, que nos faz ficar agarrado à cadeira em cada nota,  sempre à espera de uma nova surpresa, tal é o bouquet de estilos que nos presenteiam em cada tema deste Jambacore – como os próprios músicos o definem.  O concerto terminou com a participação de uma convidada surpresa, Aubrey Johnson, que presenteou o público com a sua voz de tal forma cativante e entrosada com a música interpretada, que nos fez pensar que tal conexão com os The Rite of Trio já era fruto de uma longa colaboração. Se tal não era verdade, uma vez que os músicos se conheceram nesse mesmo dia, o fruto desta colaboração tem pernas para andar. O público presente, embora não preenchendo a totalidade do espaço, participou de forma activa no concerto, partilhando o entusiasmo da organização e dos músicos. A garra, e o carácter único deste som, arrebatou o público, que foi soltando uns sons e uns risos descontrolados de descompressão de quando em vez, após cada mudança tanto a nível de estilo como ao volume de som que os The Rite of Trio emanava do palco. No final do concerto houve ainda tempo para os presentes conversarem com os músicos, dando o seu feedback, que foi deveras positivo.”

Os membros do grupo – Pedro Melo Alves (bateria),  Filipe Louro (contrabaixo) e André Bastos Silva (guitarra) – relatam assim a experiência nova-iorquina: “Não podíamos deixar de começar esta pequena nota com um enorme agradecimento à Jazz’Aqui e ao Pedro Moura Alves. Tudo decorreu com a maior das tranquilidades, sentimos que houve sempre uma atenção especial para que do nosso lado tudo estivesse impecável e resolvido de forma ponderada e antecipada. Uma acção que poderá ser comparada a um pesadelo logístico para uma equipa pequena, deixou-nos com a ideia de que de facto estamos a lidar com uma das produções mais atenciosas e responsáveis com que já tivemos a oportunidade de trabalhar no mundo das artes. Penso que todos sentimos nestes últimos dias o quão frustrante é a tentativa de colocar por palavras aquilo que vivemos em Nova Iorque. Familiares e amigos estão sedentos por algo a que se agarrar mas dificilmente conseguem mais do que um sorriso e um brilho nos olhos. De facto, ir a Nova Iorque não é só ir a Nova Iorque, é uma peça importantíssima no puzzle cultural da nossa existência. Só quando lá chegamos é que nos apercebemos que de uma forma ou de outra há anos e anos que vivemos naquele mundo, há anos e anos que ele faz parte de nós. Provavelmente nenhum outro sítio no mundo será um poço de influência tão grande na nossa cultura (e na arte que desenvolvemos e praticamos) como Nova Iorque e há um momento de maior deslumbramento e êxtase em que quase somos acreditar que há a séria possibilidade de esbarrarmos com o Charlie Parker ou com o Bruce Willis (de facto esbarrámos com o Christian Scott e com o Peter Bernstein). Todo este ambiente fez-nos sentir inspirados para o concerto no Joe’s Pub e guardamo-lo como um momento especial para nós e para o público. A participação da fantástica Aubrey Johnson num dos nossos temas foi também um momento alto (vai lançar o álbum de estreia no próximo ano pela Inner Circle Music e foi-nos recomendada pela Sara Serpa), criámos com ela uma ligação que pode vir a traduzir-se em novas e diferentes colaborações. Obrigações profissionais à parte, o nosso amor por percorrer cidades novas a pé exprimiu-se na sua magnitude total. Corremos Manhattan de “costa a costa” e a ligação que se cria com este contacto prolongado entre nós e a cidade é o tipo de coisas que trazemos para casa e para as décadas vindouras. Pelo meio assistimos ao concerto do Antonio Sanchez 4tet no The Jazz Standard e ao do Ari Hoenig 4tet no Smalls, dois momentos que colocam tudo aquilo que achamos que somos em perspectiva, e isso só pode ser óptimo. Os desejos do maior sucesso à Jazz’Aqui e que muitas mais iniciativas destas se repitam. Os nossos agradecimentos vão também para a Ana Miranda do Arte Institute e para a Carla Gomes pela estadia.”