Discos: “Off the Ground” + “Trippeiros”

Demian Cabaud
“Off the Ground”
(Robalo, 2016)

Leo Genovese Trio
“Trippeiros”
(Carimbo Porta-Jazz, 2017)

Nascido na Argentina, o contrabaixista Demian Cabaud está estabelecido em Portugal há vários anos. Integra a Orquestra Jazz de Matosinhos, colabora com vários músicos e formações nacionais e chega agora ao seu quinto disco na condição de líder. Também oriundo da Argentina, o pianista Leo Genovese, residente em Nova Iorque e parceiro de Cabaud há largos anos, aproveitou uma passagem pelo Porto para gravar um disco que é agora editado pela Porta-Jazz. Cabaud e Genovese são parceiros de longa data e vêm agora os seus caminhos novamente a cruzarem-se com a edição quase simultânea destes dois discos onde ambos participam.

Demian Cabaud vem sedimentando uma carreira que arrancou com a edição de “Naranja” (edição Tone of a Pitch, 2008) e neste seu disco Cabaud já não tem nada a provar. Acompanhado por Leo Genovese no piano (que tocou no seu disco de estreia) e Jeff Williams na bateria, Cabaud apresenta agora aquele que será o seu projecto mais pessoal até ao momento. “Off the Ground” é dedicado ao pai (o piloto que aparece na capa do disco), pelo que é natural que a música seja pontuada por momentos de maior emoção.

O disco reúne um conjunto de seis temas originais, composições de Cabaud que são exploradas longamente, abrindo espaço para a criatividade instrumental. Um dos temas mais simbólicos será a terceira faixa, “Final del juego”, com o tempo arrastado a permitir o trio expressar mais emotividade. “Bonsoir” é outro momento de maior nostalgia, carregada por um lirismo à Bill Evans. Mas este disco não é só sentimento: a faixa seguinte, “Mimu”, contrasta pelo seu fulgor enérgico, pelo vigor e intensidade. Instrumentalmente, Cabaud não surpreende: exibe tranquilamente o seu som irrepreensível, mostra imaginação a solar.

O pianista Leo Genovese tem feito carreira a acompanhar a popular Esperanza Spalding, tocando ainda com nomes lendários como Jack DeJohnette ou Joe Lovano. Esta gravação regista a actuação que o seu trio apresentou no Porto, no âmbito da tour europeia realizada em 2016. A acompanhar o pianista estão Cabaud no contrabaixo e o cubano Francisco Mela na bateria. A música de “Trippeiros” (título engraçado) é globalmente mais expansiva do que o trio de Cabaud: Genovese atira-se ao groove, a ritmos sul-americanos.

Esta é uma música mais quente, com mais ênfase na energia. Mas o trio também mostra a sua versatilidade: abranda em “Signs of Transcendence”, num registo intimista, pausado; no tema seguinte, “Reflections” acelera num ritmo vertiginoso. Não sendo um tomo fundamental no percurso de Genovese, é um momento de grande simbolismo para a Porta-Jazz, que aqui soma à sua crescente discografia o registo de um músico com peso internacional.

Setembro no Hot Clube

João Paulo Esteves da Silva [Fotografia: Vitorino Coragem]

O Hot Clube de Portugal já apresentou a programação para o mês de Setembro de 2017 (e início de Outubro). O velho clube lisboeta, que estará fechado entre os dias 10 e 21 de Setembro, vai apresentar: Abe Rábade Trio, Barros Veloso & Bernardo Moreira (com o guitarrista convidado André Santos), Travis Reuter / João Guimarães Quartet, um novo super-grupo chamado “Baltazar” (Gonçalo Marques, José Pedro Coelho, João Guimarães, Demian Cabaud e Marcos Cavaleiro) e o quarteto Cine Qua Non (Paula Sousa, Afonso Pais, João Paulo Esteves da Silva e Mário Franco). Durante o mês de Setembro as “jam sessions” (sempre às terças, entrada gratuita) continuam a ser coordenadas pelo contrabaixista Romeu Tristão.

Programa completo [PDF]

Sérgio Carolino: Supertuba

O virtuoso Sérgio Carolino (n. 1973, Alcobaça) não só se tem afirmado como extraordinário instrumentista, um dos mais importantes intérpretes da tuba a nível mundial, como vem desenvolvendo parcerias com músicos distintos, em áreas estilísticas afastadas, o que confirma a sua larga amplitude estética. Dos múltiplos projectos onde está envolvido, destacam-se o trio TGB (com Mário Delgado e Alexandre Frazão), o duo com o baterista Jorge Queijo (Tubab), o Tuba & Drums Double Duo (actuou no Jazz em Agosto 2016) ou o disco em duo com o acordeonista João Barradas (o excelente “Surrealistic Discussion”). Entre o final no ano passado e o início deste 2017 Carolino editou meia dúzia de discos novos que voltam a confirmar o seu ecletismo, a sua técnica extraordinária e a óptima capacidade de adaptação a diferentes contextos musicais.
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Discos de Verão: The Nada

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The Nada
“The Nada”
(Carimbo Porta-Jazz, 2017)

Os The Nada são quatro e vêm do sempre profícuo Carimbo Porta-Jazz. No saxofone está João Guimarães, músico virtuoso e versátil, líder do octeto que editou o excelente disco “Zero”, integrou os Fail Better! (no óptimo disco de estreia) e faz parte, entre outros, da Orquestra Jazz de Matosinhos, do quarteto de Miguel Ângelo e dos Hitchpop (concerto memorável no Milhões de Festa 2015). No baixo está Simon Jermyn, irlandês residente em Nova Iorque, elemento decisivo – foi aquando da sua visita a Portugal que o grupo se juntou. O grupo completa-se com a guitarra elétrica de Eurico Costa e a bateria José Marrucho – ambos com currículo vasto no catálogo Porta-Jazz. O quarteto pratica uma música aberta, um jazz eléctrico moderno com espaço amplo para a improvisação. Daí nasce uma música fresca, que combina toadas atmosféricas com fraseados claros, sempre com a eletricidade ligada. Há um desfile de ideias, energia e tensão, sem descarrilar, em equilíbrio. Da Porta-Jazz tem chegado uma torrente de música original, redefinindo e alargando o conceito do jazz contemporâneo Made In Portugal. O jazz original dos The Nada não funciona só como música para o verão, como, num mundo ideal – sem festas “sunset” nem “chillout” – seria o acompanhamento perfeito para aquele mojito na borda da piscina com o insuflável flamingo rosa em fundo.

Artigo completo no site Bodyspace.net:
http://bodyspace.net/artigos/300-discos-de-verao-2017/

O Eixo do Jazz apresenta-se

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Acaba de nascer e começou a aparecer sorrateiramente no Facebook. O Eixo do Jazz – Associação Luso-Galaica para a Promoção do Jazz promete promover a divulgação do jazz e já organizou um primeiro evento, um concerto do Quarteto Eixo do Jazz no passado dia 6 de Agosto. Representada por Amadeu A. Portilha, Suzana Costa, Cristiana Morais e Cristina Marvão, a associação apresenta-se.

O que é O Eixo do Jazz?
O Eixo do Jazz não é uma associação de músicos, é uma associação formada por várias pessoas interessadas no estilo musical, que decidiram ajudar os músicos de jazz a melhorar as condições da sua actividade profissional e consequentemente a aumentar o numero de vezes que o jazz se faz ouvir. Surgiu de várias conversas entre amigos, músicos e outras pessoas envolvidas no meio.

Quem são as pessoas/músicos envolvidas?
Há poucos músicos envolvidos para já. O grupo de trabalho neste momento é constituído por profissionais de áreas que podem ajudar os músicos, tais como advogados, produtores, gestores, consultores financeiros, directores de escolas de música, agentes, técnicos de som. Uns portugueses, outros galegos. Continue reading “O Eixo do Jazz apresenta-se”

Ao Vivo: Jazz em Agosto 2017


Life and Other Transient Storms [Fotografia: Petra Cvelbar]

O festival da Gulbenkian voltou a apresentar um cartaz ecléctico, expondo a larga amplitude estética que caracteriza o jazz do nosso tempo. Este ano confirmou-se igualmente que está encontrado o seu melhor modelo de funcionamento, depois de várias experiências diferentes:  10 dias seguidos de concertos, todos dentro da própria Fundação. Em Lisboa, em Agosto e com música que não é fácil, tem conseguido ter plateias generosas em todos os concertos, mesmo os que acontecem durante os dias úteis da semana. Agora que mais um Jazz em Agosto está cumprido, fica a noção de que os muitos lugares ocupados são o reconhecimento da coerência de uma linha de programação que continua a arriscar em música variada e sem dogmas fronteiriços.

Reportagem, escrita a meias com Gonçalo Falcão, no site Jazz.pt:
http://jazz.pt/report/2017/08/08/sem-dogmas/

Lee Konitz vai ao SeixalJazz

A edição 2017 do SeixalJazz vai realizar-se entre os dias 19 a 28 de outubro. O festival irá apresentar uma lenda histórica, o veteraníssimo Lee Konitz, jovens talentos nacionais e nomes fortes internacionais. Aqui fica o programa completo: Wolfgang Muthspiel Quintet (dia 19), Slow Is Possible (20), Michaël Attias Quartet (21), João Barradas Quinteto (26), Dominique Pifarély Quartet (27) e Lee Konitz Quartet (28). Todos os concertos terão lugar no Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal e os bilhetes estarão à venda no início de setembro.

Culturgest revela programa até final do ano

Luís Barrigas

A Culturgest acaba de apresentar a programação até ao final de 2017. Como sempre, o programa inclui muito jazz e improvisação, especialmente com os ciclos “Jazz +351” (dedicado ao jazz nacional) e “Isto é Jazz?” (dedicado a projectos situados nas margens do jazz e da improvisação), ambos programados por Pedro Costa. Do programa revelado destacam-se os seguintes espectáculos: Noberto Lobo (grande auditório, 16 Setembro); Luís Barrigas (“Jazz +351”, 22 Setembro); Kaja Draksler Octet (“Isto é Jazz?”, 29 Setembro); Oker (“Isto é Jazz?”, 3 Outubro); Beatriz Pessoa (“Jazz +351”, 17 Novembro); Seckou Keita (grande auditório, 30 Novembro); e Akosh /  Benjamin Duboc (“Isto é Jazz?”, 2 Dezembro). Todos os concertos começam às 21h30.

Porta-Jazz ao relento

The Nada [Eurico Costa, Simon Jermyn, João Guimarães e José Marrucho]

Durante o mês de Agosto a Associação Porta-Jazz promove o ciclo “Porta-Jazz ao relento”, apresentando concertos sempre aos sábados, às 22h. Os concertos têm lugar nos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto, e levam a palco alguns dos projectos interessantes do novo jazz portuense: João Mortágua (dia 5), Mariana Vergueiro (dia 12), João Paulo Rosado (dia 19) e The Nada (dia 26). Todos os concertos têm entrada livre.